6ª e Última parte
Para
finalizar esta série de ensaios (senão vai virar uma
novela...), vamos abordar mais dois temas interessantes
que demonstram o porquê muitos clientes preferem pagar
mais caro.
EFEITO PLACEBO
Há um ano o jornal O Estado de São Paulo convidou seis
experts bebedores de cervejas para participar de um
teste cego de degustação das 10 marcas tipo ‘Premium’
mais consumidas no Brasil.
Para surpresa de todos, a marca preferida foi a
Heineken. Uma cerveja que teve seus momentos de glória
quando começou a ser produzida aqui na década de 1980,
mas que ultimamente era pouco consumida, muito embora
seu preço fosse atraente em relação às demais.
Mais recentemente, um novo teste de degustação foi feito
com as principais marcas de cervejas tipo ‘Popular’ e
novamente uma grande surpresa: a Kaiser foi eleita a
melhor, apesar de sua participação de mercado ser
inferior a 7%, enquanto que a preferida Skol tem mais de
30% de participação. E isso, apesar de o preço da Kaiser
ser menor que o da Skol.
Ou seja, apesar de a Kaiser ter sido eleita a melhor e
de ter um preço menor, a maioria prefere pagar mais pela
Skol.
Todos sabem que os remédios genéricos possuem exatamente
as mesmas substâncias ativas que os remédios de marca.
Todavia, se o remédio é para os nossos filhos,
preferimos pagar mais caro pelo remédio de marca.
Agora, já existe até genéricos mais caros devido à
marca, como Eurofarma, Medley, etc.
Segundo os entendidos, os processadores para computador
da AMD (megamultinacional) são tão bons quanto os da
INTEL. Alguns acham até que é melhor. Inclusive, a AMD
se antecipou à INTEL no lançamento de processadores de
64 bits. Portanto, uma empresa de tecnologia de
vanguarda.
Apesar disso, ela tem de vender seus processadores por
um preço inferior ao da INTEL. Senão...
A pergunta que se faz é: se uma cerveja agrada mais e é
mais barata, porque o público prefere a que agrada menos
e é mais cara? Se o componente ativo de um medicamento
sem marca é exatamente igual ao de outro com marca, e
ainda é mais barato, porque o público prefere comprar o
produto de marca, apesar de ser mais caro? Se um
processador é tão bom quanto o outro e ainda é mais
barato, porque o público prefere o outro mais caro?
Sem dúvida, boa parte pela preferência de marca tem a
ver com o chamado efeito placebo, (agradar, em latim).
Placebo é uma forma farmacêutica sem atividade, cujo
aspecto é idêntico ao de outra farmacologicamente ativa.
As endorfinas, substâncias encontradas no cérebro,
apresentam estrutura química semelhante à de narcóticos
derivados do ópio e atuam de maneira muito parecida com
a morfina.
Quando se ministra analgésicos placebos a pacientes em
pós-operatório, muitos deles experimentam atenuação da
dor. Ou seja, a crença de que foram medicados
adequadamente é suficiente para estimular a atuação das
endorfinas que é um analgésico real de ocorrência
natural no corpo humano. Portanto, a crença é componente
fundamental do efeito placebo.
Segundo o Dr. Zaltman, nossas crenças, expectativas e,
possivelmente, experiências anteriores provocam mudanças
biológicas mais ou menos equivalentes em magnitude e
efeito às produzidas por substâncias químicas conhecidas
por exercerem os mesmos efeitos.
Tudo isso nos mostra que parte importante das decisões
de compras não são lógicas ou racionais como se imagina,
mas emocionais e tem a ver com as crenças e expectativas
dos clientes em relação à marca.
Como se vê, Einstein realmente tinha razão ao afirmar
que ‘nem tudo que conta, pode ser contado. E nem tudo
que pode ser contado, conta’.
Dessa forma, se sua marca tiver melhor imagem que a
concorrência, na sua região, sua empresa pode e deveria
vender por um preço maior que o da concorrência. Essa é
uma regrinha básica da psicologia do mercado.
Aliás, os clientes esperam que as marcas com melhor
imagem sejam mais caras, até para justificar suas
crenças e expectativas em relação a elas (se é mais
caro, deve ser melhor...).
Se o nível de preço não for compatível com o nível de
qualidade esperada, o mercado até pode desconfiar. Os
clientes podem ficar em dúvida a respeito da tal
qualidade apregoada. O preço não pode contradizer a
imagem da marca. Tem de ser compatível.
Por outro lado, se sua marca for a de melhor imagem do
mercado, não fique aborrecido que porque seus
concorrentes vendem por um preço mais barato. Eles não
têm alternativa. Ainda que quisessem e se esforçassem
para conseguir um preço melhor, o mercado não aceitaria
pagar.
Ou seja, esse fenômeno de concorrente precisar ter preço
mais baixo para poder vender (às vezes até muito mais
baixo), afeta inclusive as empresas de grande porte, ou
grandíssimo porte, como é o caso da AMD e a maioria dos
fabricantes de bens de consumo.
E, isso não é ruim. Pelo contrário. O preço é o fator
que mais diferencia as empresas, produtos e serviços. As
melhores marcas, aquelas mais aceitas pelo mercado, usam
a concorrência como parâmetro de comparação para
conseguir se diferenciar e vender por um preço melhor,
aumentando a rentabilidade.
Agora, se a marca de melhor imagem ficar tentada a
baixar o preço para ‘competir em igualdade de condições’
com a marca de preço mais baixo, poderá se arruinar
porque estará se nivelando e referendando a marca mais
barata. Afinal, se os preços são iguais é porque é tudo
igual... Aí complica...
Reduzir os preços para competir com as marcas mais
baratas pode até mesmo frustrar os clientes que tinham
uma expectativa de qualidade em relação à sua marca. Uma
Mercedez não pode custar menos que um Fuska.
Agora, se apesar de sua marca ser a mais reconhecida do
mercado e ainda assim a sua equipe estiver enfrentando
dificuldades com a concorrência mais barata, esteja
certo de que o problema não é a concorrência mais barata
ou ‘predatória’ como se costuma dizer.
Nesse caso, o ideal é rever a estratégia e a logística
de marketing, vendas e propaganda e também reciclar com
treinamento e cursos de capacitação toda a equipe
comercial.
Se precisar de ajuda, estamos à disposição. Esse é o
nosso dia-a-dia.
OS CLIENTES NÃO COMPRAM RACIONALMENTE
Os clientes não têm como comprar em base lógica ou
racional, seja por não disporem de tempo suficiente para
pensar no assunto, como também pela impossibilidade de
adquirir todos os conhecimentos técnicos adequados sobre
os produtos e serviços que você vende para uma tomada de
decisão consciente.
E isso não tem nada de novidade. Afinal, se até mesmo
muitos vendedores têm deficiências de conhecimentos
técnicos sobre o que vendem, imagine os clientes.
Apesar de parecer um contra-senso imaginar que pessoas
inteligentes, cultas e responsáveis tomem decisões
apressadas e sem muito pensar, a verdade é que o ritmo
da vida moderna exige que nós utilizemos algumas poucas
pistas para decidir, porque não nos é dado o tempo que
gostaríamos para aprender tudo, sobre tudo, e nos
mínimos detalhes.
Por outro lado, apesar de termos racionalidade
suficiente para tomar boas decisões, ainda assim, temos
limitações de capacidade intelectual e, em nome da
‘eficiência’, às vezes precisamos nos afastar dessa
tomada de decisão demorada, sofisticada e complexa e
reagir de maneira mais automática, primitiva e unívoca.
Assim, temos de confiar em algumas dicas universais da
cultura humana do tipo ‘se é caro deve ser melhor’; ‘se
é tudo igual, então compro o mais barato’, ‘prefiro
comprar esta marca porque confio nela’; ‘a proposta do
concorrente me pareceu mais interessante, mas prefiro
comprar deste vendedor que é mais simpático e
confiável’; etc.
Alvin Toffler em seu livro ‘O Choque do Futuro’
apresentou os primeiros exemplos da rapidez crescente e
sem precedentes da vida quotidiana moderna.
‘Viajamos mais e mais rápido; mudamo-nos com mais
freqüência para novas residências, que são construídas e
demolidas mais rapidamente; entramos em contato com mais
pessoas e temos relacionamentos mais curtos com elas’.
‘No supermercado, na concessionária de automóveis e no
Shopping Center, nos deparamos com uma série de escolhas
entre estilos e produtos que eram desconhecidos no ano
anterior e que provavelmente estarão obsoletos ou serão
esquecidos no ano seguinte.
Novidade, transitoriedade, diversidade e aceleração são
considerados a melhor descrição da existência
civilizada’.
Ao contrário dos animais inferiores, cujos poderes de
cognição sempre foram relativamente deficientes e por
isso são obrigados a tomar decisões analisando apenas
uma ou outra variável, nós criamos a nossa própria
deficiência ao construir um mundo radicalmente mais
complexo.
Mas, a conseqüência de nossa nova deficiência é a mesma
dos animais inferiores: temos de abrir mão de uma
análise mais ponderada da situação e decidir com base
numa característica única e geralmente confiável.
Portanto, ‘não adianta querermos ser mais realistas do
que o rei’: os clientes não têm tempo e tampouco
conhecimentos suficientes para uma tomada de decisão
lógica, racional e inteligente.
Eles decidem sempre com base numa ou noutra
característica e guiados pela sua intuição ou emoção.
É por isso que nem sempre vende mais aquele que tem o
melhor produto, ou mesmo o melhor preço. Mas aquele que
sabe vender melhor o seu produto.
Se você quiser se livrar da concorrência ‘predatória’,
comece a trabalhar o lado emocional dos clientes. E, se
precisar de ajuda, estamos a disposição.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O preço da concorrência é realmente mais barato?
Num curso de vendas aberto que eu ministrei na capital
de um Estado, participaram vendedores, supervisores,
gerentes e alguns diretores das principais empresas
concorrentes locais.
No meio do curso eu fiz uma experiência laboratorial
interessante: pedi para que cada vendedor escrevesse num
papel quantas vendas ele havia perdido no mês anterior.
Após eles terem me dado as respostas, eu pedi para que
cada um me escrevesse num outro papel quais foram os
motivos das perdas.
Após a entrega, eu comecei a ler as respostas.
Nem é preciso dizer que houve uma gargalhada
generalizada, porque, sem exceção, todos escreveram um
único motivo: ‘preço baixo da concorrência’. Só que
todos os concorrentes estavam sentados lado a lado na
sala...
Se repetirmos essa mesma experiência com os seus
vendedores e os vendedores dos seus concorrentes, com
certeza a resposta não será diferente. Aliás, essa é a
resposta padrão de todos os vendedores de todas as
empresas que eu conheço em todo o Brasil.
Pra falar a verdade, até hoje eu nunca conheci um
vendedor (e olha que já conheci milhares em vários
paises do mundo) que tivesse admitido ter perdido um
pedido por alguma deficiência do seu trabalho. Sempre,
mas sempre mesmo, a culpa foi o preço baixo da
‘concorrência predatória’.
O problema é que, como somos especializados no setor,
portanto só prestamos consultoria para empresas do mesmo
ramo, chegamos à conclusão de que todas as empresas
certas e ao mesmo tempo, nenhuma também está.
A questão é que de um lado, há muitos clientes expertos
e habilidosos que jogam com os concorrentes para
fazê-los baixarem os preços. Isso é normal.
Os compradores argentinos são os maiores mestres
mundiais nessa arte e nessa técnica. Eles possuem uma
habilidade rara para jogar com a concorrência (muitas
vezes até mesmo inexistente) em seu benefício.
E, a maioria das empresas cai na armadilha e baixa os
preços, reclamando que teve de baixar os preços por
causa da suposta concorrente ‘predatória’. Por seu
turno, a que perdeu o pedido também reclama da
‘concorrência predatória’...
Hoje em dia é normal que as empresas tenham preços
diferenciados. Dificilmente todos os clientes pagam
exatamente o mesmo preço.
Às vezes, um cliente que está pagando mais caro conhece
outro que está pagando mais barato e então chama a
empresa e diz que a concorrência fez por tanto (muitas
vezes ele nem chamou a concorrência) e que se a empresa
não baixar os preços ele vai para a concorrência.
Resultado: a empresa baixa os preços e sai reclamando da
‘concorrência predatória’...
Por outro lado, raras são as empresas que sabem
efetivamente valorizar seus produtos e serviços. Então,
se tudo é igual, o cliente tenta comprar o mais barato.
Isso também é normal.
Às vezes, o cliente até tem uma percepção que
determinada marca é melhor, mas como a empresa não sabe
valorizar-se para se diferenciar da concorrência, ele
joga para tentar comprar o melhor pelo mesmo preço do
pior. Isso também é normal. Quem não quer comprar o
melhor pelo preço do pior?
Ainda, a forte pressão exercida pelos agentes e fatores
do mercado (clientes, concorrência, dificuldades
econômicas, etc.) sobre os vendedores, faz com que eles
acabem se esquecendo de todos os fundamentos e
argumentos de vendas e o que é pior: literalmente acabem
se convencendo de que a concorrência faz exatamente a
mesma coisa (ou até mais) por um preço mais barato.
Infelizmente os vendedores acabam sucumbindo às pressões
do dia-a-dia e passam a executar um trabalho bisonho de
vendas, utilizando-se apenas do “preço” como única
ferramenta de marketing disponível.
O resultado é sentido numa perda tola de muitos novos
negócios, vendas deficientes e mal feitas, queda dos
preços praticados, insatisfações dos clientes e da
empresa, etc.
O resultado de tudo isso é que essa pressão toda do
mercado sobre a equipe comercial, por indução, acaba
sendo trasladada para a direção da empresa que, por via
de regra, acaba cedendo.
Dessa forma, muitas vezes a direção acaba abandonando
sua estratégia original de marketing (missão, valores,
etc.) e acaba fazendo o jogo da pressionada equipe de
vendas.
Sem o perceber (em alguns casos até percebendo bem) os
vendedores acabam traçando a estratégia de marketing da
empresa. Na prática, a empresa acaba fazendo o que os
vendedores querem. Ou seja, acaba indo para onde a
concorrência quer e não para onde deveria ir.
Não é muito diferente em nossa casa. Os nossos filhos
pressionam tanto que, quando nos pegam com a guarda
baixa, acabamos cedendo.
Por isso, se não houver uma “contrapressão”, de quando
em quando, para levantar o moral da equipe e
recapacitá-la como corresponde a exercer um trabalho de
alto nível, o desânimo e a queda da produtividade irá se
aprofundar cada vez mais.
Prof. Faccin
professor@faccin.com.br
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