|
|
Prestamos Consultoria para todo o Brasil, Chile,
Argentina, México, Itália, Portugal e Espanha.
Entre em contato
011 4666-7845 e 9154-9354
contato@faccin.com.br
|
|
|
|
Computadores que pensam e
corrigem erros
|
José Pastore* para o
jornal O Estado de S. Paulo
|
11 de fevereiro de 2014 |
Os leitores que acompanham meus
artigos sabem que estou lendo sobre o impacto das
tecnologias do futuro no mundo do trabalho. Nas semanas
anteriores, focalizei as façanhas dos novos robôs e a
chegada dos incríveis drones que entregam mercadorias
sem tripulante. Neste artigo, trato da computação
neuromórfica - uma combinação de física, engenharia e
neurociência que reúne centenas de cientistas europeus
no Human Brain Project, mantido com 1 bilhão.
O desdobramento do ambicioso projeto já mostra seu lado
prático. Está quase pronto o computador que imita as
sinapses do sistema nervoso central dos seres humanos e,
por isso, "pensa", toma decisões e corrige seus próprios
erros. O que era science fiction virou science fact.
Os novos computadores diferem radicalmente dos
convencionais. Estes são programados para realizar
tarefas específicas de modo rígido. Os novos estão
preparados para observar e avaliar o que fazem e, caso
necessário, mudar o curso da ação. Mais fantástico ainda
é saber que eles estão preparados para tolerar certos
erros.
Imaginem o impacto disso no mundo do trabalho. Acoplados
aos robôs mecânicos, os novos "cérebros" darão ordens e
contraordens, permitindo fazer ajustes sem a necessidade
de parar o processo produtivo e sem a necessidade de
chefes e supervisores. Ligados aos drones, eles
orientarão toda a logística de entrega de mercadorias.
No trânsito, viabilizarão o uso de veículos sem
motoristas, reduzindo inclusive os acidentes, pois têm
capacidade para antecipar e evitar riscos. As aplicações
vão longe. A maioria não se consegue imaginar.
Não é prematuro falar em aplicações, porque essas
máquinas entrarão em produção comercial no próximo ano
(2015). Completado o trabalho dos cientistas, os países
desenvolvidos já preparam os técnicos para lidar com
elas. Só na Universidade de Stanford, 760 estudantes
estão sendo capacitados para dominar os segredos dessa
fenomenal invenção.
Em menos de dez anos, os computadores neuromórficos
farão parte da rotina da produção do Primeiro Mundo. E
como a economia está globalizada, o Brasil terá de
entrar nessa onda. Para tanto, não basta comprar os
computadores. Será preciso ter gente preparada para
trabalhar com eles e, sobretudo, com os seus
desdobramentos. Os operadores terão de estar no mesmo pé
dos computadores, ou seja, precisarão ter uma boa
capacidade de pensar, corrigir erros e fazer adaptações,
o que depende em grande parte de uma boa educação.
Para essas pessoas participarem do processo como adultos
daqui a dez anos, as crianças têm de se preparar agora.
Quando penso nisso, fico triste ao saber que no teste do
Pisa as nossas crianças estão na rabeira mundial: em
Matemática, 67% ficam no nível mais baixo daquela prova,
enquanto 80% dos estudantes dos países concorrentes do
Brasil ficam no nível mais alto. O crônico descaso no
campo da educação perdura até hoje. Fiquei espantado ao
saber que os investimentos do Ministério da Educação
diminuíram 13% em 2013, sem falar na baixíssima
eficiência dos recursos investidos.
Sem uma boa educação, não temos a menor chance de
participar dos benefícios trazidos pelas novas
tecnologias. E, sem isso, será difícil sobreviver e
vencer no mundo concorrencial, que se acirra cada vez
mais.
O pior é saber que muitos ainda alimentam a ideia de
combater as inovações. São os luddistas do século 21. A
própria Constituição federal, no artigo 7o, inciso XVII,
trata da "proteção em face da automação, na forma da
lei". Não duvido de que nas próximas eleições algum
demagogo, em lugar de apresentar um programa de melhoria
efetiva da qualidade do nosso ensino, venha a propor o
tal projeto de lei para banir robôs, drones e
computadores pensantes da economia nacional. Será a
armadilha condenatória do nosso futuro. Precisamos ficar
atentos e votar bem.
*José Pastore é professor da FEA-USP e presidente do
Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da
Fecomércio-SP e membro da Academia Paulista de Letras.
|
|
|
Outros Artigos |
|
|