1ª
Parte
A primeira vista
pode parecer um contra-senso, mas não é. Se você
quiser saber o porquê de eles preferirem pagar
mais caro, e como fazer para vender mais caro
para eles, então mergulhe comigo nesta primeira
parte deste ensaio.
Gerald Zaltman, professor no curso de doutorado
em marketing da Universidade de Harvard, ensina
que os vendedores atentam para o lado errado da
experiência dos clientes, porque concentram 90%
de seus esforços nas características e
benefícios racionais dos produtos e serviços e
se esquecem dos benefícios emocionais.
Embora importantes, os benefícios racionais
representam apenas pequena parte do que
realmente impulsiona a compra.
A questão é que as pessoas não costumam comprar
baseadas apenas em argumentos lógicos, ou
somente em argumentos lógicos.
Quando se trata de comprar, 95% do processo de
compra é puramente inconsciente. Por isso, mais
de 70% das compras são por puro impulso.
Esse efeito é maior nas compras efetuadas pelas
pessoas físicas, mas ainda assim vale lembrar
que, mesmo numa empresa, a decisão final sempre
é feita por pessoas que pensam e agem como você
ou eu.
Veja alguns fatores que podem levar as pessoas a
pagarem mais por um produto ou serviço na área
de segurança.
AVERSÃO AO RISCO
Peter L. Bersntein em sua fascinante história do
risco, demonstra que toda decisão envolve (ainda
que inconscientemente) dois elementos distintos
do risco, porém inseparáveis e igualmente
importantes, que são:
1.
Conseqüências. Ou seja, a gravidade ou
magnitude do que se pode perder ou ganhar se o
evento acorrer; e
2.
A probabilidade de o evento ocorrer.
As pessoas avessas ao risco fazem opções
baseadas apenas nas ‘conseqüências’, sem
considerar as ‘probabilidades’ de o evento se
dar.
Por exemplo: se um avião cair, as chances de
sobrevivência são pequenas. Portanto, se o
evento se der, as conseqüências são bastante
graves.
Mas, a probabilidade de um avião cair é mínima.
É muitas vezes mais fácil acertar no primeiro
prêmio da loteria federal do que estar num avião
que cai.
Apesar disso, muitas pessoas, simplesmente não
andam de avião. Preferem não se arriscar.
Fixam-se apenas na gravidade das conseqüências e
não nas probabilidades de o evento se dar.
Esse é o tipo de pessoa que, se puder,
aceita pagar mais por uma marca que lhe inspire
mais CONFIANÇA. E essa atitude independe
do seu poder aquisitivo.
Aliás, muitas pessoas, quando precisam escolher
e não têm muitos conhecimentos sobre determinado
produto ou serviço, optam pela marca mais cara:
‘se é mais cara, deve ser melhor’.
É um fenômeno puramente psicológico e
inconsciente e, portanto não racional. Todos
nós, às vezes procedemos assim quando estamos em
dúvida e não queremos correr riscos.
Apesar de o risco ser inerente à vida, muitas
pessoas chegam a ter aversão patológica ao risco
e por isso, se puderem, pagam o que for
preciso para não correr riscos.
Aliás, a atividade securitária só existe por
causa disso: as pessoas preferem pagar para que
outras assumam o risco por elas.
Portanto, diferentemente do que muitos
vendedores imaginam, vender a marca mais cara,
em certos casos, pode ser uma vantagem
competitiva, porque pode funcionar como um
atrativo de CONFIANÇA.
Por outro lado, as pessoas temerárias fazem
opções baseadas apenas nas probabilidades de um
evento se dar, sem considerar as conseqüências.
E isso também não tem muito a ver com o poder
aquisitivo do sujeito.
É comum vermos vendedores se depararem com
pessoas ricas, mas que não aceitam comprar os
produtos e serviços que seriam necessários para
proteger adequadamente o seu patrimônio.
Elas simplesmente não crêem que o evento possa
se dar com elas. Acham sempre que as coisas
ruins só acontecem com os vizinhos. Por isso,
muitas pessoas não fazem seguro.
Elas consideram apenas as probabilidades de o
evento se dar e não nas conseqüências, se o
evento se der.
Essas pessoas, em geral, têm uma tendência a
comprar o mínimo indispensável e o mais barato
possível, mesmo tendo recursos para comprar o
produto ou serviço de melhor qualidade.
É certo que também existem pessoas sensatas que
racionalizam e consideram e ponderam igualmente
a importância dos dois elementos.
MEDO
O medo é uma emoção. Portanto, é uma reação do
cérebro a uma imagem indutora. Faz parte dos
mecanismos biorreguladores com os quais nascemos
equipados, visando a nossa sobrevivência.
No caso do medo, o sítio do cérebro responsável
pela sua indução é uma estrutura conhecida como
amígdala, situada em regiões profundas de cada
lobo temporal.
As amígdalas são indispensáveis para
reconhecermos o medo em expressões faciais, para
sermos condicionados pelo medo e até mesmo para
expressarmos o medo.
Conforme nos revela o neurocientista António
Damásio, estudos realizados com equipamentos de
neuroimagem revelaram que quando as duas
amígdalas estão danificadas (por exemplo,
calcificadas) a pessoa é desprovida do fenômeno
do medo.
Como não existem dois organismos iguais, podemos
mesmo dizer (grosso modo) que, biologicamente, o
nível de medo pode variar de pessoa para pessoa
de acordo com a sanidade e desenvolvimento das
suas amígdalas cerebrais.
Mas, o medo também está relacionado a
experiências herdadas geneticamente e nesse caso
ele é inconsciente e automático.
Por exemplo, um filhote de passarinho em um
ninho no alto de uma árvore, ao ver a imagem de
um objeto grande sobrevoando o local, não tem a
mínima idéia de que aquilo possa ser uma águia
predadora e não tem nenhum senso consciente do
perigo da situação.
Apesar disso, ele se agacha o mais que pode no
ninho e procura manter-se o mais imóvel que
puder tentando tornar-se invisível para a águia.
Finalmente, o medo também está relacionado com
as imagens adquiridas na vida presente e nesse
caso ele pode ser consciente.
Alguém que já tenha passado pela experiência de
ver seu imóvel furtado, certamente, tem muito
mais medo do que alguém que nunca tenha passado
por essa experiência.
Obviamente, quanto maior for o medo de uma
pessoa, mais ela buscará se proteger e será mais
propensa a pagar mais por uma marca que lhe
inspire mais CONFIANÇA.
Isso também não tem muito a ver com o seu poder
aquisitivo.
Uma pessoa que já tenha passado por muitas
experiências de furto e roubo, mesmo sem ter
muitos recursos, às vezes, prefere abrir mão de
outras satisfações para pagar mais por uma
empresa cuja marca lhe inspire mais CONFIANÇA.
Por outro lado, pessoas que nunca passaram por
nenhuma experiência desse tipo, ainda que tenham
muitos recursos, às vezes, preferem comprar
marcas mais baratas, porque não têm tanto medo
assim.
Mas, não são apenas esses dois fatores (aversão
ao risco e medo), que levam as pessoas a optarem
pelo produto ou serviço mais caro. No próximo
capítulo abordaremos outros fatores.
Igual, só com essas duas primeiras considerações
acima já dá para perceber que o fator
CONFIANÇA
faz muita gente preferir pagar mais caro.
Prof. Faccin
professor@faccin.com.br
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