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Uma dica para sobreviver a essa crise absurda que se abateu sobre o Brasil

 

Uma dica para sobreviver a essa crise absurda que se abateu sobre o Brasil

Essa crise econômica pela qual o Brasil está passando infelizmente não vai terminar tão cedo, porque ela é efeito de inúmeras causas de solução morosa e difícil.

E, como a solução dela não está ao alcance das nossas mãos, o melhor a fazer neste momento, para não corrermos o risco de sucumbirmos junto com ela, é DURANTE O HORÁRIO DE EXPEDIENTE, deixarmos de lado o Sérgio Moro, a Lava jato, o Presidente Temer, o Lula, a JBS, as delações premiadas e toda essa novela de mau gosto que se desenrola em Brasília e Curitiba e concentrar todas as energias exclusivamente na tentativa de aumentar as vendas e de reduzir os custos.

Fora do horário de expediente, se pudermos e tivermos poder para tal, poderemos e deveremos exercer as nossas responsabilidades de cidadãos. Mas, no horário de expediente, precisamos nos concentrar no trabalho.

Eu vou contar para você a técnica que eu usei no início dos anos 1980 quando fui destacado para reativar as vendas, cobrar os clientes inadimplentes e manter funcionando a filial argentina da empresa para a qual eu trabalhava. Espero que essa história que é verídica possa de alguma forma lhe ser útil.

Assim como no Brasil, naquela época, a Argentina ainda era governada por uma Junta Militar. O desânimo dos argentinos era generalizado com a recessão e com o regime militar. Não se falava outra coisa a não ser na crise econômica pela qual a Argentina passava e no problema político-militar.

Os problemas, de fato, eram sérios, mas como os argentinos, em geral, são dramáticos por natureza, eles transformavam o mínimo contratempo num dramalhão terrível; uma choradeira danada; um verdadeiro tango sofrido do tipo “Aquella maldita, desgraciada que me traicionó”... e, iam por aí afora. O problema é que, absorto no problemão que criavam na mente, eles deixavam tudo de lado e viviam esse drama 24 horas por dia.

Então quando eu ia visitar um cliente para vender ou cobrar, não conseguia falar de negócios, porque logo ele começava com aquela choradeira sobre a situação econômica caótica do país, que não havia dinheiro na praça, que ninguém comprava, que ninguém vendia, ou seja, que o mundo estava acabando...

Nesse ambiente, obviamente, não havia clima para negócios. Se você bobeasse, acabava chorando junto com ele... aliás, isso é o que acabava acontecendo com alguns dos meus vendedores... rsss... Eles acabavam “comprando” os problemas dos clientes e não vendiam e nem cobravam... e ainda por cima tentavam vender a ideia para a empresa de que era impossível fazer negócios na Argentina, naqueles dias.

Diante desse quadro eu só tinha duas alternativas, ou recomendava à matriz o fechamento da filial argentina e retornava ao Brasil, ou tentava fazer alguma coisa para recuperar o dinheiro dos clientes inadimplentes, incrementar as vendas e manter a empresa funcionando.

Como nessa época eu era jovem, impetuoso, do tipo que não aceita perder de jeito nenhum, só de pensar na possibilidade de recomendar à matriz o fechamento da filial já era um fardo pesado demais para mim. Seria um fracasso enorme para o meu ego carregar pelo resto da vida.

Então eu tive uma ideia. Como os portenhos, argentinos de Buenos Aires, são pessoas muito fáceis de se relacionar, mais ou menos como os cariocas que brincam e também aceitam brincadeira, eu comprei UM PEDAÇO DE PANO GRANDE e o dobrei na forma de um LENÇO ENORME.

Coloquei o “lenção” dobradinho no bolso e fui visitar os clientes para vender ou cobrar. Invariavelmente, depois das formalidades de praxe do início da entrevista, o cliente começava com aquela ladainha de problemas político-econômicos já conhecidos.

Eu os deixava choramingar um pouco. Mas, só um pouco. Porque se não interrompesse rápido aquela comiseração, aquilo não teria fim e não iríamos ter tempo e nem ânimo para falar de negócios.

Então, depois de ouvir no máximo um minuto de choro, eu puxava o lenção do bolso, que se desenrolava num pano grande, e com um sorriso amistoso oferecia para ele.

Surpreso e sem o perceber, ele interrompia imediatamente seu discurso de autopiedade e perguntava o que era aquilo. Eu dizia com um ar sorridente e amistoso: é um lenço para você enxugar as lágrimas, para depois a gente poder começar a falar de negócios...

Impactado pelo fato inusitado e sem saber o que fazer e mesmo meio sem jeito, ele começava a rir também da minha atitude estranha, aceitava a brincadeira, se descontraia e, obtendo a atenção dele, a partir daí eu começava o meu trabalho de vendas ou cobrança.

E, a cada vez que ele ameaçava ter uma recaída para falar de política ou de economia, eu mostrava o lenção, ríamos e continuávamos falando de negócios.

Utilizando essa técnica de não permitir que os clientes se desviassem dos negócios para falar sobre problemas sobre os quais não tínhamos poder de resolver, consegui reduzir drasticamente a inadimplência, incrementar as vendas e mudar a atitude dos empregados da empresa como um todo, principalmente da equipe de vendas, o que permitiu à filial argentina, se recuperar e seguir em frente, obviamente, dentro da normalidade possível.

Se deixasse as coisas seguirem naquele rumo de autopiedade dos clientes e dos próprios empregados da empresa, além de não resolver o problema do país, a empresa também iria quebrar.

A história do lenção correu de boca em boca entre os empresários na Argentina e certo dia eu fui surpreendido no escritório com a visita de um canal de televisão de Buenos Aires que veio me entrevistar.

Não sei se a entrevista que eu concedi e que foi levada ao ar pela TV ajudou os argentinos a se livrarem do comportamento negativista e melodramático (fazer um tango dramático de qualquer mínima adversidade), mas eu acabei ficando conhecido em Buenos Aires como “El brasileño del pañuelo grande”. Cheguei até mesmo a dar um autógrafo numa churrascaria a uma pessoa que me reconhecera da entrevista na TV.

Recentemente, eu contei essa história para um amigo meu, o Freire, dono da Guardian Security de Uberlândia. Ele gostou da ideia e alguns dias depois me disse que fez um lenção enorme também e numa reunião de vendas o pendurou na parede, dizendo para os vendedores que a partir daquele momento, quem quisesse chorar a situação de crise, que chorasse bastante no departamento e em seguida enxugasse as lágrimas e depois arregaçasse as mangas e fosse para a luta. Não sei qual foi o resultado. Mas, acho que deve ter sido positivo, porque ele me autorizou a mencioná-lo neste artigo. Igual, você pode perguntar a ele.

Há momentos em que o gestor precisa “quebrar a inércia do derrotismo”, levantar o moral da equipe e botar a empresa para funcionar normalmente.

A situação brasileira é efetivamente complicada e de difícil solução, mas se embarcarmos nela tudo ficará mais difícil ainda.

Nos dias de hoje, encontrar um cliente apto e disposto a comprar é como encontrar uma agulha num palheiro. Mas, não nos resta alternativa. Ou procuramos e tentamos vender para ele, ou sucumbimos.

Por outro lado, todos sabemos que numa situação de crise como essa que o Brasil está passando, os preços naturalmente caem. Então só racionalizando-se inteligentemente os custos e eliminando-se todos os tipos de desperdícios e mordomias, a empresa conseguirá ter algum lucro que lhe permitirá ter “fôlego” para seguir em frente, até que as coisas melhorem. Porque, mais cedo ou mais tarde, elas vão melhorar.

Então, é nisso o que os colaboradores das empresas precisam fazer neste momento: aceitar a realidade adversa e concentrar todas as suas energias para tentar incrementar as vendas e reduzir os custos. E, para isso além de dureza mental, será necessária uma boa dose de resignação, otimismo e alegria.

Em qualquer época e em qualquer situação, as pessoas e as organizações mais bem-sucedidas são aquelas que, com altivez e bom humor, conseguem lidar melhor com as adversidades; que conseguem transformar dramas em comédias; ou problemas aparentemente insolúveis, em desafios a serem vencidos.

No finzinho dos anos 60 eu era vendedor de publicidade e tive o privilégio de conhecer na empresa que trabalhava uma pessoa extraordinária, Mr. Bob Lund.

Ele foi a primeira, e acho que a única pessoa que conheci que era capaz de rir de si mesmo. Parece que ele tinha nascido desprovido de ego. Não sei se ele era assim na vida pessoal, mas profissionalmente, sempre que estava comigo agia assim. Sempre otimista e rindo à toa.

Quando saia comigo para me treinar em visita de venda a alguns clientes, se alguma coisa dava errado, ao saíamos da entrevista ele soltava uma gargalhada e se perguntava: onde foi que erramos? E, com esse espírito descontraído e atitude positiva, não era nada difícil encontrar o erro, corrigi-lo e pegar o rumo certo. Nunca vou me esquecer dele. Pena que trabalhei pouco tempo com ele. E, lamento não ter tido a oportunidade de um dizer a ele o quanto me ensinara a encarar a vida.

Mesmo sem nunca ter chegado ao mesmo nível de desprendimento dele, o que aprendi com ele foi o bastante para me ajudar a sobreviver a todas as turbulências violentas da era dos planos econômicos do Brasil e da Argentina. E, também, a todos os outros grandes percalços que naturalmente se abateram sobre mim ao longo da minha jornada de vida.

Com ele eu aprendi que tudo o que se tem de fazer num momento adverso é simplesmente aceitar a realidade adversa, arregaçar as mangas e com alegria, trabalhar duro e com inteligência para poder vencê-la.

As adversidades fazem parte da vida, mas nem todos as aceitam e conseguem lidar bem com elas. Ante a menor contrariedade algumas pessoas se abatem, se deprimem, param e não conseguem seguir em frente.

Neste momento delicado pelo qual o Brasil está passando, se numa empresa houver muitos colaboradores abatidos com a situação, a probabilidade de ela sucumbir é grande.

Por isso, é de fundamental importância que os gestores fiquem vigilantes e ao menor sinal de que um colaborador esteja sendo abatido, é preciso tentar resgatá-lo, com muita firmeza. E, se não conseguir, lamentavelmente será preciso abrir mão desse colaborador para evitar que ele contamine os demais e possa levar a empresa à falência.

Pode até parecer cruel, mas não é. Às vezes é preciso sacrificar-se alguns para poder salvar-se a maioria. Se a empresa quebrar, todos perdem. Então, é preciso manter a empresa funcionando, ainda que para isso seja necessário abrir-se mão de alguns colaboradores inadaptáveis.

Como disse Charles Darwin, “não são as espécies mais fortes e nem as mais inteligentes que sobrevivem, mas as mais adaptáveis às mudanças. E, a história da humanidade (e dos animais também) comprova que aqueles que aprenderam a colaborar e a improvisar foram os que levaram vantagem”.

Os dinossauros reinaram absolutos no nosso planeta por 135 milhões de anos, mas desapareceram há 65 milhões de anos, porque não se adaptaram às profundas mudanças que ocorreram na biosfera da Terra devido à queda de um meteorito.

O mercado brasileiro de 8 anos atrás não existe mais e não sei se e quando voltará a existir. O que temos hoje é esse que estamos vivendo e que embora seja pior que aquele, pelo menos ainda é o 9º maior de um mundo de mais de 200 países.

E, como não podemos mudar de país, então só temos uma alternativa para sobreviver: aceitar a realidade adversa dos fatos e com bom humor, trabalhar duro e inteligentemente para revertê-la.

 

Prof. Faccin
 

 
 
 
 
 

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