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Artigos do Prof. Faccin

A commodityzação da economia

Com as facilidades, hoje em dia, para o surgimento da concorrência e sua natural expansão, todos os produtos e serviços de qualquer segmento (carros, computadores, transportes aéreos, transporte de valores, de documentos, hotéis, alarmes monitorados, vigilância orgânica, etc.) estão se transformando em autênticas ‘commodities’.

Depois de um tempo de seu surgimento, qualquer produto ou serviço é copiado fartamente e passa a estar disponível em vários fornecedores ou prestadores de serviço com uma qualidade tão boa ou tão ruim, como qualquer outra e sem diferenças significativas entre eles e entre os diversos fornecedores.

Nesse cenário, é natural que haja uma queda nos preços.

Afinal, se não há diferenças significativas entre os produtos e serviços, obviamente, os clientes vão procurar o mais barato.

Por outro lado, muitos produtos e serviços atingem seu limite de qualidade e, a partir daí, melhorias adicionais não lhes acrescentam um valor correspondente ao custo adicional, como é o caso do transporte de valores, por exemplo.

O que mais se poderia acrescentar ao serviço básico (retirar os valores com carro forte, munido de guardas de valores habilitados, com seguro, no horário combinado, etc.) que pudesse fazer uma diferença capaz de motivar o cliente a pagar mais caro? Oferecer um guarda de valores de olhos verdes?

O problema se agrava, porque todo novo concorrente que se preze, desembarca no mercado vendendo o mesmo produto ou serviço ‘básico’, sem nenhuma característica agregada que possa ser valorizada pelo cliente e com a idéia genial de ‘vencer pelo preço baixo’.

Aliás, tentar valorizar uma característica adicional a oferta básica exigiria conhecimentos muito mais complexos de marketing e vendas.

Efeito da commodityzação na ampliação do mercado resultante de uma redução dos preços

Como o preço é uma barreira natural ao consumo (do contrário todos teríamos uma Ferrari), um preço mais baixo reduz essa barreira e habilita mais compradores – se a Ferrari custasse R$ 100.000,00 iríamos ver muitas Ferraris pelas ruas –.

A questão é que mais compradores atrai mais concorrentes. E, mais concorrentes faz os preços baixarem mais, habilitando mais compradores.

A questão é que mais compradores atrai mais concorrentes. E, mais concorrentes faz os preços baixarem mais, habilitando mais compradores.
Imagem Artigos do Prof. Faccin O problema é que a composição das classes sociais se assemelha a uma pirâmide, que no caso do Brasil é bastante acentuada na base.

Dessa forma, cada vez que o preço desce um pouquinho, habilita uma quantidade desproporcionalmente maior de compradores, o que atrai mais concorrentes forçando o preço ainda mais para baixo. E assim, sucessivamente, ampliando extraordinariamente o mercado apto a comprar o produto ou serviço mais barato.
Efeito na qualidade dos produtos e serviços resultante da redução nos preços
É claro que uma Ferrari de 100 mil não poderia ser igual a de 1 milhão.

Para que ela custasse 100 mil seria preciso retirar-se muitos valores que foram agregados à de 1 milhão. E essa redução de qualidade iria gerar insatisfações e comprometer a marca. A Ferrari deixaria de ser a Ferrari...

É mais ou menos isso o que está acontecendo na área de segurança.

Para acompanhar e tentar vencer a concorrência de preço baixo, muitas empresas do setor de segurança eletrônica, por exemplo, passaram a oferecer produtos de qualidade inferior e em muitos casos, de procedência duvidosa. Ainda, passaram a se utilizar da pratica do comodato (aluguel grátis) colocando equipamentos e dispositivos de baixíssima qualidade ou mesmo usados.
Com os serviços de instalação e manutenção se dá o mesmo: cobrando um preço baixo (na maioria das vezes nem cobrando) e tendo de atender a um número enorme de clientes habilitados pelo preço baixo, as empresas estão fazendo instalações de qualquer jeito e tendo custos enormes de retrabalho de manutenção.

Raríssimos são os instaladores e técnicos que sabem o que é infravermelho e muito menos como funciona o sensor de infravermelho passivo. Microondas, então, é palavrão.

Cobrando um preço muito baixo e tendo de atender a uma enormidade de disparos falsos de uma grande quantidade de clientes habilitados pelo preço baixo, o serviço de pronto atendimento virou serviço de ‘lento atendimento’. Isso quando a viatura tem gasolina para ir atender a ocorrência.

Ao reduzirem o preço, as empresas reduziram a qualidade dos produtos e serviços e na prática, sem o perceber, acabaram adequando-os a uma camada de clientes com menor poder aquisitivo. Chamemo-los, só para argumentar, de clientes classe C.

O problema é que elas passaram a oferecer esses produtos e serviços adequados ao poder aquisitivo da classe C para todas as camadas sociais, inclusive para as camadas A e B.

Obviamente, essa qualidade é insuficiente para atender às necessidades dessas camadas mais altas que, justamente, são as que mais precisam de segurança, porque supõe-se que sejam exatamente elas que possuam um patrimônio maior para proteger.

É claro que essa qualidade inferior dos produtos está gerando insatisfações e comprometendo a imagem das empresas e do próprio segmento, até mesmo junto aos clientes classe C que, apesar de só poderem pagar pouco, é natural que desejam ser bem atendidos.

E o que é pior: da mesma maneira que aqueles clientes aptos a comprarem uma Ferrari de 1 milhão iriam ficar desatendidos com uma Ferrari de 100 mil e teriam de procurar um carro alternativo, os clientes aptos a comprarem um sistema de segurança de alto nível também estão ficando desatendidos com os equipamentos e serviços que estão sendo ofertados e estão indo atrás de alternativas.

É por esse motivo que estamos presenciando no mercado da segurança um troca-troca muito grande de clientes entre as empresas. As taxas de rotatividade estão muito elevadas.

É comum encontrarmos clientes que já trocaram de empresa de segurança meia dúzia de vezes e continuam insatisfeitos em busca de meios alternativos de proteção.

Efeito da commodityzação na estrutura resultante do posicionamento mercadológico

Quando a concorrência se alastra, as empresas podem seguir oferecendo a oferta básica e tentar vencer pelo preço baixo. Mas, também, podem agregar características e tentar valorizá-las junto ao mercado.

Em ambos os casos, a estrutura da empresa precisa ser montada especificamente para essa finalidade.

Para qualquer estratégia ser bem sucedida, é importante não apenas se determinar o QUÊ FAZER, como também e principalmente, o QUÊ NÃO FAZER.

A necessidade de se excluir opções é devida a alguns motivos básicos:

1. Não gerar inconsistência na imagem e na reputação da empresa (ela é conhecida pelo fornecimento de um tipo de valor e não de outro);

2. Não comprometer a credibilidade da empresa pela confusão gerada na cabeça dos clientes (não sabem bem “qual é a da empresa”);

3. Não tentar fornecer ao mesmo tempo dois tipos de valores incompatíveis: preço/qualidade, etc.

Excluir o QUÊ NÃO FAZER é a única maneira de se criar COMPATIBILIDADE entre as atividades do QUÊ FAZER.

E isto é importante para que as atividades se reforcem entre si e se alavanquem mutuamente.

Na 2ª parte deste ensaio vamos analisar a estrutura de custos de uma empresa com estratégia baseada na oferta básica a preços baixos e a de uma empresa com estratégia baseada na oferta de valores agregados.
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