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Muitos clientes preferem pagar mais caro

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5ª Parte

Não fosse assim, só existiria um único produto, um único serviço, um único fabricante, um único prestador de serviços, uma única loja, etc. Ou seja, só existiria aquele que tivesse o preço mais barato. Mas isso não é assim.

Numa rápida busca no site do supermercado Pão de Açúcar, encontramos a cerveja Malta a R$ 0,69 e a Skol a R$ 1,29, um preço 53% maior. Apesar disso, a Skol é a cerveja mais vendida no Brasil.

Isso é assim porque o preço de uma determinada categoria de produto ou serviço não é um ponto fixo.

OS PREÇOS FLUTUAM DENTRO DA BANDA DA CATEGORIA

Ou seja, todos os produtos e serviços de uma mesma categoria não têm o mesmo preço. Eles variam dentro da faixa de preços da categoria.

E como demonstrado no caso acima, a Skol, que tem o preço mais alto vende mais. Portano, é preciso banir a idéia de que é preciso ter um preço mais baixo que a concorrência para poder vender.

Veja: os preços das marcas populares de cerveja se situam numa média de R$ 1,00, variando  entre (+-) R$ 0,70 a R$ 1,30.

De (+-) R$ 1,30 a R$ 2,50 estão as marcas tipo Premium que buscam um outro nicho de mercado consumidor e acima disso, até uns R$ 14,00 encontram-se as cervejas nacionais chamadas ‘artesanais’ destinadas a um público apreciador bastante restrito.

Portanto, dentro de cada banda de flutuação estamos falando de cervejas similares com pequena diferenciação de qualidade e sabor, mas que buscam, basicamente uma mesma faixa de público alvo: popular, premium ou artesanal.

O preço maior ou menor das cervejas, como de resto de qualquer outra categoria de produto, dentro da banda normal de variação, é mais em função dos custos do fabricante, da qualidade da propaganda, do marketing, das vendas, da aceitação da marca (percepção de valor),  sabor, etc.

Em 2004 a participação de mercado da cerveja Antárctica passou de 8,7% para 11,4% devido à campanha da ‘BOA’ feita pela Juliana Paes e o Bussunda. Vale lembrar que cada ponto percentual conquistado no mercado de cervejas equivale a um faturamento adicional de R$ 100 milhões de reais. E também vale ressaltar que o preço da Antártica é uns 12% acima da média do mercado +- R$ 1,12.

Dessa forma, não há o que se falar em mais caro ou mais barato dentro de cada banda. Mas de produtos similares, porém com suas pequenas diferenciações de qualidade e preço, aceitas pelo mercado.

Tampouco se poderia falar que o poder aquisitivo do público daquela categoria de cerveja faz muita diferença, porque se o sujeito gosta da cerveja Skol, por exemplo, ele prefere deixar de comer do que tomar outra cerveja. Ainda que ela seja mais barata.

Nessa altura você poderia estar pensando: mas, Professor, produto de consumo é diferente!

Lamento decepcioná-lo, mas guardadas as devidas proporções, o efeito da propaganda, do marketing e das vendas nos preços é igual para qualquer produto ou serviço.

Em geral as melhores marcas de uma determinada categoria podem conseguir um preço até 20% ou 30% maior que a média (vide Skol).

Segundo esse conceito, só estaríamos falando de um produto ou serviço ‘mais caro’ se ele fosse um produto de qualidade Popular com preço de produto Premium ou Artesanal. Aí seria complicado vender porque se estaria enganando o consumidor.

E isso é assim para todas as categorias de produtos e serviços, sejam eles populares ou não. Inclusive para o produto ou serviço que você vende.

Por outro lado, é impensável, técnica e economicamente falando, imaginar que duas empresas possam praticar exatamente o mesmo preço.

Contabilmente falando, seria impossível haver dois produtos ou serviços concorrentes com o preço exatamente igual, já que o preço contábil é (ou deveria ser) o resultado de um ajuste preciso entre os custos de produção ou da mão-de-obra, no caso de serviços; custos percentuais (tributários ou não) sobre o preço de venda e o lucro; pró-rateio dos custos administrativos; e quantidades vendidas.

Seria bem mais fácil acertar várias vezes na Mega-Sena do que duas empresas conseguirem a façanha de ter exatamente os mesmos custos administrativos e venderem exatamente as mesmas quantidades todos os meses.

Portanto, se os preços dos produtos e serviços da sua empresa forem até uns 20% ou 30% maiores que a média, devido a que eles possuem valores agregados reconhecidos pelo mercado, não se poderia dizer que são mais caros. Mas, que estão dentro da banda normal de flutuação da categoria e, portanto para vender mais é só preciso ajustar melhor o marketing, a propaganda e as vendas.

A questão é que os clientes têm desejos e necessidades e sabem que para satisfazê-los é preciso pagar por isso.

Agora, o quanto eles estão dispostos a pagar pela solução, depende de muitas variáveis.

Algumas (poucas) variáveis são objetivas e outras (muitas) são puramente subjetivas, como por exemplo: tamanho do problema; nível de consciência da gravidade do problema; nível da disposição para satisfazer seu desejo ou resolver o problema; nível da aptidão financeira; nível da oferta; nível de confiança no fornecedor ou prestador do serviço; nível do envolvimento emocional com a marca; nível da fidelidade ou comprometimento com a marca; nível de mistério que envolve a marca; nível de intimidade com a empresa; etc.

Mas os clientes também aceitam pagar mais devido a outros fatores como: conveniência ou facilidade para comprar (lojas de conveniência cobram mais caro pela facilidade); atenção pessoal (butiques); rapidez (Submarino entrega ultra-rápido); qualidade da informação; nível de conhecimento do vendedor; qualidade, cordialidade e rapidez da assistência técnica; ambiente da negociação; inovação incorporada no produto ou serviço; personalização (a tal da customização); status e prestígio; etc.

Além disso, existem inúmeros outros fatores psicológicos, alguns já abordados amplamente nesta série de ensaios como, aversão ao risco, medo, touchpoints, símbolos, cores, nomes, linguagem não-verbal, comunicação extra-sensorial, etc. que levam os clientes a pagar mais por um mesmo produto ou serviço.

Veja mais este interessante fator psicológico que leva muitos clientes a preferirem pagar mais caro por um determinado produto ou serviço:

ATRAÇÃO FÍSICA DO VENDEDOR

A aparência física do vendedor pode fazer muita diferença no preço que o cliente aceita pagar por um produto ou serviço, porque de uma forma geral, tendemos a associar ‘boa aparência’ com ‘bom’!

Segundo o psicólogo Robert Cialdini, as pessoas de boa aparência levam nítida vantagem na interação social.

Os cientistas sociais chamam isso de ‘efeito halo’ ou efeito da auréola da pessoa que lhe propicia brilho ou esplendor moral; prestígio, glória, etc.

Pesquisas mostram que atribuímos automaticamente aos indivíduos de boa aparência traços favoráveis como ‘talento’, ‘bondade’, honestidade’ e ‘inteligência’.

Conforme Cialdini, um estudo sobre as eleições federais canadenses mostrou que candidatos atraentes recebiam um número de votos 2,5 vezes superior ao dos candidatos sem atrativos físicos.

Outro estudo citado por ele constatou que o esmero na apresentação dos candidatos em uma entrevista de emprego simulada, foi responsável por mais decisões de contratação do que as competências profissionais, e isso, apesar de os entrevistadores dizerem que a aparência desempenhara papel pequeno em suas escolhas...

Uma outra pesquisa (essa mais preocupante) indicou que a Justiça também está suscetível às influências da boa aparência, já que pessoas de boa aparência geralmente recebem tratamento altamente favorável no sistema Judiciário.

Num estudo realizado na Pensilvânia, pesquisadores classificaram a atratividade física de 74 réus no início de seus julgamentos.

Muito mais tarde, quando os pesquisadores verificaram os arquivos do tribunal para saber o resultado dos casos, descobriram que, aos homens bonitos, haviam sido aplicadas penas significativamente mais leves. Os réus atraentes tinham duas vezes mais chance do que os não-atraentes de evitar a prisão.

Como se pode ver, até os criminosos, se forem homens ou mulheres bonitas, levam vantagem...

Aqui no Brasil, no dia 20/07/06, o velho e feio, Antônio Caetano da Silva pegou 124 anos de prisão por ter auxiliado no seqüestro e estuprado Liana Friedenbach que afinal foi morta junto com seu namorado Felipe Caffé em 2003.

Exatamente dois dias depois, 22/07/06, a Justiça condenou a jovem e bonita Suzane von Richthofen a apenas 19 anos de prisão por ter ajudado a planejar e a matar seus próprios pais Manfred e Marisia.

Eu não sei se a beleza e a feiúra tiveram algo a ver com o tamanho da pena, mas como diz o dito popular: ‘yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay...’

Em outro estudo sobre a indenização concedida na encenação de um caso de negligência, quando o réu era mais bonito do que a vítima, era condenado a pagar em média U$ 5.625. Mas, quando a vítima era mais atraente, o réu era condenado a pagar em média U$ 10.051....

E mais, tanto os jurados do sexo masculino quanto do sexo feminino exibiram esse favoritismo com base na atratividade.

No clássico ensaio, The Economics of Discrimination, Gary S. Becker, Prêmio Nobel de Economia, disse que a intensidade da discriminação pode ser medida pela diferença de remuneração e dificuldade de conquistar um emprego.

Pesquisas com crianças do Ensino Fundamental mostraram que os adultos consideram os atos agressivos menos perversos quando executados por uma criança atraente. E que os professores supõem que crianças bonitas são mais inteligentes do que seus colegas menos atraentes.

Pesquisa realizada pelo Instituto Gallup, com 5 mil homens e mulheres, entre 18 e 64 anos, do Brasil, Estados Unidos, Canadá, Austrália e França, mostra que os brasileiros consideram a aparência importante.

Dos entrevistados em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife, 61% consideram a atração física muito importante para prosperar na sociedade contra 26% dos outros países.

Os brasileiros são os que mais aceitariam submeter-se a tratamentos estéticos (75%), os Estados Unidos vêm em segundo lugar com 41%.

As pessoas atraentes têm mais probabilidade de conseguir ajuda quando precisam e são mais persuasivas quando a questão é mudar as opiniões de uma platéia.

Isso demonstra que as pessoas de boa aparência gozam de enorme vantagem social em nossa cultura. Elas são mais queridas, mais persuasivas, ajudadas com mais freqüência e consideradas detentoras de traços de personalidade e capacidades intelectuais melhores, diz Cialdini.

Ter uma boa aparência representa não apenas que a pessoa tem boa saúde física, mas também que tem uma auto-estima elevada e que busca a qualidade de vida, fatores que são muito valorizados pelos clientes.

Subjetivamente, os clientes associam a boa aparência do vendedor ao possível êxito que ele está tendo nas vendas do produto ou serviço que está vendendo. E se todo o mundo está comprando... é porque é bom...

Por isso, faz muito sentido para as pessoas que têm contato com o público cuidarem da sua aparência.

Como se vê, existem muito mais valores subjetivos do que objetivos nas decisões de compras.

E são exatamente esses “valores” que fazem a diferença naquilo que as pessoas estão dispostas a pagar para satisfazer seus desejos ou solucionar seus problemas.

Einstein realmente tinha razão ao afirmar que ‘nem tudo que conta, pode ser contado. E nem tudo que pode ser contado, conta’.

E na área de vendas, há inúmeros fenômenos que não podem ser contados ou pelo menos, bem contados, mas que contam. E, contam muito. Aliás, contam muito mais (95%) que o tal do ‘preço baixo da concorrência’ (5%).

 

Prof. Faccin

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