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Impacto da velocidade das transações online, no comportamento dos clientes do mundo off-line - 4º Parte
 

O objetivo desta série de artigos é demonstrar, não apenas que os clientes, acostumados com a agilidade e eficiência das transações do mundo online, estão irritados e estressados com a lentidão e desatenção do atendimento no mundo off-line, mas também, tentar localizar suas causas.

Na 3ª parte deste artigo, que lhe enviamos recentemente, mostramos que a desatenção para com os clientes (involuntária e despercebida pelas empresas), é efeito de uma complexa e ampla rede causas que se manifesta sob determinadas condições.

Então, abordamos naquela parte uma das causas, a que está intimamente ligada à perda dos valores éticos, morais e culturais da empresa devido à alta rotatividade da mão de obra.

Nesta 4ª parte, iremos abordar mais uma causa de mau atendimento aos clientes do mundo off-line: “a perda dos valores éticos, morais e culturais da empresa devido à escassez e à falta de qualificação da mão de obra disponível”.

Como se não bastasse o problema da rotatividade, ainda as empresas estão enfrentando um problema adicional e muito mais sério que é o de repor, com qualidade, a mão de obra que se foi da empresa.

No dia 25 de maio passado, a pré-candidata do PV à Presidência da República, Marina Silva, fez um alerta em relação ao mercado de trabalho brasileiro. "Não estamos à beira, já estamos vivendo um apagão dos recursos humanos", disse, durante o "Encontro da Indústria com os Presidenciáveis", realizado na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília.

A Revista Veja, edição de 26 de maio, na sessão ‘Radar’ publicou a seguinte nota:

O apagão da mão de obra. A FGV divulgará na próxima semana uma pesquisa feita em parceria com o Instituto Votorantim que traz dados alarmantes sobre a educação profissional no país.

Desenvolvido pelo pesquisador Marcelo Neri, o estudo mostra que, de 2006 a 2008, o número de jovens entre 18 e 24 anos matriculados em alguma instituição de ensino formal no país caiu 4% ao ano.

Amigo leitor, essa é a faixa de idade que os jovens cursam a universidade e ao invés de estar havendo aumento de alunos matriculados, está havendo diminuição.

O problema é grave porque afeta o futuro do país e é ruim para o futuro dos jovens e para o futuro das empresas.

Uma pesquisa feita pela Fundação Dom Cabral com as 76 maiores companhias do País mostra que duas em cada três empresas (2/3 ou 67%) têm encontrado sérios problemas para conseguir mão de obra qualificada, apesar dos 8 milhões de desempregados no Brasil.

"Somos o país das disparidades: há dinheiro para investir, mas a mão de obra especializada está cada vez mais escassa", observa o professor Paulo Resende, responsável pelo levantamento.

Ele disse ao Estadão que encontrou casos de companhias que estão importando mão de obra de outras nações da América Latina. "No setor de petróleo, trazem profissionais da Venezuela; no Agronegócio, de Argentina, Uruguai e Paraguai."

Segundo o levantamento da Dom Cabral, hoje a principal carência das grandes companhias é encontrar pessoas qualificadas para os cargos de operação e eu acrescentaria: de atendimento também.

Devido à gravidade do problema, muitas empresas decidiram criar seus próprios programas de capacitação e treinamento de pessoal ou mesmo fizeram convênios com universidades.

A Vale (do Rio Doce) montou um curso de pós-graduação para capacitar engenheiros para as áreas de pelotização, ferrovia, portos e mineração. São três meses de estudos em tempo integral, recebendo, cada estudante, uma bolsa mensal de R$ 3 mil.

A América Latina Logística (ALL) criou uma universidade para qualificar jovens aos cargos exigidos. Este ano, deverão ser capacitados 2 mil jovens.

A Ford fechou vários contratos com universidades e escolas de capacitação e qualificação de mão de obra. Hoje ela tem 130 vagas abertas para engenheiros. Mas, nos próximos cinco anos, ela terá de contratar cerca de 1.000 pessoas.

Diante da escassez de mão de obra qualificada, Rogelio Goldfarb, diretor da Ford acredita que muitas empresas têm procurado acelerar a carreira dos seus funcionários "Às vezes, você promove a pessoa sem que ela tenha maturidade ou experiência suficiente para o cargo".

Talvez, possa ser o caso de um jovem engenheiro que com apenas 24 anos já é o responsável por 450 funcionários que estão construindo um dos maiores empreendimentos na cidade de São Paulo, o edifício comercial Brookfield Faria Lima que tem o maior vão livre do Brasil.

Eu disse talvez, porque pode ser que o caso dele seja uma exceção. Ou seja, pode ser que estejamos diante de um gênio.

Mas, esse fenômeno de se colocar gente, que pode até ser bem formada, mas com pouca experiência e vivência em posições hierarquicamente superior está ocorrendo em quase todas as empresas, e não por genialidade, mas exclusivamente devido à escassez de mão de obra qualificada com mais experiência e vivência, como bem observou o Rogelio da Ford.

A questão é que existe uma diferença enorme entre teoria, prática e vivência.

Adquirir conhecimento não é difícil. Lê-se um livro ou se frequenta um curso e se adquire conhecimento (teoria).

Todavia, passar o conhecimento (teoria) para a prática é outra história. Do contrário, qualquer um que lesse uma receita culinária do Chefe Adrià Ferran, dono do restaurante El Bulli, o mais badalado do mundo, prepararia um prato semelhante ao que ele prepara. Mas, se fosse tão simples assim, o Adrià não seria a celebridade que é. Ou pelo menos, não divulgaria suas receitas...

A receita é igual para todos, mas o que faz a diferença é a ‘mão do cozinheiro’, ou seja a experiência e a vivência de muitos anos ‘botando a mão na massa’.

A dificuldade de passar o conhecimento para a prática, também está relacionada com a nossa formação escolar. Nós fomos mais bem treinados para adquirir conhecimentos do que para colocá-los em prática.

Na escola, nosso sucesso dependia do desenvolvimento de técnicas para aprender conhecimentos. Mas, o que a escola fez para nos ajudar a aprender habilidades sistematicamente? Ou seja, passar o conhecimento (teoria) para a prática?

À exceção dos esportes, do laboratório de inglês, de informática, e de alguma coisinha de física e química, a resposta é: pouca coisa ou nada.

E, como diz o dito popular, ‘na prática a teoria é outra’.

Bem, é claro que não é bem assim, mas é quase isso.

Primeiro é preciso separar as ciências da natureza das ciências sociais, já que o ‘ânimo’ daquelas não se altera com tanta facilidade.

Afora os tsunamis e outros eventuais fenômenos violentos e pouco previsíveis da natureza, os demais fenômenos são mais padronizados e previsíveis, o que facilita a identificação mais precisa das causas e condições que lhes deram origem.

No caso das ciências sociais, é preciso saber – antes de tudo – se essa teoria tenta explicar observações de fenômenos repetitivos ou se é um conhecimento especulativo, resultante de lucubrações do teórico.

Se for este segundo caso, em geral essa teoria tem pouco ou nada a ver com a realidade.

Em geral, esses teóricos das ciências sociais se trancam numa sala e digitando num computador começam a descrever o mundo que imaginam nas suas cabeças e que, em geral, tem pouca ou nenhuma relação com o que está acontecendo no complexo e interativo mundo que está fora das suas salas.

Depois, para ‘provarem’ que suas teorias são verdadeiras, contratam um bando de estudantes para buscarem na literatura disponível provas criteriosamente selecionadas que corroborem suas teses (são aquelas infindáveis referências bibliográficas apresentadas no final dos livros).

É claro, que ali não são mencionadas as ‘provas’ contrárias às suas teses e que, em geral, são em igual número ou maior.

No primeiro caso, por mais versado em letras que seja o teórico, as explicações que ele dá sobre o fenômeno que observa são apenas metáforas, ou seja, algo que se assemelha com a realidade.

Mas, semelhança com a verdade não é o mesmo que a verdade. Sócrates utilizava a palavra ‘eikos’ para definir a ‘semelhança com a verdade’ e para diferenciar de ‘alétheia’ que é a verdade ou a realidade.

Em latim também se diferencia a verdade da semelhança com a verdade através das palavras ‘veritas’ (verdade) e ‘verissimile’ (mistura de ‘veritas’ com ‘similare’, ou verdade com semelhança).

No nosso bom português também diferenciamos a verdade da semelhança com a verdade através da palavra verossimilhança.

Em outras palavras, deve-se tomar toda teoria sobre as ciências sociais apenas como verossímeis ou como metáforas e não a como a verdade verdadeira.

Isso é assim, porque o teórico especulativo só consegue identificar algumas poucas causas que produziram o fenômeno e não todas. E ainda assim nem sempre as causas que ele identificou são as verdadeiras. Às vezes, elas até se relacionam entre si, mas raramente se correlacionam e são as desencadeadoras efetivas dos fenômenos observados.

Essa engenharia reversa em busca das causas e condições que deram origem aos fenômenos é sempre complexa demais e infinita. Nem mesmo o ‘Blue Gene’ da IBM, o mais potente supercomputador que existe no planeta, na atualidade, seria capaz de uma façanha como essa.

É por isso que quando se vai aplicar a teoria na prática, sempre alguma coisa dá errado, porque variáveis ‘imprevisíveis’ entraram em cena alterando o resultado (fenômeno).

É por isso também que toda teoria precisa ser ajustada a cada caso e isso só se consegue experimentando-a na prática exaustivamente (processo da tentativa/erro) até que ela se ajuste à medida àquela necessidade específica.

Ademais, passar a teoria para a prática implica em adquirir ‘habilidades’ e isso só é possível praticando... E, no início, sempre nos saímos mal, exatamente por ‘falta de prática’ para lidar com o novo.

Lembre-se da primeira vez que você dirigiu um carro. Não foi complicado? Cada movimento tinha de ser pensado à exaustão e muitas falhas foram cometidas até que depois de muito praticar você se tornou um verdadeiro ás do volante...

Como se vê, prática só se adquire praticando. E vivência, só se adquire vivendo. E como não praticamos e nem vivenciamos as teorias nas escolas, então será preciso que os recém-formados façam suas experiências e as vivenciem na prática.

É devido a essa escassez de mão de obra qualificada e experiente, que profissionais qualificados e experientes são disputados a peso de ouro no mercado e chegam até mesmo a recusar ofertas de trabalho.

É também devido a esse ‘apagão’ da mão de obra que as empresas, sem o desejar e em muitos casos até mesmo sem o perceber, estão, literalmente, ‘mal tratando’ os seus clientes.

Aqui nos deparamos novamente com o problema que originou esta série de artigos: como compatibilizar a falta de funcionalidade e morosidade do atendimento no mundo off-line com a impaciência das pessoas acostumadas com a velocidade e facilidade das transações e da busca de informações no mundo online da Internet?

No próximo capítulo abordarei outro aspecto relacionado ao mesmo tema: irritabilidade dos clientes devido ao atendimento inadequado.

Até lá, se precisar de ajuda para montar e ministrar um programa de treinamento e capacitação altamente profissional, moderno e inteligente para todos os seus funcionários e desenvolver um projeto para a fixação deles na empresa em longo prazo, estamos à disposição.



Prof. Faccin
 
 
 
 
 

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