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Impacto da velocidade das transações online, no comportamento dos clientes do mundo off-line - 3º Parte
 

Na segunda parte deste artigo mostramos uma lista de procedimentos inadequados no atendimento pessoal das empresas que estão irritando e estressando os clientes, principalmente aqueles acostumados com a agilidade e eficiência das transações do mundo online.

Sem dúvida, seria insensato imaginar que essa desatenção para com os clientes pudesse ser premeditada. Não se pode imaginar que uma empresa planeje irritar e estressar propositadamente aos seus clientes.

Embora equivocadas, a maior parte das empresas acredita que presta um ótimo serviço a seus consumidores.

Do ponto de vista científico, acreditamos que essa desatenção para com os clientes (involuntária e despercebida pelas empresas), é efeito de uma complexa e ampla rede causas que se manifesta sob determinadas condições.

Eu desconfio de algumas delas. Vou trabalhar uma delas em cada parte deste artigo para que ele não fique demasiadamente grande.

Uma das causas, a meu ver, está intimamente ligada à perda dos valores éticos, morais e culturais da empresa devido à alta rotatividade da mão de obra.

A rotatividade da mão de obra se intensificou e acelerou de forma impressionante nos últimos anos devido à globalização e à nacionalização da economia brasileira (o consumo se espraiou por todo o Brasil), ao crescimento econômico, ao acesso facilitado ao capital de risco, às facilidades para abertura de novas empresas, o acesso aos estudos, às novas oportunidades, ao desapego, etc.

Esse é um fenômeno que está afetando não apenas o Brasil, mas a todas as economias modernas mundiais, inclusive a China.

Atualmente, somente 25% dos empregados americanos permanecem na mesma organização por mais de um ano. Por isso, mais da metade dos profissionais daquele país trabalha há menos de 5 anos na mesma empresa.

Aqui no Brasil, conforme declarado ao jornal O Estado de São Paulo pelo Sérgio Luiz Leite, Membro do Codefat que representa a Força Sindical, "Cerca de 40% da mão de obra no Brasil se movimenta todo ano de um emprego para outro”.

Sem dúvida é um dado alarmante, afinal 4 em cada 10 empregados, em média, estão mudando de emprego a cada ano.

Independentemente do custo que isso representa e que não é objeto deste estudo, manter os valores morais, éticos e culturais num ambiente de tão alta mutabilidade é praticamente impossível.

Segundo a ONU, os estudantes de hoje passarão por 10 a 14 empregos diferentes até os 38 anos de idade.

A questão é que quando um funcionário antigo deixa a empresa, parte da história, dos valores morais, éticos e culturais da empresa é perdida.

Por outro lado, em virtude da curta permanência dos novos empregados nas empresas, eles não têm tempo suficiente para assimilarem, se identificarem e se envolverem emocionalmente com a história e os valores da empresa.

É senso comum que aquele beijo tradicional que os jogadores de futebol profissional dão no distintivo da camisa no novo clube (a cada seis meses,,,) é pura fantasia.

Afinal, em todo tipo de relacionamento passageiro, as conexões são sempre racionais na base do ‘toma lá, dá cá’. Não há tempo para se estabelecer vínculos emocionais.

E, se o empregado não estabelece vínculos emocionais com a empresa, não tem como estabelecer conexões emocionais com os clientes da empresa. Por isso, o relacionamento entre ele e os clientes é sempre frio e impessoal.

Na prática, o empregado nem chega a ter noção de que quem paga o salário dele são os clientes; que ele foi contrato para servir aos clientes; etc. e por isso, quando um cliente reclama, o funcionário o vê como um chato ou algo semelhante.

Às vezes, o empregado dá até graças a Deus quando o cliente cancela o seu contrato com a empresa e vai pagar o salário do funcionário da outra empresa concorrente...

Por outro lado, poucas são as empresas que se preocupam em montar um sistema de treinamento profissional e eficiente para a introdução e principalmente, a incorporação adequada dos novos empregados aos valores da empresa.

Afinal, se os empregados são contratados para servirem aos clientes, dentro de determinados padrões éticos, morais e culturais característicos e específicos de cada empresa, e se já se sabe de antemão que eles permanecerão pouco tempo na empresa, então é preciso acelerar o processo de conhecimento desses padrões através de treinamentos intensos e específicos.

Em essência, esses padrões são fruto das características inatas e adquiridas do fundador da empresa, os quais se espraiaram por toda a estrutura piramidal da empresa, chegando até mesmo aos clientes que se identificam com esses padrões.

Ao contratar seus diretores, o fundador buscou pessoas que tivessem afinidades com ele.

Da mesma forma, os diretores contrataram gerentes que também se afinavam com eles (quem não se afina, durou pouco...).

Seguindo esse processo, vai-se descendo na escala piramidal corporativa até se chegar aos próprios clientes, que também se afinam com os padrões éticos, morais e culturais da empresa, pois do contrário, não seriam clientes.

É por isso que, num ambiente de alta rotatividade da mão de obra, os valores do fundador e que se trasladaram para a empresa em seus primórdios, acabam se dissipando e a empresa acaba perdendo de vista os seus valores e se esquecendo da sua missão, ou seja, do que veio a fazer no mercado.

A empresa acaba virando uma espécie de ‘Torre de Babel’ onde cada funcionário fala uma língua diferente nos seus relacionamentos com os agentes internos e externos.

A elevada taxa de rotatividade da mão de obra faz com que o fundador acabe por perder o controle sobre a forma de a empresa se relacionar com o mercado.

Cada funcionário passa a ver a missão e os valores da empresa sob sua ótica, à sua maneira e passa a tratar à sua maneira também os clientes, os fornecedores, os prestadores de serviços, os concorrentes e até mesmo os outros empregados, principalmente os subalternos.

E no meio dessa balbúrdia ética, moral e cultural os clientes acabam ficando totalmente confusos sem saber mais de que empresa eles estão comprando.

O resultado dessa desinteligência sociocultural é a irritabilidade dos clientes pelo atendimento confuso que culmina com a debandada de muitos deles.

São devidos, principalmente, à perda da tradição e à confusão dos valores éticos, morais e culturais, que se estabelece pela elevada taxa de rotatividade da mão de obra, que raras são as empresas que duram atém da morte do fundador.

Também, é devido ao processo de substituição desses valores que é tão difícil o processo sucessório nas empresas familiares.

Afinal, o filho não é o pai. É um ser pensante que tem personalidade própria e por isso, busca assessorar-se de pessoas que pensam como ele, as quais, por seu turno, também buscam subalternos que se identifiquem com eles.

E assim, sucessivamente, até chegar aos clientes que acabam sendo trocados por outros que pensam como o filho e não mais como o pai.

O problema é que substituir determinados valores éticos, morais e culturais por outros, leva tempo. E nem sempre se consegue.

Diante dessa nova realidade, que é a elevada rotatividade da mão de obra, seria conveniente que as empresas começassem a se preocupar seriamente em proporcionar treinamento e capacitação de qualidade para toda a mão de obra em todos os níveis. E não apenas no que diz respeito aos aspectos profissionais em si, mas também sobre os valores morais, éticos e culturais da empresa.

Afinal, preservá-los significa preservar a sobrevivência da própria empresa.

Essa medida deveria ser complementada com um projeto de redução da taxa de rotatividade mediante atrativos para a manutenção dos empregados na empresa.

No próximo capítulo abordarei outro aspecto relacionado ao mesmo tema: irritabilidade dos clientes devido ao atendimento inadequado.



Prof. Faccin
 
 
 
 
 

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