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Desafiando o impossível
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Por Ethevaldo Siqueira
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Nunca diga que uma coisa é
impossível. Há bons exemplos históricos que nos podem
desmentir, na área de tecnologia. Em 1895, cientistas de
renome como o Lord Kelvin consideravam impossível o voo
de máquinas mais pesadas do que o ar. Na década
seguinte, os irmãos Wright e Santos-Dumont, entre
outros, comprovaram publicamente a viabilidade do avião.
Mesmo depois disso, nem todos perceberam o exato alcance
da inovação. O marechal francês Ferdinand Foch,
comandante das forças aliadas na Primeira Guerra, por
exemplo, brindava o mundo em 1904 com esta pérola:
“Embora seja um brinquedo interessante, o avião não terá
qualquer importância militar”.
Muitas coisas impossíveis se realizaram depois do
avião. Até recentemente, alguns cientistas achavam que
era impossível construir uma máquina voadora capaz de
imitar o beija-flor, o único pássaro que voa para trás,
para cima, para baixo e de ponta cabeça. Aliás, essa
máquina já existe e tem o tamanho e a aparência de um
beija-flor de verdade.
Para que o leitor veja com seus próprios olhos
algumas dessas coisas incríveis e tidas como
impossíveis, convido-o a visitar o site
http://www.ted.com/ e assistir à fascinante
apresentação feita em março por Regina Dugan, diretora
da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa, a
Darpa (sigla Darpa do inglês Defense Advanced Research
Projects Agency), dos Estados Unidos, entidade
responsável pela “criação e prevenção de surpresa
estratégica”.
A palestra de Regina Dugan dura pouco mais de 20
minutos e tem o título: From mach-20 glider to
humming bird drone (Do planador Mach-20 ao zumbido do
beija-flor). Para obter as legendas de tradução,
clique abaixo da tela em languages e escolha o Português
o
link completo.
A Darpa criou a internet (chamada no início
Arpanet) ao transmitir, em 29 de outubro de 1969, as
duas primeiras letras da palavra login entre
computadores da Universidade da Califórnia em Los
Angeles (UCLA) e os do Stanford Research Institute (SRI).
“Hoje, no entanto”, relembra Regina Lugan, “somos mais
de 2 bilhões de seres humanos conectados via internet.”
E em dez anos, seremos 90% da humanidade, preveem os
especialistas.
Voar a Mach 20
Tomemos o exemplo da evolução tecnológica do
avião que, há pouco mais de um século, não passava de
uma geringonça. Mas voava. Pois bem: no dia 14 de
outubro de 1947, quando ainda nenhum túnel de vento
havia ultrapassado a velocidade de 0,85 Mach (1.041
km/h), o piloto Chuck Yeager desafiava o impossível num
avião-foguete Bell X-1, para tornar-se o primeiro piloto
no mundo a voar a uma velocidade supersônica.
“Hoje”, explica Regina Dugan, “não falamos mais
em voo transônico ou mesmo supersônico, mas, sim, em voo
hipersônico. Não se trata de voar a 2, 3 ou 5 Mach, mas
a 20 Mach. Nessa velocidade, um avião pode cruzar os
Estados Unidos, de Nova York à Califórnia, em apenas 11
minutos e 20 segundos.”
Esse é o projeto do Veículo de Tecnologia
Hipersônica (HTV, sigla de Hypersonic Technology Vehicle).
O grande problema inicial foi vencer o desafio da
temperatura na reentrada na atmosfera, quando a
superfície do aerofólio do planador atinge 1.900 graus
centígrados, ou seja, a temperatura de fusão do aço.
O primeiro protótipo do HTV desintegrou-se. O
segundo resistiu a essa temperatura absurda, mas caiu no
mar depois de apenas três minutos de voo controlado.
Um lugar mágico
Regina Lugan descreve a Darpa como um lugar
mágico no mundo. “Ali os cientistas desafiam o
impossível e rejeitam o medo de falhar. Quando você
elimina o medo de errar, coisas que pareciam impossíveis
se tornam, de repente, possíveis ou factíveis. Faça você
mesmo essa pergunta: o que você tentaria fazer se
soubesse que não poderia falhar?”
Na reflexão da cientista, é impressionante como o
medo de falhar nos refreia e pode nos impedir de
realizar tantas coisas boas. “Entretanto”, diz ela, “sem
enfrentar desafios, a vida torna-se enfadonha, sem muito
sentido. E as melhores coisas costumam acontecer quando
tentamos aquilo que ninguém fez ou tentou. Vale lembrar
ainda que, para chegar à vitória, o cientista, o
inventor, o herói, o campeão quase sempre cometem
falhas. Mas, com certeza, aprendem com seus erros”.
Beija-flor inspira
Como em tantos outros campos,também em
aeronáutica os cientistas e engenheiros com frequência
se inspiram na natureza. É o caso do beija-flor que,
embora não voe a velocidades hipersônicas, revela alto
grau de dirigibilidade ou manobrabilidade, que poderia
ser a tradução do inglês maneuverability.
De repente, Regina Lugan surpreende o auditório e
apresenta o primeiro robô voador em forma de beija-flor
do mundo. “É uma ave mecânica que pode voar para cima,
para baixo, em todas as direções, inclusive para trás,
como o beija-flor de verdade. E pode parar no ar e
girar. Este é equipado com uma câmera de vídeo, embora
pese o mesmo que uma pilha AA. Só não suga o néctar das
flores.”
O beija-flor pousa na mão de Matt, que usa o
controle remoto. Regina lembra que ele é o primeiro
piloto de beija-flores do mundo. A plateia aplaude. “Não
é lindo?”, diz a cientista.
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