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Muitos clientes preferem pagar mais caro

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4ª Parte

Neste texto, vamos abordar mais alguns fatores que costumam levar muitos clientes a preferirem pagar mais caro.

BOA PARTE DA COMUNICAÇÃO HUMANA É NÃO-VERBAL

Edward T. Hall, em seu livro The Silent Language, identifica dez ‘sistemas primários de mensagem’ que compõem a comunicação humana. Apenas parte de um desses sistemas, a comunicação interpessoal, envolve linguagem verbal. Os outros nove sistemas baseiam-se em formas não lingüísticas de comunicação.

Os especialistas geralmente concordam que boa parte da comunicação interpessoal humana (nada menos que 80%) ocorre através de meios não-verbais, como contato físico (toque), contato visual, fixação do olhar e dilatação da pupila, pistas visuais como roupas e adornos, entonações da voz, intensidade do tom, gesticulações, postura do corpo, distância entre as partes, odores, etc. Não fosse assim, os surdos-mudos não sobreviveriam.

Por meio desses canais não verbais, as pessoas trocam mensagens e significados. Por exemplo: quando um rapaz dá um sorrisinho maroto e uma piscadinha para uma garota, ela entende de pronto a mensagem. Não é preciso que ele diga nada.

De acordo com seu proponente, George L. Trager, traços paralingüísticos são aqueles que acompanham a cadeia da fala nos atos de comunicação. Ou seja, por paralinguagem entende-se tudo aquilo que acompanha a linguagem e traz alguma contribuição ao conteúdo do enunciado.

O tom de voz e a maneira de falar são fatores que influenciam a interpretação da mensagem vocal. Por exemplo: alguém que diz ‘tudo bem’ talvez transmita exatamente o oposto se adotar um tom de voz sarcástico.

O Presidente Lula é um bom exemplo do uso da paralinguagem na comunicação interpessoal. Ele conquista seus clientes (eleitores) muito mais pelas gesticulações e expressões fisionômicas que utiliza nos seus discursos que pela qualidade do conteúdo das mensagens em si. Podemos mesmo dizer que ele é um bom ator. No caso, de um único personagem.

Ele desenvolveu tanto essa arte de comunicação através da paralinguagem que, através dela, conseguiu convencer mais de 60 milhões de brasileiros que o ‘produto Lula’ é o único capaz de resolver os graves e complexos problemas econômicos e sociais de uma economia tão moderna quanto a brasileira.

E pasme: ele conseguiu essa façanha, apesar de todos os seus ‘clientes’, no caso eleitores, saberem que o ‘produto Lula’, é semi-alfabetizado, que é um ex-operário que não trabalha há mais de 30 anos, que fala tudo errado, que sequer sabe ligar um computador, etc.

Como diz o dito popular: ‘nem sempre vende mais aquele que tem o melhor produto ou o melhor preço, mas o que vende melhor o seu produto’. E, olhando por esse aspecto, podemos mesmo dizer que o Lula é um ótimo vendedor.

Como ele não tem cultura e domínio da linguagem literal, aprendeu como poucos a usar e abusar dos recursos da paralinguagem. E se ela funciona para ele, também pode funcionar para qualquer vendedor que se dedique a desenvolver essa arte.

Aí está o xis da questão: os grandes atores fazem o público rir ou chorar, não tanto pelo conteúdo literal das palavras que pronunciam, mas pela capacidade mímica que possuem. Suas gesticulações e expressões fisionômicas comunicam muito mais que as palavras, em si.

A literatura disponível sobre paralinguagem é bastante extensa e se você tiver interesse no tema, por exemplo, o livro ‘O Corpo Fala’ - A Linguagem Silenciosa da Comunicação Não-verbal, de Pierre Weil e Roland Tompakow, poderá lhe ajudar.

A questão é que a linguagem verbal se comunica com o raciocínio lógico consciente e a paralinguagem toca o ‘coração’ e produz emoções ou reações inconscientes.

E, como nós somos seres emocionais, muito mais que racionais (mais de 95%), se uma mensagem não contiver um conteúdo emocional, ela não tem muito significado para nós e muito provavelmente ela não será armazenada na nossa mente e, portanto não estará disponível no futuro.

Então, para se ter mais êxito na transmissão de uma mensagem é preciso utilizar-se de todos os canais de comunicação interpessoal disponíveis: verbal e, principalmente, não-verbal.

Ainda, há que se considerar que o mundo econômico se tornou por demais complexo e não se pode esperar que as pessoas reconheçam e analisem com maestria todos os aspectos de cada produto, serviço ou empresa com os quais se deparam no exíguo espaço de apenas um dia. O psicólogo Robert Cialdini afirma que ‘não temos tempo, energia e nem capacidade para tanto’.

Por isso, sempre que nos deparamos com algo inusitado reagimos mais intuitivamente que conscientemente. O renomado filósofo britânico Alfred North Whitehead reconheceu essa característica da vida moderna ao afirmar que “a civilização avança ampliando o número de operações que pode desempenhar sem pensar”.

Aqui nos defrontamos com um grande paradoxo: talvez, o maior dom dos humanos, e que os diferencia decididamente dos demais seres, é a sua capacidade de elaborar raciocínios altamente complexos (pensar). Apesar disso, as pessoas não gostam de pensar. Não gostam de utilizar esse maravilhoso dom que Deus gentilmente as dotou. Sir. Joshua Reynolds escreveu: ‘não há expediente que um homem deixará de usar para evitar o árduo trabalho de pensar’.

Não obstante, a maioria dos vendedores insiste em concentrar seus esforços apenas nas características e benefícios racionais dos seus produtos e serviços, obrigando os clientes a fazerem exatamente aquilo que não gostam de fazer: ‘pensar’!

Se os vendedores aprendessem a utilizar os recursos da paralinguagem poderiam influenciar muito mais o julgamento dos clientes do que só com o conteúdo literal do seu discurso.

Por exemplo: se o cliente achar que o vendedor, com base em seu tom de voz e suas expressões fisionômicas, parece honesto ou sincero, provavelmente atribuirá mais peso à sua mensagem literal e, consequentemente, estará mais propenso a comprar dele, ainda que o seu preço seja maior.

No caso de aparente contradição entre o que o vendedor diz e a maneira como diz, o cliente atribuirá mais crédito à maneira como diz do que ao conteúdo literal das suas palavras.

É interessante notar que vendedores com características neotênicas (persistência de características físicas infantis na fase adulta), como por exemplo, grandes olhos redondos e testa alta, invocam infância, inocência e ingenuidade e por isso, transmitem mais confiança aos compradores.

As pessoas tendem a perceber as mensagens transmitidas por indivíduos com cara de bebê como mais sinceras, pois vêem os bebês como inocentes e honestos (transmitem mais confiança).

Em vendas, ademais de ser honesto, também é preciso aparentar ser honesto, porque em última instância, o processo de compra e venda é resultado da confiança, que nada mais é que uma segurança íntima de bom procedimento. Se o cliente não confiar no vendedor, dificilmente acreditará que o que ele está falando é verdade.

Vendedor com jeito ou cara de ‘esperto’, mesmo que não seja, precisa de uma ‘recauchutagem’ na aparência para poder ter êxito...

Nesse aspecto o Alckmin leva certa vantagem. Pode até ser que ele não seja, mas que ele tem cara de honesto, isso ele tem. E isso comunica. Talvez, também por isso ele esteja conseguindo uma votação tão expressiva, mesmo sendo desconhecido ao nível nacional.

Aliás, é senso comum que a maioria dos eleitores não está muito interessada em ‘comprar’ o conteúdo literal das mensagens dos candidatos. O programa de governo, que em última instância seria o que deveria atrair os eleitores, simplesmente foi deixado de lado. A disputa está totalmente voltada para o lado emocional. Ambos os candidatos estão tentando ganhar os eleitores pelo coração e não pela razão.

Com o processo de compra e venda de qualquer produto não é diferente. Os compradores, principalmente os que estão comprando o produto ou serviço pela primeira vez, não têm conhecimentos técnicos suficientes para avaliar racionalmente as propostas dos diversos concorrentes.

Suas decisões são muito mais intuitivas que racionais. Mais de 95% do processo de compra é puramente inconsciente. Por isso, mais de 70% das compras são por puro impulso.

Apesar disso, a maioria dos vendedores se fixa apenas na lógica do ‘preço baixo’ do seu orçamento e não naquilo que os clientes querem comprar: confiança!

Os canais não-verbais de comunicação ou paralinguagem dos vendedores podem exercer muito maior influência sobre o comportamento dos clientes do que a qualidade do conteúdo literal dos seus discursos, porque é através deles que se pode transmitir aos clientes aquela segurança íntima de procedimento chamada ‘confiança’.

Em última instância, são esses atributos intangíveis da paralinguagem que unem emocionalmente as pessoas. São eles que estão conectando o Lula a mais de 60 milhões de clientes e não a qualidade do ‘produto Lula’ em si ou a qualidade do conteúdo literal das suas mensagens.

Não utilizar-se adequadamente desses recursos da paralinguagem é o mesmo que abrir mão de 4/5 do poder da comunicação interpessoal humana. É atuar apenas naqueles 5% racionais do processo de compras que obrigam os clientes a fazerem o que não gostam: tomar decisões racionais!

Conhecimento profundo dos produtos e serviços que você vende, boa educação, aparência profissional, odores agradáveis (perfumes discretos), vestimentas adequadas, muita disposição para o trabalho, astral elevado, positivismo, simpatia, empatia, humildade, maneira clara, objetiva, convincente e confiável de expor as idéias, material visual de vendas de boa qualidade, etc. podem fazer a balança pender favoravelmente para o lado da sua empresa, ainda que seu preço seja maior que o da concorrência.

A INTERAÇÃO DAS MENTES INCONSCIENTES DOS CLIENTES E DOS VENDEDORES.

Dois exemplos dados por Gerald Zaltman, diretor do Mind of the Market Laboratory, da Harvard Business School, ajudam a ilustrar as interações sutis que podem ocorrer entre vendedores e clientes.

Num estudo sobre comunicação inconsciente (telepática), pacientes de uma clínica odontológica receberam um placebo de analgésico (substância inerte ou remédio de mentirinha) durante um procedimento tipicamente doloroso.

Porém, os pacientes só não sentiam dor, apenas se os dentistas também tivessem sido enganados e acreditassem que o produto ministrado aos pacientes era analgésico autêntico.

Ou seja, comportamentos inconscientes de confiança por parte dos dentistas transmitiam credibilidade aos pacientes e eles não sentiam dor, apesar de não terem tomado analgésico de verdade.

Quando os dentistas eram informados previamente de que o medicamento era placebo (não genuíno) e, portanto eles apenas simulavam autenticidade aos seus pacientes, estes experimentavam considerável desconforto.

Algo no comportamento inconsciente destes dentistas incrédulos sinalizava para os pacientes que algo estava errado.

Os pacientes recebiam e processavam o sinal telepático e agiam inconscientemente com base nessa pista não física e não verbal, embora acreditando conscientemente que tinham recebido uma dose de analgésico autêntico.

Um segundo estudo concluiu (para surpresa de ninguém) que a confiança dos vendedores no produto ou serviço que vendem, era um excelente previsor do sucesso das vendas.

Mais interessante, constatou-se que a confiança dos vendedores transmite, de maneira sutil e não-verbal ou mímica, certo senso de autenticidade que ‘acrescenta grande poder de persuasão, mesmo quando o produto ou serviço não é o melhor disponível’.

Por outro lado, como se viu no caso dos dentistas, confiança fingida não funciona. Por isso, se o vendedor não acredita no produto ou serviço que está vendendo e na empresa para a qual está trabalhando, dificilmente irá conseguir vender. E, menos ainda, por um preço maior que o da concorrência.

Aqui nos deparamos com um problema complexo e de difícil solução: o convívio estreito e de longo prazo expõe os defeitos. Diz o dito popular: ‘se você quiser conhecer alguém, de verdade, conviva vinte e quatro horas ininterruptas com esse alguém’.

Isso é assim porque faz parte do background social do ser humano mascarar os seus defeitos e ressaltar as suas virtudes. Mas, é preciso ser um grande artista para conseguir ocultar a verdade por vinte e quatro horas ininterruptas.

O vestuário da moda, a maquiagem, os adornos e objetos pessoais (inclusive carros) etc. são amplamente utilizados para ocultar defeitos e mostrar ‘qualidades’.

Por outro lado, a sociedade aceita com naturalidade essa característica humana de parecer ser o que não é. Tanto é assim que muitas mulheres, costumeiramente, retocam o batom e a maquiagem em público e dizem com naturalidade que pintaram o cabelo, colocaram silicone nos seios, etc.

A verdade é que os seres humanos sempre gostaram de usar máscaras. Na China, as cores das máscaras representam sentimentos e no Japão, os homens usavam máscaras representando personagens femininos. Em Veneza, no século XVIII, o uso de máscaras tornou-se um hábito fazendo parte do vestuário da época. As crianças gostam muito de vestir máscaras, principalmente as de super-heróis que elas vêem na TV.

O teatro de máscaras existe desde a pré-história nos rituais religiosos. Mas foi na Grécia Antiga que o teatro de máscaras explorou muito essa faceta humana de parecer ser o que não é.

Em parte, isso também tem a ver com a necessidade de atração de um parceiro para o acasalamento e conseqüente perpetuação da espécie animal. Os animais procuram exibir seus ‘dotes’ apenas nos momentos de atração sexual ou para impor medo e repelir algum concorrente que tente se aproximar.

Mas, nós humanos vivemos numa sociedade complexa onde precisamos o tempo todo atrair outros tipos de parceiros não-convencionais para o reino animal como empregos, chefes, clientes, etc. e isso faz com que nos tornemos exímios dissimuladores dos defeitos e expertos enaltecedores de nossas virtudes.

A questão é que todos nós temos um mundo de defeitos que procuramos esconder e algumas poucas qualidades que procuramos ressaltar. Afinal somos seres humanos...

E como as empresas são formadas por nós, seres humanos, não podem ser diferentes. A luta pela sobrevivência faz com que escondam o mais que podem os seus defeitos e enalteçam exageradamente as suas qualidades.

E é  aqui que entra a questão das vinte e quatro horas. O relacionamento íntimo e de longo prazo dos vendedores com a sua empresa, expõe os inúmeros defeitos que ela possui muito mais que as poucas qualidades dos produtos ou serviços que vendem e da própria empresa para a qual trabalham.

Por outro lado, como eles não convivem as vinte e quatro horas com a enormidade de defeitos da concorrência, só enxergam aquilo que ela ressalta com grande habilidade: as suas poucas qualidades.

É o tal de ‘a comida do vizinho ser mais saborosa’, ‘a mulher do vizinho ser mais bonita’, etc.

Certa vez, uma vendedora me pediu demissão e foi trabalhar na concorrência. Passados menos de 60 dias, ela retornou à empresa pedindo desculpas e o seu emprego de volta...

A questão é que, a forte pressão exercida no dia-a-dia pelos agentes e fatores do mercado (clientes, concorrência, dificuldades econômicas, etc.) sobre os vendedores, faz com que eles, literalmente acabem se convencendo de que a concorrência faz exatamente a mesma coisa (ou até mais) por um preço mais barato.

Isso faz com que os vendedores mais frágeis e menos preparados profissionalmente comecem a reclamar o tempo todo das deficiências da empresa para a qual trabalha e dos produtos e serviços que vende.

É claro que, sem o perceber, esses vendedores acabam perdendo a confiança naquilo que vendem e na empresa para a qual trabalham e, telepaticamente, eles acabam transmitindo essa mensagem de ‘produto falso’ para os seus clientes. O resultado é o aprofundamento da incredulidade com a queda nas vendas.

Sem o perceber também, os vendedores incrédulos acabam disseminando a desconfiança para toda a empresa, gerando um baixo astral que, inevitavelmente, se trasladará para o mercado, de uma forma ou de outra.

Uma equipe desconfiada e abatida moralmente não tem firmeza para defender os valores da empresa e dos produtos e serviços que vende. Muito menos tem capacidade para vender por um preço maior que o da concorrência.

Como você pode ver, Einstein tinha razão ao afirmar que ‘nem tudo que conta, pode ser contado. E nem tudo que pode ser contado, conta’.

E na área de vendas, há inúmeros fenômenos que não podem ser contados ou pelo menos, bem contados (ainda), mas que contam. E, contam muito. Aliás, contam muito mais (95%) que o tal do ‘preço baixo da concorrência’ (5%).

 

Prof. Faccin

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