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Como ganhar dinheiro no meio dessa ‘Guerra de Preços’

(Última parte)

Na primeira metade da última parte deste ensaio tratamos do tema ‘como inovar explorando as experiências dos parceiros’. Caso você não a tenha recebido poderá copiá-la diretamente do nosso site www.faccin.com.br  ou solicitá-la pelo e-mail professor@faccin.com.br

Nesta última parte da série vamos continuar tratando do tema como inovar, porém ‘observando criativamente o que está acontecendo agora, no Brasil e no Mundo, e que irá mudar o futuro imediato’.

A impermanência da atividade econômica

Tudo o que acontece de novo produz alterações no comportamento da sociedade e, obviamente, gera necessidade novas.

No cenário atual de transformações tecnológicas, econômicas e mercadológicas profundas e altamente velozes, de concorrência numerosa e extremamente acirrada, os gestores se vêem freqüentemente numa encruzilhada que os obriga a fazer escolhas estratégicas.

Como as necessidades são o resultado dessas transformações, elas também mudam e as empresas precisam mudar também. Aliás, quando as necessidades mudam, de uma forma ou de outra (e sim ou sim) as empresas também vão mudar. Pode ser para melhor ou para pior, mas que vão mudar, com certeza vão...

Quando alguém decide montar uma empresa ou lançar um produto, o faz baseado em determinadas suposições a respeito da estrutura e da conjuntura econômica, financeira, tecnológica, mercadológica, concorrencial, etc. daquele momento.

Se suas conjecturas estiverem corretas, as coisas se darão tal qual planejado. Todavia, se a empresa tiver um crescimento muito maior ou muito menor do que o planejado, é bem provável que aquelas hipóteses sobre as quais a empresa e/ou o produto foram lançados estivessem equivocadas.

Mas, mesmo que as suposições iniciais estivessem certas, com o passar dos anos, sim ou sim, toda a estrutura e conjuntura inicial muda.

Muda a economia, muda a tecnologia, muda o mercado, muda a concorrência, ou seja, muda tudo. Então, aquelas pressuposições iniciais deixam de se encaixar à nova realidade vigente. Dessa forma, será preciso adequar a empresa a essa nova realidade.
Para ter uma sobrevida indefinida e saudável ao longo do tempo, as empresas de qualquer segmento, precisam se ‘reinventar’ e ‘recomeçar’ a cada dia.

Por exemplo, a criação de uma empresa de segurança há 20 anos atrás considerou um determinado momento estrutural e conjuntural: mercado nascente, concorrência branda, tecnologia incipiente, ladrões menos agressivos, etc.
É claro que hoje, tudo é diferente. A começar pela própria empresa.
Se no início seu principal foco mercadológico era conquistar clientes, hoje talvez seja manter os clientes conquistados (cuidar do patrimônio conquistado).

Com efeito, uma empresa que tenha conquistado 1.000 clientes, por exemplo, vai ter um trabalhão danado para cuidar deles agora.
Um ‘galinheiro’ com 1.000 cabeças de galinha exige que diariamente se alimente essas galinhas, se limpe o galinheiro, etc. Por outro lado, todos os dias vai ter galinha ficando doente que precisa
ser cuidada; vai ter um monte de ‘gaviões’ sobrevoando o galinheiro tentando ‘rapinar’ algumas galinhas, etc.

Então, se no início do negócio, o maior trabalho era trazer clientes para dentro de casa, agora, além de fazer isso, a empresa também precisa cuidar bem dos clientes já conquistados, porque, do contrário, será um tal de conquistar cliente novo de um lado e perder cliente de outro. É o mesmo que tentar subir num pau de sebo.

Ainda, se há 20 anos a concorrência era incipiente, hoje já não o é mais; se o mercado era virgem, hoje já está saturado (de cada 10 novos clientes conquistados, 9 são oriundos da concorrência); a tecnologia é outra; etc.

Os efeitos da desatualização

Continuar administrando uma empresa hoje, com a mesma visão mercadológica de vinte anos atrás, é caminhar para a descontinuidade. Talvez seja por isso que ultimamente temos presenciado a quebra de muitas empresas tradicionais.
Em 1973 Bill Gates percebeu que os micros iriam mudar o futuro, mas ele não embarcou na onda de fabricar micro (invenção). Ele embarcou no desenvolvimento de programas para micros. Uma necessidade gerada pela invenção do micro.

Todos sabem que o Bill Gates não inventou o software, sua genialidade foi transformá-lo num produto patenteável e vendável, já que antes era coisa gratuita de acadêmico.

Ao desenvolver programas fáceis de usar e de uso geral como o sistema operacional MS Dos, Windows e o pacote de aplicativos Office ele se tornou o único centibilionário da história.
Mas, parou aí. Os demais produtos que a empresa lançou não tiveram muito sucesso e a maioria é deficitária para a empresa, como o tocador de MP3 Zune, o videogame Xbox 360, o software de gestão empresarial para pequenas e médias empresas e seu software para os smartphones.

No ambiente operacional e de aplicativos populares, seria pouquíssimo provável surgir um competidor convencional que pudesse fazer frente à Microsoft.
Mas, surgiu um concorrente não-convencional, os chamados softwares livres, como o Linux, OpenOffice, FireFox, etc. que os desenvolvedores solidários e altruístas ao redor do mundo desenvolveram para liberar a humanidade da necessidade de comprar programas de computador.

Essa hipótese era impensável a até bem poucos anos atrás. Mas, se tornou uma realidade e, em alguns poucos anos mais, esses softwares livres deverão abalar seriamente o reinado da Microsoft.
Como se isso fosse pouco, a IBM resolveu desenvolver e dar de graça o pacote Lotus Simphony (concorrente do Office), para que os Clientes, ao gastarem menos com a compra de software, possam gastar mais comprando seus hardwares...
E isso sem falar que com o aumento brutal das velocidades de conexão com a Internet, está surgindo um novo conceito de utilização dos softwares: o SaaS “Software as a Service”, no português: “Programa como um Serviço”, que nada mais é do que a disponibilização dos programas de computador para serem utilizados na Internet.

No momento, a Internet está entrando numa fase que as revistas técnicas já passaram faz tempo, ou seja, a era da 'economia do grátis'.
Assim, como as revistas técnicas, que vivem exclusivamente de anúncios (porque se quisessem vender assinaturas sairia mais caro), todos os desenvolvedores de programa já se deram conta de que dá mais dinheiro vender publicidade num site de grande tráfego do que vender o programa propriamente dito.

Ademais, quando se vende o programa, perde-se o contato com o cliente. Quando ele entra diariamente no site para trabalhar, a empresa tem ele sob sua ‘alça de mira’ o tempo todo para tentar lhe vender outros bens e serviços. Essa é a idéia do Saas.
 
Entrando no site do Google Docs o indivíduo encontra um processador de texto, uma planilha eletrônica, um programa para apresentação de slides, etc. e tudo isso pode ficar armazenado online ou pode ser baixado ou enviado por e-mail.
O Yahoo não deixou por menos e já lançou grátis o Zimbra para substituir o Outlook da Microsoft.

Para não ficar para trás, em 2008 estará no ar o Live Workspaces da Microsoft, que integra os programas do pacote Office (Word, Excel e PowerPoint) com a Internet.

Entre os novos sites de 2008, e que podem ser utilizados grátis, o que promete fazer mais barulho é o Google Knol (abreviatura da palavra 'knowledge', que significa conhecimento em inglês).
Trata-se de uma enciclopédia aberta em que qualquer pessoa poderá colaborar. Exatamente como a Wikipedia, mas com uma grande diferença - na Google Knol, não será possível fazer edições e contribuições de forma anônima.

Obviamente, com as enciclopédias Wikipedia e o Google Knol grátis na rede, quem irá comprar uma enciclopédia tradicional?
Ou seja, essas novas idéias poderão matar aqueles editores tradicionais de enciclopédias.

Em bem pouco tempo, o usuário comum não precisará mais estar comprando programas de computador, porque além dos ofertados gratuitamente que ele poderá baixar livremente, também poderá usá-los online para, dessa forma, não precisar ter que gastar muito com um computador grande.

Ou seja, o mundo do software está atravessando uma mudança fundamental. O que antes era grátis e depois, por obra do Bill Gates, vendido numa caixa e instalado em cada computador, agora funciona remotamente, na grande nuvem da Internet.
Por mais paradoxal que possa parecer, o software nasceu livre, e está voltando novamente a ser livre. E isso poderá acabar com a Microsoft, caso ela não consiga comprar alguma empresa com tecnologia diferente da dela (o Yahoo é uma esperança).
O resultado dessa concorrência não-convencional de softwares já começa a se fazer sentir.

Em 2005, numa das mais vultosas quedas dos últimos anos, as ações da Microsoft voltaram ao patamar em que estavam sete anos atrás.
Dessa forma, ou a Microsoft se reinventa logo, lançando produtos e serviços inéditos não associados ao seu passado histórico como o fez a Apple, ou poderá até mesmo desaparecer.
No próximo mês de julho o Bill Gates se aposentará da Microsoft e irá se dedicar exclusivamente à filantropia.

Essa aposentadoria, aparentemente prematura, é importante tanto para as pessoas mais necessitadas que vão ganhar um grande filantropo, como principalmente para a Microsoft que irá se livrar de um problema enorme.

O Bill Gates sempre foi um exímio desenvolvedor de programas de computador e um empresário nato que soube como ninguém desenvolver programas populares e, mais importante ainda: torná-los Best-sellers.

Só que hoje, existem zilhões de desenvolvedores de programas geniais espraiados pelo mundo e, portanto, essa sua especialidade passou a ser banal, uma verdadeira commodity.
A questão é que, devido à sua especialidade, o Bill Gates só consegue raciocinar dentro dessa ‘caixa’ chamada ‘programa de computador’ e por conseqüência, enquanto ele estiver à frente da Microsoft, essa empresa irá respirar apenas o ar chamado ‘programa de computador’.

Assim, se ele não saísse logo, em pouco tempo a Microsoft teria sua sobrevivência ameaçada.
Com sua saída, quem sabe, a Microsoft poderá conseguir encontrar alguém que pense ‘fora da caixa software’ e encontre algo para a Microsoft fazer, não associado ao seu passado histórico, que lhe dê uma sobrevida lucrativa maior.
 
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