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O Governo pode estar acabando com o Regime de Imposto Presumido

 

Achei que seria oportuno abordar o tema do Projeto de Lei que o Governo enviou ao Congresso para promover alterações no imposto de renda.

O foco da nossa abordagem é o que consta nas páginas 9, 10 e 11 do referido Projeto que trata da modificação da tributação do Imposto Presumido e Simples.

É de conhecimento de todos que a Lei nº 9.249, de 1995 permite a distribuição do lucro aos sócios, isenta de tributação até pela totalidade do lucro contábil.

Dessa forma, a empresa pode distribuir todo lucro aos sócios livre de tributação. Todavia, o lucro contábil pode ser SUPERIOR ao lucro presumido.

Exemplo: uma empresa de comércio paga 15% de IR sobre 8% de lucro presumido, ou 1,2% sobre o faturamento. Assim, se uma empresa comercial fatura R$ 100,00 ela vai pagar R$ 1,20 de IR.

Todavia, se o lucro real dessa empresa foi de, digamos 20%, os 12% de lucro adicional ao presumido (diferença entre os 8% e os 20%) não paga IR nem por parte da empresa e nem por parte dos sócios.

O que o Governo pretende com o PL é tributar com a alíquota de 15% também esta parcela que atualmente não é oferecida à tributação por ninguém, nem pelo gerador do lucro (empresa) nem pelo beneficiário (sócios).

Se o PL for aprovado, na prática o “Lucro Presumido” deixa de existir, já que a empresa será tributada pelo “Lucro Presumido” ao longo do ano e pela diferença entre este e o “Lucro Contábil ou Real” no fim do ano... espertinho esse governo...

Aliás, a palavra mais adequada não seria bem “espertinho”, mas “indecoroso”, porque o regime tributário baseado no “lucro presumido”, é uma aposta que o Governo e os empresários fazem num jogo de ganha ou perde. E, nesse caso, só a empresa pode perder... assim não vale... rsss.

Mais: é um jogo de cartas marcadas pelo Governo, porque raramente uma empresa comercial que atue num ambiente altamente competitivo e recessivo como o atual, consegue ter um lucro de 8% sobre vendas e o mesmo se dá com as empresas prestadoras de serviços. Dificilmente alguma consegue ter 32% de lucro sobre vendas.

Então, ao estabelecer esses parâmetros, o Governo tinha plena convicção que se alguma empresa conseguisse a façanha de ter um lucro maior que os parâmetros estabelecidos, o que ela eventualmente poderia ganhar deixando de pagar de IR sobre o excesso de lucro, seria mais do que compensado com o imposto pago indevidamente pela maioria das empresas que não iriam conseguir auferir aquelas margens de lucro.

Ao mudar a regra, o Governo ganha sempre e a empresa corre o risco de pagar IR mesmo tendo prejuízo. Um absurdo total.

Mas, a meu ver, o que o Governo está buscando com esse PL não é exatamente tributar aquelas eventuais e pouquíssimas empresas comerciais que conseguem auferir, de fato, um lucrinho adicional aos 8%, ou aos 32% se for de serviços. Até porque o Governo sabe muito bem que a maioria das empresas optantes do Lucro Presumido não tem essa margem e muitas acabam até mesmo pagando imposto sobre prejuízo...

Por isso, imagino que o Governo esteja buscando tributar aquelas empresas que pertencem a um grupo econômico e que fizeram o tal do “planejamento tributário” para jogar despesas da empresa que paga pelo Lucro Presumido numa empresa que paga pelo Lucro Real para “aliviar” o IR desta. E, assim poder distribuir polpudos lucros da empresa de lucro presumido aos sócios, sendo que a parte excedente dos parâmetros de 8% ou 32%, ficaria livre de qualquer tributação.

Por ouro lado, com a aprovação desse PL o Governo não precisará mais se preocupar em fiscalizar as empresas que fizeram o “Planejamento Tributário”, pois automaticamente ele já estará tributando o excesso de lucro das que optaram pelo “lucro presumido”...

Todavia, enquanto não for aprovado o PL e, se aprovado, até que ele entre em vigor no próximo ou nos próximos anos, o Governo deverá “cair matando” em cima das empresas que pagam pelo “Lucro Presumido” e que tenham uma margem de lucro contábil superior aos 8% (empresa comercial) ou 32% (empresa de serviços).

Não é mais segredo para ninguém que como o Governo tem acesso a todas as receitas e despesas de cada CNPJ, através da Nota Fiscal Eletrônica, dos diversos SPEDs, do acesso à movimentação bancária, etc., um singelo algoritmo nos programas da Receita é suficiente para separar as empresas cujo “Lucro Efetivo” é maior que o “Lucro Presumido”.

Exemplo superficial de um algoritmo simples para apuração da margem entre Receita e Despesa de uma empresa de comércio: “se (R-D)/R < 0,08 = 0; se >, = 1”. Pronto, todos os CNPJs de empresas comerciais que pagam pelo lucro presumido e que apresentarem um lucro superior a 8% serão separadas automaticamente para investigação.

Com isso, os grupos que fizeram o tal do “Planejamento Tributário” jogando despesas numa empresa que paga pelo Lucro Real e esvaziando as despesas da empresa que paga pelo Lucro Presumido para inflar os lucros desta para distribuir o excedente não tributado aos sócios, serão automaticamente detectadas e serão “convidadas a explicar” a razão do seu enorme sucesso comercial, a ponto de ter uma margem de lucro tão alta numa atividade tão competitiva e num momento que as empresas, como um todo, estão tendo prejuízo.

Diante desse cenário, seria conveniente as empresas que fizeram o tal do “planejamento tributário” do grupo repensarem esse “planejamento” para evitar alguma surpresa já com a entrega do balanço no final do ano.

Os riscos são muito grandes, porque o governo não está mais brincando. O Secretário da Receita diz que multas por fraude e sonegação do IR devem ir a R$ 6 bilhões neste ano.

Todos nós sabemos que o Governo está desesperado para aumentar a receita e vem aumentando as alíquotas de vários impostos.

Desde 1º de janeiro, o governo passou a cobrar a alíquota de 25% de Imposto de Renda (IR) sobre remessas ao exterior para o pagamento de serviços para gastos pessoais. Até o fim do ano passado, a cobrança era isenta.

O IOF sobre compras com cartão de crédito no exterior aumentou para 6,38%. Um decreto presidencial elevou na semana passada de 0,38% para 1,1% a alíquota do IOF cobrado na aquisição das moedas estrangeiras pelos viajantes.

Agora, o alvo também é a cognominada “Bolsa Empresário” que inclui subsídios, desonerações e regimes tributários diferenciados para toda sorte de setores como portos, indústrias químicas, empresas de petróleo, fabricantes de equipamentos de energia eólica e até o agronegócio. A agricultura quase não paga Previdência e impostos, porque a maioria dos produtores, até os que faturam bilhões, acabam sendo enquadrados como pessoa física, e não jurídica.

Segundo cálculos efetuados por algumas instituições, o “Bolsa Empresário” chega a R$ 270 bilhões neste ano e pode ser revisto por Temer.

Em bom português, o “Governo está matando cachorro à grito” para ver se consegue se salvar de alguma maneira, já que a Dívida Pública Federal está aumentando à razão de R$ 2 bilhões por dia, faça sol, chuva ou calor, incluindo aí os sábados, domingos e feriados... e cortar despesas é muito difícil para não dizer que é praticamente impossível.

Mais, os ‘esqueletos’ que serão deixados pelo governo Dilma podem passar de R$ 250 bilhões, sendo R$ 100 bilhões de déficit e mais R$ 150 bilhões para capitalização de estatais que foram sangradas no seu Governo, como a Petrobrás, a Caixa Econômica Federal (R$ 40 bilhões) e que sem essa capitalização poderão quebrar. Mas, há quem acredite que quando tudo ficar a descoberto a conta poderá chegar a R$ 360 bi.

Em relatório, a agência de classificação de risco Moody’s estimou que, no pior cenário, a conta vai chegar a R$ 600 bilhões, incluindo aí as perdas na negociação da dívida dos Estados e em fundos públicos.

A situação é crítica e o governo vai precisar de sim ou sim, ir atrás de aumentar da receita, porque reduzir as despesas vai ser muito complicado politicamente: os sindicatos e as organizações ditas sociais não vão deixar fazer isso com facilidade.

Então, é melhor se cuidar. E, se precisar de ajuda, estamos à disposição. Afinal, consultoria é para isso mesmo: ajudar as empresas a resolverem problemas não usuais.

 

 

Prof. Faccin
 

 
 
 
 
 

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