|
|
Prestamos Consultoria para todo o Brasil, Chile,
Argentina, México, Itália, Portugal e Espanha.
Entre em contato
011 4666-7845 e 9154-9354
contato@faccin.com.br
|
|
|
|
Custo Brasil, uma sobrecarga
de 36%
|
Segundo estudo inédito da Abimaq,
produzir no Brasil sai muito mais caro do que na
Alemanha e nos EUA.
Marcelo Rehder para o jornal O Estado de São Paulo |
08 de março de 2010
O chamado Custo Brasil, conjunto de fatores que
comprometem a competitividade e a eficiência da
indústria nacional, encarece em média 36,27% o preço do
produto brasileiro em relação aos fabricados na Alemanha
e nos Estados Unidos. Somado ao câmbio valorizado, esse
custo ajuda a explicar a tendência de especialização
cada vez maior do País em exportar produtos primários e
semimanufaturados, e de importar mais produtos de maior
valor agregado e de tecnologia avançada.
"Imagine que um alemão apaixonado pelo clima
tropical resolvesse trazer sua fábrica de porteira
fechada para o Brasil, incluindo mão de obra e máquinas.
O preço do mesmo produto que ele fabrica hoje na
Alemanha subiria automaticamente 36,27% só pelo simples
fato de passar a produzir no Brasil", diz o empresário
Mário Bernardini, assessor econômico da presidência da
Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e
Equipamentos (Abimaq).
Bernardini coordenou estudo inédito da Abimaq que
mede o Custo Brasil pela primeira vez nos últimos 20
anos. "Todo mundo sabe que o Custo Brasil existe, mas
nunca ficou claro o tamanho do problema", comentou o
empresário ao apresentar o trabalho em reunião plenária
da Abimaq em São Paulo na semana passada.
Ele ponderou que, na verdade, trata-se de uma
tentativa de avaliação, pois foram mensurados oito itens
e o Custo Brasil tem ao menos mais outros 30 que não se
consegue transformar em números.
"É um piso, pois seguramente o número é maior que
36%, já que não engloba tudo e foi comparado com países
que não são os mais baratos do mundo", disse Bernardini
ao Estado.
Segundo ele, se a comparação fosse com a China, o
número dobraria de tamanho. "Fomos conservadores de
forma proposital, pois o mundo inteiro tem problemas com
a China", disse o diretor de Competitividade da Abimaq,
Fernando Bueno.
Entre os componentes do Custo Brasil, medidos
pela Abimaq, estão o impacto dos juros sobre o capital
de giro, que na média gera custo 7,95% superior ao dos
concorrentes internacionais, e preços de insumos
básicos, cuja diferença de custos é de 18,57% entre a
produção nacional e a americana e alemã. Outros fatores
de custo adicional: impostos não recuperáveis na cadeia
produtiva (2,98%), encargos sociais e trabalhistas
(2,84%), logística (1,90%), burocracia e custos de
regulamentação (0,36%), custos de investimento (1,16%) e
custos de energia (0,51%).
"Corremos o risco de ver parte do setor produtivo
ser transformado em montador, numa indústria que só tem
casca e cujo conteúdo vem de fora", alerta o economista
Júlio Sérgio Gomes de Almeida, assessor do Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Setor de máquinas e equipamentos perde espaço no
mercado mundial
País cai da 5ª para a 15ª posição no ranking e
alguns fabricantes deixam de produzir para revender
produtos importados
Sem condições de competir em pé de igualdade com
os chineses, fabricantes de máquinas e equipamentos
deixam de produzir no Brasil e passam a importar e
revender produtos asiáticos no mercado doméstico com o
carimbo da sua marca. Cada vez mais empresas
tradicionais como a Kone, fabricante de
máquinas-ferramenta (tornos, furadeiras e fresadoras) de
Limeira (SP), são obrigadas a substituir a produção
local por importações da China e Taiwan para não ter de
fechar as portas.
Sob o ponto de vista técnico, os equipamentos
nacionais são competitivos. Do ponto de vista
financeiro, no entanto, a competitividade fica
comprometida devido a fatores alheios ao controle dos
fabricantes, como a taxa de câmbio.
Os fabricantes de máquinas sofrem impacto do
chamado Custo Brasil maior que a indústria brasileira
como um todo. De acordo com a Associação Brasileira de
Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o conjunto de custos
internos que só existem no País onera em 43,85% a
produção nacional de bens de capital comparada com a
fabricação na Alemanha e Estados Unidos (ver quadro ao
lado).
A desvantagem comparativa com a China não foi
medida, mas a organização estima que esteja perto dos
100%. Para o conjunto das indústrias brasileiras, o
acréscimo é de 36,27%.
"Já deixamos de fabricar a maioria dos nossos
equipamentos e, dentro de seis meses, vamos avaliar se
passamos a ser exclusivamente importadores, coisa que
não gostaríamos", diz o presidente da Kone, Marcelo
Cruañe.
Ele afirma que o processo de substituição começou
há cerca de três anos. Na época, a mudança enfrentou a
oposição do seu pai, Enock Cruañe, presidente do
Conselho de Administração da empresa.
"Meu pai, que tem hoje 78 anos, foi capitão de
empresa por quase 60 anos e demorou para se convencer de
que se não importássemos máquinas da China a empresa
quebraria", conta o executivo. "Compramos 10 máquinas
chinesas, vendemos em uma semana; compramos mais 20 e
vendemos em 15 dias. Só assim meu pai deu o braço a
torcer."
Desde então, a empresa vem de vento em popa. De
50 a 60 máquinas, passou a vender 270 a 320 por mês. O
quadro de pessoal, que nos tempos áureos chegou a mais
de 400 funcionários, hoje não passa de 100. Contudo, a
lucratividade triplicou. "O preço de uma máquina chinesa
não paga sequer a matéria-prima no Brasil. O quilo do
ferro fundido aqui custa cerca de US$ 3 e eu compro
máquina chinesa pronta por R$ 2,5 a R$ 3 o quilo."
DESINDUSTRIALIZAÇÃO
O caso da Krone não é um exemplo isolado. "Está
havendo um processo de desindustrialização no Brasil",
diz o presidente da Abimaq, Luiz Aubert Neto. Ele lembra
que o País já foi o quinto maior produtor de máquinas do
mundo há alguns anos e hoje ocupa a 15ª posição.
Um dos segmentos mais prejudicados é o de
válvulas industriais, equipamentos usados em obras de
saneamento básico, indústrias de açúcar e álcool e
petróleo, entre outros. A participação de mercado dos
equipamentos nacionais, que era de 60% há quatro anos,
hoje não passa de 20%, diz o presidente da SMV Válvulas
Industriais, Erfrides Bortolazzo Soares.
De acordo com ele, a maioria dos fabricantes
brasileiros deixou de produzir totalmente ou
determinadas linhas no País e passou a trazer produtos
de fora, principalmente da China. A própria SMV importa
um complemento de linha originário do país asiático.
Para a Abimaq, ainda que indispensáveis para a
sobrevivência das indústrias nacionais, os esforços para
melhorar a produtividade acabam compensando apenas
pequena parte da desvantagem brasileira. "Só investir em
equipamentos, processos, tecnologia e inovação não basta
diante do peso do Custo Brasil", afirma Aubert Neto.
Nos últimos três anos, a fabricante de guindastes
Madal Palfinger, de Caxias do Sul (RS), investiu para
aumentar a produtividade em 30%. Ainda assim não
consegue concorrer com o preço baixo chinês no segmento
de guindastes telescópicos. O gerente da linha de
produtos para a América do Sul, Silvio Gatelli, diz que
os equipamentos chineses custam cerca de 50% menos que
os brasileiros. "O preço de um guindaste telescópico
nosso de 30 toneladas de capacidade máxima, junto com um
caminhão, sai em torno de R$ 1 milhão. Por esse mesmo
valor, os chineses colocam na porta do cliente uma
máquina de 70 toneladas, mais que o dobro da capacidade
da nossa", informa Gatelli.
Como se não bastasse a enorme vantagem
comparativa, representantes dos produtos chineses no
Brasil ainda se deram ao luxo de promover uma liquidação
de guindastes no fim de 2009, com oferta de descontos de
até R$ 300 mil.
"Para desovar o estoque de máquinas ano 2009 e
começar 2010 com maquinário do ano, o preço dessas
máquinas foi reduzido de R$ 1 milhão para R$ 700 mil",
diz o executivo. Segundo ele, os chineses já dominam 95%
do mercado brasileiro de guindastes telescópicos.
Existem cinco fabricantes no País. "Continuamos
competitivos no segmento de guindastes articulados, mas
nossos concorrentes que não fabricam essa linha terão
sérios problemas."
'Commoditização' avança no País, afirma
empresário
Participação da indústria no PIB caiu de 45% para
28% desde os anos 80
DESVANTAGEM - País exporta matéria-prima e
importa produto pronto
O Custo Brasil é como um imposto que incide em
cascata em todos os elos de uma cadeia produtiva. Dessa
forma, reduz progressivamente a competitividade dos
produtos brasileiros à medida que a cadeia produtiva se
alonga. Ou seja, os favorecidos são justamente os
setores produtores em grande escala de bens intensivos
em recursos naturais e com menor capacidade de agregação
de valor, que assim conseguem crescer a taxas mais
aceleradas que o restante da indústria.
"Estamos falando do avanço do processo de "commoditização"
da indústria brasileira, o que significa
desindustrialização", afirma o empresário Mário
Bernardini, assessor econômico da presidência da
Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e
Equipamentos (Abimaq).
Para o economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida,
assessor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial (Iedi), o País está na contramão do que
acontece no mundo bem sucedido. "O segredo do sucesso da
China, de uma grande indústria alemã ou dos Estados é
que uma etapa a mais de transformação industrial agrega
valor e competitividade. No nosso caso, agrega muito
custo e retira competitividade."
Bernardini observa que a participação da
indústria brasileira no Produto Interno Bruto (PIB)
registra queda desde os anos 80. A contribuição do setor
para a geração de riquezas no País caiu de
aproximadamente 45% para cerca de 28%, enquanto o PIB
per capita se estabiliza abaixo de US$ 10 mil.
"Em países em condições normais de
desenvolvimento, a queda da participação da indústria no
PIB vem acompanhada pelo aumento do PIB per capita,
indicando que os serviços passam a ter maior peso na
economia e que a indústria não se reduziu nominalmente."
Mario Bernardini acrescentou que, nos últimos dez
anos, o investimento no Brasil cresceu a uma média anual
de 8%. A questão é que 90% desses investimentos são
concentrados em setores ligados a commodities
(matérias-primas) agrícolas e minerais. "Nossa
desindustrialização é seletiva, já que nas commodities
temos vantagens que superam as desvantagens do Custo
Brasil”.
Gomes de Almeida cita que o País é campeão em
competitividade na área de celulose, mas na hora de
transformar a matéria-prima em papel perde toda a
competitividade. "O Brasil perde gradativamente
densidade industrial. Isso significa abrir mão de
potencialidade de crescimento econômico, de geração de
empregos mais remuneradores e de arrecadação de
impostos."
Para mudar o quadro, o economista diz que o País
precisa de uma política industrial de vários vértices,
incluindo regulação em áreas como portos, crédito,
infraestrutura, câmbio e inovação nas empresas. O
presidente da Abimaq, Luiz Aubert Neto, enviou o estudo
da entidade sobre o Custo Brasil para a equipe econômica
do governo e para os candidatos à Presidência da
República. M.R.
|
|
|
Outros Artigos |
|
|