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Sua empresa é pior do que você imagina

     
Uma pesquisa inédita mostra que a maior parte das empresas brasileiras acredita que presta um ótimo serviço a seus consumidores. Na prática, um abismo separa autoimagem de realidade.

Excerto do artigo de Malu Gaspar para a revista Exame de 17.03.2010

No final da década de 90, profetas dos negócios, como o americano Michael Hammer, passaram a afirmar que o mundo estaria entrando numa nova era, a da chamada economia do cliente, uma espécie de éden no qual todo o poder estaria nas mãos do consumidor. "Não são mais os clientes que imploram por bens escassos. Agora são os vendedo res que andam desesperados em busca de clientes", pregava Hammer, conhecido como o pai da reengenharia. Passados mais de dez anos, sua profecia parece não ter se cumprido.

Aqui e em todo o mundo, consumidores continuam se sentindo mal atendidos, abandonados e, muitas vezes, traídos pelas companhias que supostamente estariam a seus pés. Os discursos que exaltam o "foco no consumidor", a "satisfação total" e o "cliente sempre em primeiro lugar" continuam em alta nos modismos corporativos. Tudo muito bonito e politicamente correto. Quem ousaria dizer o contrário?

Na vida real, porém, as coisas costumam ser bem diferentes. É o que mostra uma pesquisa elaborada por EXAME e pelo Instituto Brasileiro de Relacionamento com o Cliente (IBRC). O estudo, realizado entre abril e dezembro de 2009, com base em entrevistas com mais de 3 000 pessoas em todo o país e em pesquisas sobre as práticas de relacionamento de 100 companhias, aponta as dez empresas com melhor atendimento aos clientes e as dez com pior desempenho.

Tão ou mais importantes do que a lista são as conclusões que podem ser tiradas da pesquisa - e que servem para qualquer empresa que mantenha relações diretas com o mercado.

A fotografia que surge mostra um profundo abismo entre a imagem que as companhias têm de si mesmas e o que os consumidores pensam delas. Quase todas as empresas - 98%, para sermos mais precisos - afirmam ter uma estrutura eficiente de atendimento. Mas 23% dos consumidores entrevistados disseram não ter sido bem atendidos por nenhuma companhia nos 12 meses anteriores à pesquisa. Ne-nhu-ma.

Agora, sejamos honestos: não é de surpreender que esse abismo entre autoimagem e vida real exista. Empurradas pela competição, empresas do mundo todo passaram a pregar a busca pela satisfação plena, geral e irrestrita do consumidor como se isso fosse algo possível. Não é. Negócios existem, antes de tudo, para dar lucro e para gerar riqueza para seus acionistas.

É como diz o consultor Bob Fifer, em seu livro Dobre Seus Lucros: "Maximizar a satisfação do cliente é uma platitude... Se você quiser mesmo ‘maximizar’ a satisfação do cliente, reduza seu preço à zero ou dê a ele uma viagem grátis ao Havaí". Todo o resto, para Fifer, é cinismo.

Ao comprar um produto ou serviço, os consumidores não esperam receber uma viagem ao paraíso. Até porque não estariam dispostos a pagar por ela. Não há um problema aí, portanto.

A real questão é a incapacidade que muitas empresas demonstram de meramente cumprir o contrato selado com o consumidor, entregando apenas e tão somente o que foi prometido.

Esse, sim, é um problemaço. Resolvê-lo é condição necessária para cumprir o objetivo primordial de qualquer negócio - ter lucro e remunerar os acionistas.

"O erro zero é impossível", afirma Alexandre Diogo, presidente do IBRC. "Muitas empresas desperdiçam recursos com fórmulas mirabolantes e deixam de fazer o básico, que é respeitar o consumidor e resolver de forma eficaz os problemas que aparecem."

Há duas saídas para consumidores impacientes - ambas desastrosas para quem está do outro lado da mesa.

A primeira, mais óbvia, é trocar de fornecedor. Aí temos o fim da linha de uma relação que normalmente custa um bom dinheiro para ser construída.

A segunda, mais barulhenta, é apelar para os cada vez mais disseminados mecanismos de defesa do mercado.

Esse tipo de comportamento levou, por exemplo, à recente multiplicação de multas aplicadas no Brasil por mau atendimento. No ano passado, operadoras de telefonia, empresas de cartões de crédito, companhias aéreas, concessionárias e outras prestadoras de serviços foram punidas em 93 milhões de reais - a soma das multas aplicadas pelos dez principais Procons do país (incluindo São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília) e pelo Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor.

Duas das maiores operadoras de celular do Brasil - Oi e Claro - se tornaram alvo de uma ação civil pública milionária, acusadas de não cumprir a lei que regulamenta o atendimento nos call centers, em vigor desde 2009. Em caso de condenação, a multa será de 300 milhões de reais para cada empresa - a maior punição do gênero no Brasil.
 
 

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