A velocidade das transações e da
busca de informações no mundo online da Internet está
alterando a nossa sensibilidade e tornando-nos menos
pacientes com a complexidade, falta de funcionalidade e
morosidade do atendimento no mundo off-line.
Isso é o que está indicando o
resultado de uma pesquisa recentemente feita pela
operadora de telefonia móvel inglesa Talk Talk que ouviu
2.050 voluntários, segundo o jornal britânico “Daily
Mail”.
O resultado da pesquisa revela
que mais da metade dos entrevistados admitiu que se
irrita com mais facilidade hoje do que no passado com a
lerdeza do mundo off-line
Estamos tão acostumados com a velocidade e
conveniência da internet que 70% dos entrevistados
disseram perder a paciência quando precisam esperar mais
que um 1 minuto para uma página da Internet carregar.
Para descobrir o tempo médio de
ruptura do ‘ponto de impaciência’, os pesquisadores
apresentaram aos entrevistados uma lista de atividades
comuns para que eles avaliassem o tempo máximo que
suportariam esperar. O tempo médio obtido foi de 5
minutos e 4 segundos.
No restaurante, após 8 minutos e
38 segundos, o britânico médio já começa a querer saber
quando o prato solicitado vai chegar.
Chegar mais que 10 minutos e 1 segundo atrasado
num encontro significará ter de enfrentar a cara de
‘poucos amigos’ da outra pessoa.
Quem chega mais que 10 minutos e 43 segundos
atrasado no emprego, dificilmente será recebido com um
sorriso cordial do chefe.
Quando um britânico médio envia um torpedo ou uma
mensagem de voz, espera receber a resposta em não mais
que 13 minutos e 16 segundos.
Finalmente, o auge da irritação ocorre quando
alguém tem de esperar mais que 5 minutos e 4 segundos
para ser atendido numa ligação telefônica.
A pesquisa também revelou que os
jovens estão sendo mais impacientes que os idosos na
espera de uma página da Internet abrir, sendo que 33%
dos que têm entre 18 e 24 anos se irritam se uma página
da Internet demorar mais que 10 segundos para carregar.
Esse tempo máximo de espera
irrita apenas 10% das pessoas com mais de 65 anos,
porque, segundo a pesquisa, 64% delas conseguem esperar
mais de 1 minuto para uma página carregar, sem se
irritar.
A questão é que quanto mais conectada for a
pessoa, mais impaciente ela está se tornando com a
lerdice do mundo off-line.
E, como todo mundo está se
conectando cada vez mais na Internet, isso significa que
em bem pouco tempo, assim como eu, todos irão se tornar
absolutamente impacientes com a vagarosidade do mundo
off-line.
Apesar de a velocidade do e-mail, que surgiu há
poucos anos, ter revolucionado as comunicações entre as
pessoas, ela já se tornou lenta demais para os padrões
atuais.
As pessoas mais conectadas
preferem se comunicar pelos sistemas de trocas de
mensagens instantâneas, intranet, sites de
relacionamento e até mesmo preferem pagar para enviar um
torpedo apenas para terem certeza de que suas mensagens
serão recebidas em tempo real.
Quem está acostumado com as facilidades,
praticidade e velocidade das transações online, acaba se
irritando com as dificuldades, falta de funcionalidade e
morosidade das transações no mundo off-line.
Talvez eu seja um dos protótipos
dessa nova versão do ser humano e só agora descobri a
causa de tanta irritação e impaciência minha com o
atendimento off-line.
Veja como isso está se dando inconscientemente.
Experimente comprar uma passagem aérea de três
maneiras diferentes:
1. Na loja da companhia aérea ou
no balcão dela no aeroporto (obviamente, se você tiver
tempo e mais nada de útil para fazer na vida);
2. Por telefone (obviamente, se tiver paciência
de seguir os passos indicados pela atendente virtual e
depois ficar esperando com o telefone grudado no ouvido,
não se sabe quanto tempo, e escutando aquelas mensagens
promocionais da companhia aérea); e
3. Pela Internet.
Depois, faça uma experiência sequencial: compare
a praticidade, facilidade e rapidez de reservar o
assento e fazer o ‘check in’ pela Internet com o tempo
que terá de ficar na fila no aeroporto para simplesmente
despachar a bagagem.
Isto, obviamente, se não tiver
nenhum passageiro com problema na sua frente (o mais
comum) que poderá levar uns quinze a vinte minutos para
ser atendido.
E, não se irrite com o tempo que a atendente
levará para simplesmente processar o ticket da bagagem.
Isso evidentemente, se o sistema online deles estiver
funcionando normalmente (coisa rara).
Faça um trâmite bancário
qualquer pela Internet e depois compare a simplicidade,
praticidade e velocidade da utilização desse meio com o
sistema tradicional de ir a uma agência bancária fazer o
mesmo trâmite no caixa.
Compre livros ou mande flores pela Internet e
depois faça isso pessoalmente numa livraria ou numa
floricultura...
Compare a facilidade e comodidade de fazer as
compras do supermercado pela Internet com o tempo
perdido numa ida à loja física. E, não se irrite se
tiver poucos atendentes e você tiver de pegar uma bela
fila para passar pelo caixa...
É claro que a lista de
comparações é infinita e a tendência é que cresça
exponencialmente à medida que aumenta a disponibilidade
das transações pela Internet.
Agora, analisemos a importância da pesquisa da
Talk Talk para o marketing das empresas que atuam no
mundo off-line e que provavelmente seja o caso da sua
empresa.
Como você sabe, depois de algum tempo de seu
surgimento, qualquer produto ou serviço é copiado
fartamente e passa a ser disponível em vários
fornecedores ou prestadores de serviço com uma qualidade
tão boa ou tão ruim, como qualquer outra e sem
diferenças significativas entre elas e entre os diversos
prestadores de serviços e fornecedores, inclusive nos
preços.
Antigamente quando se pensava em
‘commodity’ vinha na nossa mente a ideia de produtos
básicos, como cimento, madeira, ferro, areia, grãos,
etc.
Mas, hoje em dia, todos os produtos e serviços de
qualquer segmento, como carros, computadores,
transportes aéreos, transporte de valores, de
documentos, hotéis, alarmes monitorados, vigilância
patrimonial, mão de obra terceirizada de todos os tipos,
etc. estão se transformando em autênticas ‘commodities’,
porque são copiados fartamente e disponíveis em vários
fornecedores e prestadores de serviços com a mesma
qualidade boa ou ruim e a preços semelhantes.
Obviamente, nesse ambiente do ‘tudo muito
parecido’, o preço acaba sendo considerado como fator de
marketing importante. Afinal, ‘se é tudo igual’ o
negócio é comprar o mais barato’. Certo?
Bem, talvez essa afirmação ‘fosse’ uma verdade
verdadeira se nós não estivéssemos cada vez mais
sofrendo os efeitos da ‘irritação’ provocados pela
comparação inconsciente das transações online com as do
mundo off-line.
Todavia, como ‘fazer negócio significa resolver
problemas’ a um custo compatível e com lucro, e como o
problema atual dos clientes que compram no mundo
off-line é a ‘irritação’ com a falta de funcionalidade,
complexidade e lerdeza do atendimento, então, minha
sensibilidade de marketing e de vendas me diz que nesta
década dos anos 2010 o fator de marketing que deverá ser
muito considerado no mundo off-line (muito mais que o
preço baixo) será a velocidade, praticidade e
simplicidade do atendimento em todas as suas formas.
Com certeza esse será um grande diferencial que
poderá fazer com que os clientes se disponham até a
pagar mais só para não ficarem ‘irritados’ com os lerdos
e complicados concorrentes de preço baixo.
Se na década passada o nome do jogo era ‘preço e
qualidade’, nesta década o nome do jogo no mundo
off-line deverá ser velocidade, praticidade e
simplicidade de atendimento em todas as suas formas,
porque é exatamente isso o que os clientes deste mundo
estão querendo cada vez mais, induzidos pela comparação
inconsciente com a simplicidade, praticidade e
velocidade das transações do mundo online.
Preço e qualidade não se discute mais num mundo
de infinitas ofertas parecidas. Eles são o básico do
básico e por isso, a empresa que não tiver qualidade, de
fato, e a um preço compatível, será automaticamente
alijada do mercado.
Dessa forma, a empresa que perceber essa sutil
transformação que está ocorrendo na mente dos clientes e
procurar se adaptar ‘rapidamente’ para atender a essas
suas novas exigências de rapidez, praticidade e
simplicidade no atendimento no mundo off-line, poderá
conseguir uma extraordinária vantagem competitiva.
No próximo capítulo desta série vamos abordar
outro aspecto interessante sobre o tema ‘atendimento’.
Prof. Faccin
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