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"As pessoas estão vivendo mais que as empresas"


Seguramente você deverá ter certa dificuldade para encontrar na sua cidade empresas com mais de 70 anos de idade. Mas, não deverá ter tanta dificuldade assim para encontrar pessoas com mais de 70 anos de vida, já que a expectativa de vida do brasileiro hoje já é de quase 80 anos.

Chris Zook, autor do livro ainda não traduzido para o português “Unstoppable” (algo como irrefreável ou imparável), mostra que das 500 maiores empresas americanas listadas em 1994 na revista Fortune, 153 ou 30% delas haviam desaparecido em 2004 (apenas 10 anos depois). E, das 347 que sobreviveram, Zook afirma que 130 ou 37% fizeram uma dramática transformação. Estamos em 2014. O que será que aconteceu com as que sobraram em 2004?

No 40º Anuário de Maiores e Melhores Empresas da revista Exame publicado em 2013, algo me chamou a atenção: das 500 maiores empresas instaladas no Brasil e listadas na 1ª edição, 270 não existiam mais. E, das 230 que ainda estavam vivas, apenas 87 ou 17% continuavam figurando na lista das 500 maiores daquela edição atual. Quantas destas restarão na lista de 2023 ou daqui a apenas 10 anos?

Como dedução dessas duas proposições inversas – pessoas vivendo mais e empresas vivendo menos – podemos supor que muitos empresários poderão viver bem mais que as suas empresas. E, consequentemente, podemos supor também que muitos deles que hoje desfrutam de um bom padrão de vida, poderão não desfrutar desse mesmo bom padrão de vida na velhice. E, isso não é uma boa notícia.

Porque as pessoas estão vivendo mais, todos sabemos. O que pode não estar muito claro é por que as empresas estão vivendo cada vez menos.

Sem dúvida, as causas são múltiplas e para abordá-las todas teríamos de escrever um livro sobre o tema e isso fugiria ao escopo deste artigo. Mas pelo menos uma delas que eu considero essencial, pode ser abordada a partir da resposta do probleminha simples a abaixo.

Dê uma olhadela no probleminha a seguir, resolva rápido com base na sua intuição e depois e siga em frente lendo o artigo.
  • Um pirulito e uma bala custam R$ 1,10.
  • O pirulito custa um real a mais que a bala.
  • Quanto custa a bala?

Certamente, o número 10 veio à sua cabeça. Dez centavos. A marca distintiva desse problema e de outros similares é que ele evoca uma resposta que é intuitiva, atraente e errada. Por isso, se você também concluiu que eram 10 centavos, faça as contas e confira por si mesmo que a resposta correta é 5 centavos. Mas, se não quiser perder tempo tentando conferir o resultado, não se preocupe. Continue lendo o artigo que no final tem a solução.

Agora, se você também deduziu que a resposta era 10 centavos, não fique aborrecido por ter se equivocado. Apesar de esse probleminha poder ser resolvido rapidamente por um estudante de nível médio que tenha aprendido a transformar problemas do cotidiano na lógica dos problemas matemáticos formando equações simples do 1º grau, mais de 50% dos alunos de Harvard, MIT e Princeton também deram essa mesma resposta intuitiva e errada, num teste aplicado pelo psicólogo Daniel Kahneman. Em universidades menos seletivas a taxa de erro foi superior a 80%! Portanto, não se sinta constrangido.

Essa resposta intuitiva (10 centavos) decerto também veio à cabeça daqueles que resistiram à tentação da resposta rápida e intuitiva, e fizeram o cálculo correto, porque por ser “óbvia”, é a primeira resposta que vem à mente de todos nós.

Mas, mesmo vindo à mente de todos, os que deram a resposta errada poderiam tê-la rejeitado se fizessem um pequeno esforço intelectual. Afinal, os que responderam 10 centavos poderiam se perguntar: por que alguém apresentaria um problema com uma resposta tão óbvia? Será que não tem nenhuma armadilha aí? Não existe aquele dito popular que diz que “quando a esmola é muita o santo desconfia”? Então, porque não desconfiar?

Simples: “desconfiar” significa “pensar” e o cérebro de todos nós é preguiçoso por natureza. Isso mesmo. O nosso cérebro é preguiçoso. Surpreso?

Ele é preguiçoso porque fazê-lo trabalhar (pensar) cansa. E, cansa muito. Consome a mesma quantidade de glicose que qualquer exercício físico. Por isso, sempre que o nosso cérebro puder responder alguma questão de forma intuitiva, rapidamente e sem pensar, pimba! La vai a resposta rápida, intuitiva, óbvia e..., errada.

A Microsoft já era uma empresa gigante quando o Google nasceu. Mas, ela estava tão ocupada sofisticando cada vez mais o seu sistema operacional Windows e seus aplicativos para escritório que por preguiça, desleixo, etc. “não quis gastar energia”. Como consequência não percebeu que havia um nicho enorme de mercado inexplorado e que ela poderia tirar proveito se desenvolvesse um mecanismo de busca inteligente como o Google.

Se ao invés de os engenheiros da Microsoft terem respondido rápida e intuitivamente: “10 centavos”, eles tivessem parado e “equacionado” logicamente o problema, com certeza o Google não teria tido a chance que teve e o Bing da Microsoft, não o Google, seria hoje o buscador por excelência e a Microsoft seria ainda mais rica do que já é. Talvez fosse a única empresa no planeta a ter um valor de mercado próximo ao trilhão de dólares.

Mais, se quando o Steve Jobs subiu ao palco em janeiro de 2007 e tirou o iPhone do bolso, os engenheiros da Microsoft tivessem deixado a preguiça mental de lado e talvez até o desfrute de uma partida de golfe e “parado para pensar” um pouco no que estava acontecendo e como isso poderia impactar o futuro, provavelmente o Windows Mobile teria hoje uma significativa parcela de mercado e não os ridículos 3,1% que detém.

Por incrível que pareça, os engenheiros da Microsoft não se deram conta de que a maior parte do uso particular de desktops e laptops era para acessar a internet e não para “computar dados”. E, que para acessar a internet não eram necessários esses equipamentos pesados, grandes e desajeitados, mas práticos portáteis com tela sensível ao toque no formato de smartphones e tabletes.

Se os estrategistas econômicos e mercadológicos da RIM não tivessem se deixado dominar pela preguiça cerebral e tivessem procurado refletir bastante sobre o “processo” em andamento e nas suas possíveis consequências, a empresa inventora do smartphone que era a líder absoluta de mercado em 2007 com seu produto Blackberry não teria ido à falência em apenas 6 anos.

E se a preguiça mental não tivesse tomado conta da mente dos engenheiros da Nokia, maior fabricante mundial de celulares, chegando a deter 49,4% do mercado em 2007, ela também não teria tido um fim semelhante e não teria sido vendida para a Microsoft por uma bagatela.

Nessa altura você poderia estar pensando que esses desastres só acontecem com esse tipo de empresa gigante de alta tecnologia. Lamento desapontá-lo. Algo ao redor de 700 mil empresas descontinuam no Brasil a cada ano. São empresas de todos os tamanhos, idades e segmentos de mercado. Por sorte, uma leva um pouquinho maior também nasce a cada ano. É o eterno ciclo do renascimento da vida.

Em essência, os principais comportamentos que levam os dirigentes de empresas estabilizadas a serem surpreendidos de uma hora para outra é a síndrome do Rei Midas, soberba, acomodação, complacência, desfrute da zona de conforto e acima de tudo, a preguiça mental que nos impede de ver o que está debaixo dos nossos olhos.

A preguiça mental nos torna omissos, negligentes e até mesmo irresponsáveis. Ela é a responsável principal por não pensarmos seriamente no que está acontecendo hoje e que vai mudar o mercado futuro.

Afinal, o que está acontecendo hoje que vai mudar o mercado futuro da sua empresa?

Você acha que o mercado para a sua empresa de 2020 (daqui a apenas 6 anos mais e que vão passar voando) será exatamente igual ao de hoje? Acha que os produtos e serviços serão os mesmos? Que os fornecedores e prestadores de serviços serão os mesmos? Que os concorrentes serão os mesmos? Que a mão de obra disponível será a mesma? Que o comportamento social será o mesmo? Que o poder aquisitivo dos clientes será o mesmo? Que os problemas que os clientes enfrentam hoje e que os fazem comprar os seus produtos e serviços, serão os mesmos? Que as necessidades não irão mudar? Que os clientes se comportarão da mesma maneira que se comportam hoje?

E, mais: você acha que essa transformação toda se dará exatamente à zero hora do dia 1º de janeiro de 2020?

Não. Essa transformação toda já está em marcha acelerada e as mudanças estão batendo nas nossas portas. Então, a pergunta que cabe é: o que está acontecendo hoje que está mudando o seu mercado e vai mudá-lo completamente até 2020? Qual será o impacto no futuro imediato das inovações tecnológicas, econômicas, sociais e mercadológicas que estão em marcha hoje?

Se os dirigentes não tiverem autocontrole para vencer a preguiça mental, a tentação do lazer excessivo e não gastarem a energia necessária para pensar e pesquisar seriamente sobre esses fatores do mercado, poderão ser vítimas indefesas das transformações que estão em andamento no mercado da sua empresa.

A formação de uma empresa qualquer é resultante de uma aposta que o fundador faz com base em algumas suposições a respeito do mercado, num determinado momento.

Se a empresa deu certo foi porque essas hipóteses eram válidas para aquele momento. O problema é que como a “transmutação” é a essência da natureza, a cada átimo de segundo tudo está mudando neste mundo. Inclusive o nosso corpo.

Em menos de uma semana a pele que reveste o nosso estômago será formada por outras células; em quatro semanas o tecido que recobre o nosso corpo será outro; em seis semanas teremos um fígado inteiramente novo (notícia boa para os bebuns...); em doze semanas, teremos uma estrutura molecular diferente dos nossos ossos; e em menos de um ano, toda matéria que forma o nosso corpo hoje, será outra.

O problema da mudança é que, de um lado, o processo, apesar de contínuo e ininterrupto, geralmente é sutil ao longo do tempo o que o torna pouco percebível e por isso, a consciência de que tudo mudou só se dá depois de muito tempo, quando tudo já mudou e mudou muito. E, de outro lado, o nosso cérebro é preguiçoso por natureza e evita pensar. Ou seja, se junta à dificuldade a pouca vontade...

Dessa forma, aquelas hipóteses que foram válidas, para a formação da empresa num determinado momento, já não são mais válidas para este novo momento e serão muito menos válidas ainda para o futuro imediato; as técnicas e táticas utilizadas para resolver os problemas daquela época não são mais as mesmas necessárias para resolver os problemas atuais e muito menos ainda serão válidas para resolver os problemas no “futuro imediato”.

Aliás, estamos até precisando inventar uma palavra nova para designar o que vai acontecer logo mais adiante, porque a palavra “futuro” nos dá uma ideia equivocada, induzindo-nos a supor que temos bastante tempo para pensar no que fazer para o futuro.

O problema é que no mundo empresarial, a palavra “futuro” não significa mais “porvir”, mas “já está vindo” e o pior é que cada vez ele vem mais e mais rápido. Por isso eu estou substituindo a palavra “futuro” pela locução “futuro imediato” para indicar que as coisas irão se dar muito em breve. Isso pode nos deixar mais alertas.

Se precisar de ajuda para descobrir o que está acontecendo no seu mercado e que poderá mudar o futuro e o que fazer para embarcar nessa onda, entre em contato conosco que nós somos especialistas nisso.

 

Probleminha:

  • Um pirulito e uma bala custam R$ 1,10.
  • O pirulito custa um real a mais que a bala.
  • Quanto custa a bala?

Solução do probleminha em linguagem simples só para os que tiveram dificuldade em resolvê-lo.

  1. Um Pirulito + uma Bala = 1,10
  2. Um Pirulito = 1,00 + uma Bala (1,00 a mais que a bala...)

Substituindo o Pirulito na equação por 1,00 + uma Bala

Temos: (1,00 + uma Bala) + uma Bala = 1,10

Ou: 1,00 + duas Balas = 1,10.

Portanto: duas Balas = 1,10 – 1,00 = 0,10.

E finalmente: uma Bala = 0,10 /2 = 0,05.

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Em linguagem matemática escreveríamos assim:

  1. x + y = 1,10
  2. 2. x = 1,00 + y

Substituindo x na equação por 1,00 + y

        Temos: (1,00 + y) + y = 1,10.

        Ou: 1,00 + 2y = 1,10.

        Portanto: 2y = 1,10 – 1,00 = 0,10.

        E finalmente: y = 0,10/2 = 0,05.

 

Prof. Faccin

 

 

 
 
 
 
 

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