Faccin Consultoria
Consultoria Faccin
Prestamos Consultoria para todo o Brasil, Chile, Argentina, México, Itália, Portugal e Espanha.

Entre em contato

Tel/Fax: 11 4667 5882

 

 

 

 

Faccin Consultoria

A culpa é da classe C

29.05.2008
Modelo de rentabilidade e desempenho no setor, a TIM foi seduzida pelo consumidor de baixa renda. Deu tudo errado

Por Carolina Meyer para a revista Exame

EXAME Desde que começou a oferecer cobertura nacional no Brasil, em 2002, a TIM, segunda maior operadora de celulares do país, vinha colecionando números invejáveis. Pioneira na implantação da tecnologia GSM, a empresa era dona da carteira de clientes mais rentável do setor, com uma receita por usuário quase 20% superior à das concorrentes Vivo e Claro. A liderança no mercado corporativo garantiu-lhe a mais alta rentabilidade entre as operadoras de celular: em torno de 30%. E a TIM, que já teve como garotos-propaganda o craque Ronaldo e a modelo Daniela Cicarelli, então no auge de suas carreiras, chegou a estar entre as marcas mais admiradas do país. Enquanto outras operadoras de celular se debatiam para resolver problemas como clonagem de linhas e falhas nos sistemas de cobrança, a TIM crescia. Entre 2004 e 2007, seu valor de mercado passou de pouco mais de 3 bilhões para 16 bilhões de reais. Com tais credenciais, a empresa parecia vestir uma couraça à prova de contratempos. Claro, a couraça não existia, como ficou evidente nos últimos meses. No primeiro trimestre deste ano, de forma surpreendente, a TIM registrou prejuízo de 108 milhões de reais, o pior da história para essa época do ano. Diante do mau desempenho, a operadora reviu para baixo sua meta de crescimento para 2008: de 12% para 9%. Foi a senha para que o mercado jogasse suas ações para baixo. Nos últimos três meses, os papéis da TIM caíram quase 25%. “O mercado estava acostumado a números excepcionais”, diz Mário César Araújo, presidente da TIM. “Nem sempre podemos entregar os resultados esperados.”

A diferença entre realidade e expectativa costuma ser um problema para todas as empresas, independentemente do setor em que atuem. Tais expectativas podem ter fundamentos ilusórios. Mas os resultados sempre têm causas reais. No caso da TIM, o motivo dos maus números atende pelo nome de mercado de baixa renda. Com o objetivo de ampliar a base de usuários nessa faixa da população, a TIM lançou-se numa série de campanhas de marketing agressivas. Entre elas estava a promoção que oferecia ligações a 7 centavos por minuto e que rapidamente se tornou um sucesso. O número de adesões superou em 30% o esperado inicialmente, segundo executivos ligados à empresa. O problema é que nem todos esses novos clientes se mostraram bons pagadores. As despesas com clientes inadimplentes somaram 271 milhões de reais no primeiro trimestre deste ano, aumento de 57% em relação ao mesmo período de 2007 e quase o triplo do registrado pela Vivo, sua principal concorrente. “Acabamos atraindo uma enorme quantidade de maus pagadores. Foi um erro”, diz Araújo. A mesma estratégia de atrair clientes de menor poder aquisitivo fez a TIM mergulhar no mercado pré-pago. A empresa criou promoções para a venda de chips e bônus em ligações a partir de 100 reais. As duas coisas juntas — serviços baratos e produtos pré-pagos — renderam à TIM 1,3 milhão de novos clientes, mais de um terço deles pertencente às classes C e D. Mas, quanto mais crescia a base de compradores, maior ficava o buraco financeiro. A receita por usuário caiu 14% e a margem Ebitda passou de 27% para 17,9%, a menor entre as grandes operadoras. “As operadoras estão fugindo do pré-pago por causa da baixa rentabilidade. A TIM foi na contramão”, afirma o analista de um grande banco de investimento.

Além de decepção, os números apresentados pela TIM causaram no mercado uma sensação de desconfiança. Isso porque, em geral, as margens das operadoras no primeiro trimestre costumam ser melhores que aquelas verificadas no quarto trimestre do ano anterior. Trata-se de uma lógica desse mercado. Para impulsionar as vendas de Natal, as companhias de celular aumentam investimentos em publicidade, gastos com comissões de vendas e subsídios de aparelhos e tarifas, o que corrói sua rentabilidade. E, como nesse período a meta é adicionar novos clientes a qualquer custo, os índices de inadimplência também costumam ser levemente maiores. Com a TIM ocorreu algo inusitado. A companhia apresentou bons resultados no final de 2007: margem Ebitda de 27% e gastos com inadimplência de apenas 2,9% da receita de serviços (ante 9,5% no trimestre anterior). Nos primeiros três meses deste ano, no entanto, a situação se inverteu. Enquanto a margem Ebtida caiu, os gastos com inadimplência atingiram 9,6% da receita de serviços. Um relatório recentemente publicado pelo departamento de análises do Unibanco levanta a hipótese de que a operadora tenha adotado essa estratégia para atender às expectativas da matriz italiana. “É natural que uma empresa queira agradar à matriz, especialmente se ela estiver enfrentando mudanças. Mas isso, às vezes, vem com um preço”, afirma Betânia Tanure, especialista em governança corporativa da Fundação Dom Cabral.

  Oficialmente, a TIM nega que tenha alterado sua estratégia por pressão dos italianos. Mas a conturbada situação da matriz vem, como era esperado, afetando a administração da subsidiária brasileira. Em abril de 2007, o controle da Telecom Itália foi adquirido por um consórcio formado pela família Benetton, pelos

bancos italianos Mediobanca e Intesa San- Paolo, pela seguradora Generali e pela espanhola Telefónica. A esse fato, seguiu-se uma série de especulações acerca dos executivos que comandariam a operação — tanto em Roma como no Brasil. Em apenas sete meses, mais de dez nomes chegaram a ser cogitados para a presidência do conselho de administração e para o posto de diretor executivo. Por várias vezes, chegou-se a falar na venda da subsidiária brasileira como forma de quitar parte das dívidas da matriz, que chegam a 35 bilhões de euros. Em meio a esse clima de indefinição, a operação brasileira acabou paralisada. O cenário só começou a desanuviar no final de 2007. Em outubro, a Anatel, agência reguladora do setor, determinou que as operações da TIM e da Vivo, que têm 50% do controle nas mãos da Telefônica, deveriam permanecer completamente separadas (até então, a matriz trabalhava com a possibilidade de convergência das duas empresas, o que retardava decisões de investimento). Ao mesmo tempo, a indicação de Gabriele Galateri à presidência do conselho da TIM mundial e de Franco Bernabé ao posto de presidente, em dezembro, encerrou as especulações sobre o novo comando da matriz.

Somente quando a situação na Itália se definiu é que Araújo pôde finalmente se dedicar aos pormenores da operação, até então relegados a segundo plano. Para reverter o fraco desempenho da companhia no primeiro trimestre, ele decidiu atacar em duas frentes. A primeira foi estancar a evasão de receita. A promoção que oferecia ligações a 7 centavos por minuto, uma das grandes responsáveis por derrubar a rentabilidade da empresa, foi suspensa em fevereiro. A TIM também passou a exigir comprovantes de pagamento de contas antigas de clientes vindos de outras operadoras, como forma de se resguardar de maus pagadores e diminuir os gastos com inadimplência. “São medidas um tanto óbvias, mas que acabaram passando despercebidas pela companhia”, afirma Raul Aguirre, presidente da consultoria AT Kearney e especialista em telecomunicações. “Dada a extrema competição do setor, qualquer custo ou gasto extra, por menor que seja, pode comprometer o desempenho de toda a operação.” Na outra ponta, Araújo tem tentado ampliar a oferta de serviços capazes de gerar mais receita para a companhia, como a transmissão de dados por celular. Para isso, a operadora investiu 1,3 bilhão de reais na aquisição de licenças 3G no final do ano passado. O serviço começou a ser oferecido no dia 16 de abril e a expectativa é que a receita com essa nova tecnologia supere 500 milhões de reais até o final deste ano.

  Mesmo que consiga colocar a companhia de volta nos trilhos já no próximo trimestre, Mário César Araújo ainda tem pela frente algumas provas a vencer. A mais importante delas é convencer a matriz de que a operação brasileira será um negócio rentável no longo prazo — o que pode, em última análise, definir o futuro da empresa aqui. Depois de ter seu crescimento revisto para baixo em 2008, são cada vez mais remotas as chances de a TIM cumprir a meta de rentabilidade prevista para este ano, de 23%. Isso porque as promoções responsáveis por drenar os lucros da

operadora nos primeiros três meses do ano ainda devem contaminar os resultados do segundo trimestre. Além disso, o acirramento da competição, proporcionado pela entrada da Oi em São Paulo e pela chegada da Vivo ao Nordeste, dois dos principais mercados da TIM, deve pressionar ainda mais as margens da companhia. Para complicar, a adoção da portabilidade numérica, prevista para agosto, deve facilitar a migração de clientes para outras operadoras. “Os controladores são muito exigentes em relação a números”, afirma um executivo da TIM. “Sem cumprir as metas acertadas com a matriz, a viabilidade da operação no Brasil será posta em xeque.” O desafio imediato de Araújo é proteger seu rei do cerco.

 

 

Outros Artigos

 

 

 

Copyright 2005-2007 © Faccin Consultoria
Política de Privacidade