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A obsessão totalitária
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Censurar a imprensa e
impedir o fluxo de ideias no Brasil
é a única bandeira genuinamente comunista que sobrou aos
petistas |
Fábio Portela para a Revista Veja |
Um observador ingênuo pode não
entender a obsessão de petistas, manifestada desde o
momento zero do governo Lula, de abolir a liberdade de
expressão no Brasil. Afinal, em sete anos de
administração do país, alguns fizeram enormes avanços
pessoais e coletivos. Aumentaram o patrimônio, passaram
a beber bons vinhos e a vestir-se com apuro. A política
econômica é modelo até para os países avançados e as
conquistas sociais fazem inveja a reformadores de todos
os matizes ideológicos. Destoam desse rol de avanços a
diplomacia megalonanica e a inconformidade com o livre
trânsito de ideias no país. O próximo ataque organizado
à liberdade de expressão se dará em março, com a Segunda
Conferência Nacional de Cultura (CNC). Apesar do nome
pomposo, ninguém irá lá para discutir cultura. Os
petistas vão, mais uma vez, tentar encontrar uma forma
de ameaçar a liberdade de imprensa e obrigar revistas,
jornais, sites e emissoras de rádio e TV a apenas
veicular notícias, filmes e documentários domesticados,
chancelados pelos soviets (conselhos) petistas e
reverentes à ideologia de esquerda.
O evento é a continuação por outros meios da
batalha pela implantação da censura à imprensa no
Brasil. Isso começou em agosto de 2004, com a
iniciativa, abortada, de criar um Conselho Federal de
Jornalismo (CFJ). Nos últimos meses foram feitas mais
duas tentativas. Uma delas na Conferência Nacional de
Comunicação (Confecom). A outra com o PNDH-3, o Programa
Nacional de Direitos Humanos. O que o CFJ, a CNC e o
PNDH-3 têm em comum? Todos embutem a criação de um
tribunal para censurar, julgar e punir jornalistas e
órgãos de comunicação que desobedeçam às normas
governamentais. É um figurino de atraso.
Por que essa obsessão não se dissipa? Primeiro,
porque ela é a única bandeira que sobrou às esquerdas
cujas raízes podem ser traçadas ao seu berço comunista
no século XIX. A censura à imprensa é uma relíquia
esquerdista, um bicho da era stalinista guardado em
cápsula de âmbar e cujo DNA os militantes sonham ainda
retirar e com ele repovoar seu parque jurássico. Todas
as outras bandeiras foram perdidas. A do humanismo foi
dinamitada pela revelação, em 1956, dos crimes contra a
humanidade perpetrados por Stalin. A da eficiência
econômica e a da justiça social ruíram com a queda do
Muro de Berlim, em 1989. Sobrou a bandeira da supressão
da voz dos que discordam deles. Mesmo isso não pode ser
feito com a dureza promulgada por Lenin ("Nosso governo
não aceitaria uma oposição de armas letais. Mas ideias
são mais letais que armas.").
O maior ideólogo da censura à imprensa, cujo nome
sai com a facilidade dos perdigotos da boca dos
esquerdistas brasileiros, é o italiano Antonio Gramsci
(1891-1937). Como a revolução pelas armas se tornou
inviável, Gramsci sugeriu a via do lento envenenamento
ideológico da cultura, do idioma e do pensamento de um
país. É o que tentam fazer os conselhos, conferências e
planos patrocinados pelo PT. É neles que se dá a
alquimia gramsciana. Ela começa pela linguagem. A
implantação da ditadura com o fechamento do Congresso é
vendida como "democracia direta"; a censura aparece
aveludada como "controle da qualidade jornalística"; a
abolição da propriedade privada dilui-se na expressão
"novos anteparos jurídicos para mediar os conflitos de
terra". Tudo lindo, pacífico, civilizado e modernizador.
Na aparência. No fundo, é o atalho para a servidão.
Thomas Jefferson neles, portanto: "...entre um governo
sem imprensa e uma imprensa sem governo, fico com a
segunda opção".
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Um tema, duas visões
No século XVIII, o
futuro presidente americano Thomas Jefferson já
enxergava a liberdade de imprensa como um dos
pilares da democracia. No século XX, o bolchevique
Lenin inaugurou a doutrina esquerdista que vê no
jornalismo independente uma ameaça a ser combatida
"Se eu tivesse de
decidir entre ter um governo sem jornais e ter
jornais sem um governo, eu não hesitaria nem por um
momento antes de escolher a segunda opção."
Thomas
Jefferson, em 1787
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"Dar à burguesia a arma da liberdade de imprensa é
facilitar e ajudar a causa do inimigo. Nós não
desejamos um fim suicida, então não a daremos."
Vladimir Lenin, em 1 |
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