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'Ainda pensamos nos peixes
no oceano como símbolo de dólares' |
Oceanógrafa Sylvia Earle alerta para
importância da vida marinha que produz quase todo
oxigênio do planeta
26 de março de 2012 | 3h 05
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GIOVANA GIRARDI / MANAUS , ENVIADA ESPECIAL
- O Estado de S.Paulo
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Com a experiência de quem já passou
mais de 6 mil horas mergulhando nos oceanos, Sylvia
Earle, oceanógrafa e exploradora da National Geographic
Society, ex-cientista-chefe da Agência Americana para
Oceanos e Atmosfera (Noaa, na sigla em inglês), alerta
que os próximos dez anos serão cruciais para a
humanidade definir seu futuro.
A pesquisadora, conhecida como "Her Deepness"
pela revista New Yorker e o jornal The New York Times,
em alusão ao seu "profundo" conhecimento das profundezas
dos mares, fala com uma voz mansa e segura que ainda é
possível fazer mudanças necessárias, mas é preciso agir
imediatamente.
"Os próximos 10 anos serão os mais importantes em
toda a história humana. Porque agora nós sabemos o que
não sabíamos 20 anos atrás, 200 anos atrás, 2 mil anos
atrás. Estamos conscientes de que há limites e do que
podemos fazer para o mundo continuar nos sustentando",
afirmou no sábado durante apresentação no 3.º Fórum
Mundial da Sustentabilidade, em Manaus.
A oceanógrafa frisou que os oceanos, ecossistemas
menos conhecidos do planeta, e já penalizados com
impactos como acidificação provocada pelo excesso de gás
carbônico na atmosfera, são a chave dessa mudança. É
neles que vivem os minúsculos seres que produzem quase
todo o oxigênio do planeta.
"O fundamental que sabemos agora e que não são
sabíamos antes é que estamos pressionando os limites do
planeta. Eu entendo, é o que todas as criaturas fazem,
usam os sistemas naturais para se sustentar. E nós
prosperamos às custas dos sistemas naturais. Não
sabíamos que isso era um problema. Mas agora nós
sabemos. Não é tarde demais para reparar os danos."
Ela lembra, porém, que o mundo ainda está pouco
sensibilizado para a causa dos oceanos.
Percepção. "Ainda pensamos nos peixes nadando nos
oceanos como se fossem símbolos de dólares. Eles só
valem quando os vendemos. Precisamos mudar essa
percepção. Assim como com as árvores nas florestas, que
não importavam até serem derrubadas. E hoje vemos um
valor do carbono nelas. Precisamos de um valor de
'carbono azul' para os peixes, para os sistemas que nos
mantêm vivos. Se não houver produção de oxigênio, nós
desapareceremos."
Para isso a pesquisadora recomenda que o mundo
deveria investir mais em conhecer os mares. Sua
especialidade, por exemplo, que é de mergulhar em
enormes profundidades, como 800 metros, é pouco
desenvolvida no mundo. Nem mesmo os EUA, muito menos o
Brasil, têm submarinos para esses fins, ao contrário de
Rússia, China e França.
"Pensamos em cães, gatos, cavalos com respeito,
como indivíduos, mas olhamos para os peixes como
commodities, em quilos, não como indivíduos. Cerca de
90% dos tubarões desapareceram. Não significa que não
podemos comê-los, mas deveríamos ser espertos o bastante
para não usá-los até acabarem."
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