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Desoneração mal explicada: um tiro no pé?


Com as condições propostas, extinguir a contribuição patronal ao INSS pode elevar ainda mais a carga tributária.
 
Hélio Zylberstajn - O Estado de S.Paulo

O governo está anunciando a eliminação da contribuição patronal ao INSS com três objetivos. Primeiro, aumentar a competitividade dos produtos industriais brasileiros, especialmente dos intensivos em mão de obra. Com a desoneração, poderíamos competir melhor com países asiáticos, nos quais o custo do trabalho é extremamente baixo. Segundo, reduzir a informalidade, e, terceiro, expandir o emprego. São objetivos interessantes, que conferem à proposta um apelo muito forte. Mas há muitas dúvidas que precisariam ser discutidas e esclarecidas antes de implementá-la.

A primeira é crucial: o governo anuncia que não vai abrir mão de nenhuma arrecadação. Pretende substituir a contribuição sobre a folha por outra, sobre o faturamento ou sobre o valor adicionado. Qual o tamanho dessa nova mordida? O governo se contentaria em apenas recuperar a arrecadação perdida com a desoneração, ou teria algum lucro? Os calejados contribuintes brasileiros sabem que sempre que há uma mexida nos impostos a conta cresce. Desta vez será diferente?

Outra dúvida: o governo diz que o novo tributo será "seletivo", incidindo mais em alguns setores. Qual o critério da "seletividade"? Que setores serão selecionados para vítimas? Qual o impacto do novo tributo sobre os custos e os preços finais dos diferentes segmentos produtivos? Como a competitividade de uma economia depende de fatores sistêmicos, será que, ao desvestir um santo e vestir "seletivamente" outros, a competitividade do País como um todo não sairia perdendo?

As atividades mais beneficiadas com a desoneração da folha seriam as de prestação de serviços de mão de obra, de terceirização e de trabalho temporário. O custo nessas atividades é formado quase que exclusivamente por salários, já que o trabalho é o seu único insumo - ou, pelo menos, o mais relevante. Ironicamente, a desoneração da folha poderia incentivar as terceirizações, dependendo da "seletividade" do novo tributo a ser criado.

E as implicações para a Previdência Social? O INSS cobra hoje 11% do empregado e 20% do empregador, totalizando 31%. Nossas estimativas indicam que, para equilibrar as contas da aposentadoria por tempo de serviço, uma alíquota de apenas 17% seria suficiente. Portanto, hoje, o INSS arrecada mais do que precisa para pagar seu principal benefício: a aposentadoria por tempo de serviço. O excedente da arrecadação é usado para cobrir parte dos gastos com benefícios não contributivos e aposentadorias por idade. Com a eliminação da contribuição patronal, o INSS ficaria com apenas 11% da folha, que seriam insuficientes para equilibrar os benefícios contributivos. Vale a pena fazer isso? Por que abandonar a relação entre contribuição e benefício, que é um dos conceitos basilares de qualquer sistema de Previdência Social? Não seria mais prudente examinar a desoneração da folha na perspectiva de uma reforma ampla da Previdência Social?

O que dizer da promoção do emprego e do combate à informalidade? Hoje o Brasil cria 2 milhões de novos empregos formais por ano e estamos observando uma queda absoluta na quantidade de postos informais de trabalho. Neste cenário, o possível impacto da desoneração talvez deva ser relativizado.

Em síntese, na forma proposta, a desoneração da folha não melhorará sistemicamente a competitividade da indústria brasileira, desorganizará ainda mais a Previdência Social e, talvez, não contribua tanto assim para aumentar a formalização e o emprego. O tributo que compensará a arrecadação perdida causa muita apreensão porque será "seletivo" e poderá aumentar ainda mais a carga tributária. Enfim, nos termos em que o governo está propondo, a desoneração da folha parece um casuísmo e pode ser um tiro no pé.

Mas a ideia não deveria ser abandonada. Ela tem um lado bom, a redução da tributação, que deveria ser preservado. O outro lado, o novo tributo é que deveria ser descartado. Em vez de criar um novo imposto, o governo poderia compensar a diminuição na arrecadação com uma redução equivalente do gasto. A competitividade agradeceria.

PROFESSOR DA FEA/USP E PRESIDENTE DO INSTITUTO BRASILEIRO DE RELAÇÕES DE EMPREGO E TRABALHO (IBRET)


 
 

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