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Chávez segue o script de
antecessores populistas
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Dez características
essenciais dos líderes que se inspiraram em pensadores
dos séculos 16 e 17 para formar governos perversos, que
não chegam a ditaduras plenas
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ENRIQUE KRAUZE – BLOOMBERG/ O Estado de S.Paulo
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O moderno populismo latino-americano
é uma criação do século 20 e implica o contato direto
entre um líder (o caudilho) e "seu" povo.
Figuras da esquerda e da direita reivindicam sua
paternidade. O general Juan Domingo Perón, da Argentina,
foi um populista por excelência. Ele testemunhou a
ascensão do fascismo na Itália e admirava Benito
Mussolini a ponto de querer erigir "um monumento em cada
esquina" a ele. Nos dias de hoje, o comandante Hugo
Chávez é o populista pós-moderno, cujo herói é Fidel
Castro. Ele deseja transformar a Venezuela em um exemplo
experimental do "novo socialismo".
Os dois extremos são facetas do mesmo fenômeno
político, que é identificado não por seu conteúdo
ideológico, mas pelo modo como funciona. Aqui estão dez
de suas características essenciais:
1. Exaltação do líder carismático. Há sempre um
homem (na Argentina de Perón, uma mulher também) que é
"escolhido pela providência" e resolverá, uma vez por
todas, resolverá os problemas do povo.
2. O populista latino-americano fala
constantemente ao público, inflama as paixões e o faz
sem limitações ou preliminares. Há 25 séculos, surgiu
uma distorção semelhante da verdade na pessoa do
"demagogo" (tão distante da democracia quanto o sofisma
da filosofia) e se manifestou na ágora, onde os gregos
discutiam política; no século 20, o seu lugar é a agorá
virtual. Com Mussolini (e Joseph Goebbels), Perón
aprendeu a importância política do rádio, que ele e
Evita usaram para hipnotizar as massas. Chávez, por sua
vez, superou seu mentor Castro na utilização frenética
da TV.
3. Os líderes populistas latino-americanos criam
sua versão pessoal da verdade. Esses governos
interpretam "a voz do povo" e elevam suas interpretações
à categoria de verdade oficial. Ao mesmo tempo,
desprezam a liberdade de expressão, confundem a crítica
legítima com hostilidade militante e procuram
menosprezá-la, controlá-la ou silenciá-la. Na Argentina
peronista, os jornais oficiais e nacionalistas - um
deles abertamente nazista - contavam com generosas
subvenções, enquanto a imprensa livre praticamente
desapareceu. Na Venezuela de hoje a situação vai na
mesma direção: a liberdade de expressão está sob a
ameaça de leis cada vez mais restritivas.
4. O líder populista da América Latina não tem
paciência com as sutilezas da economia. O Tesouro é seu
patrimônio privado. Pode usá-lo em projetos que ele
considera importantes ou gloriosos, ou para
enriquecimento próprio. Ou pode fazer ambas as coisas,
sem se preocupar com o custo. Ele tem uma concepção
mágica da economia. Essa ignorância ou falta de análise
típica dos governos populistas traduziu-se em desastres
dos quais os países levaram décadas para se recuperar.
5. O populista distribui diretamente a riqueza.
Esse fato não é necessariamente negativo em si. Mas o
populista latino-americano não distribui a riqueza
gratuitamente: ele concentra suas contribuições e espera
ser pago com a obediência. Cria-se uma falsa ideia de
realidade econômica e consagra-se uma cultura de
generosidade do governo. No fim, quem paga a dívida?
Seguramente não Evita Perón (que lucrou abundantemente e
guardou seus milhões em bancos suíços). Na Venezuela
(cujo caudilho distribui e redistribui o lucro do
petróleo), os efeitos da assistência oficial no estilo
de Chávez só serão sentidos de fato no futuro, quando os
preços do petróleo despencarem ou o regime levar seus
planos ditatoriais às últimas consequências.
6. O populista alimenta o ódio de classe. Os
populistas latino-americanos se opõem aos "ricos" (que
frequentemente acusam de ser "antinacionalistas"), mas
atraem os "empresários patriotas", que financiam o
regime. O líder não procura abolir o mercado pela força;
ele subordina os seus agentes e os manipula.
7. O moderno populista latino-americano procura
mobilizar permanentemente grupos sociais. Ele convoca,
organiza e encoraja as massas. A praça pública é o
teatro no qual "o Povo" é chamado a aparecer, a
demonstrar continuamente o seu poder e a ouvir as
invectivas contra as "forças do mal" dentro e fora da
sociedade. "O Povo" ao qual o caudilho dirige os seus
apelos não é a soma das vontades individuais expressas
no voto e representadas por um Parlamento. É uma massa
seletiva e vociferante.
8. O populismo latino-americano vilipendia
sistematicamente "o inimigo externo". Imune à crítica e
alérgico à autoanálise, o regime precisa desviar a
atenção para bodes expiatórios que possam ser culpados
pelos fracassos. A Argentina peronista reviveu as
antigas (e explicáveis) paixões antiamericanas que
fervilhavam desde a Guerra Hispano-Americana. Fidel
converteu essa paixão na essência do seu regime. Por sua
vez, Chávez insiste numa invasão americana que
provavelmente só existe em sua imaginação, mas na qual
um considerável setor da população venezuelana passou a
acreditar.
9. O populismo latino-americano não respeita a
ordem legal. Uma vez no poder, caudilhos como Chávez
costumam controlar o Congresso e preferir a "Justiça
direta". Na realidade, essa Justiça se torna o que ele
próprio decreta que deva ser. O Congresso venezuelano e
o Judiciário são agora apêndices de Chávez, assim como
na Argentina foram sob Juan e Evita Perón, que
formalmente eliminaram a imunidade parlamentar e
promoveram um expurgo nos tribunais.
10. O populismo latino-americano solapa, domina e
controla ou apaga as instituições da democracia liberal.
O populismo se opõe ferozmente à imposição de limites ao
poder, que considera aristocráticos, oligárquicos e
contrários à "vontade popular".
Os motivos da ascensão desses movimentos são
variados e complexos. Em primeiro lugar, eles têm raízes
profundas em um conceito histórico de "soberania
popular", propagado pelos pensadores neoescolásticos dos
séculos 16 e 17 por todo o Império Espanhol. Essa
corrente exerceu influência decisiva nas guerras de
independência de Buenos Aires ao México.
Além disso, esse tipo de populismo tem uma
natureza perversamente "moderada" ou "provisória". Nunca
se torna plenamente ditatorial ou totalitário e pode
alimentar uma ilusão enganosa de um futuro melhor. Ele
disfarça os desastres que provoca, adia o exame objetivo
de seus atos, submete os críticos, adultera a verdade e
degrada o espírito popular.
*BLOOMBERG, ESCREVEU MEXICO: BIOGRAPHY OF POWER
REDEEMERS: IDEAS AND POWER IN LATIN AMERICA
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