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O Estado de bem-estar social
afunda
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Robert J. Samuelson |
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Criados numa cultura individualista,
os americanos não gostam do conceito de "Estado do
bem-estar social" e não usam o termo. Mas, não se
enganem: os Estados Unidos têm um Estado de bem-estar
social e seu futuro é precário. O verdadeiro significado
da quebra da General Motors reside mais nesse Estado que
na condição combalida do capitalismo americano.
Em termos gerais, nos EUA esse sistema se divide
em duas partes: a parte privada, gerida por empresas, e
a pública, coberta pelo governo. Ambas estão
pressionadas: as empresas privadas por pressões
competitivas e o governo, por dívidas e encargos
crescentes.
A GM exemplificou a grande corporação como Estado
de bem-estar social privado. Em contratos com o
sindicato United Auto Workers, a GM prometia salários
altos, emprego vitalício, pensões generosas e um
seguro-saúde abrangente. Tudo isso é antigo: os novos
trabalhadores conseguem benefícios bem menores.
Como metáfora, a quebra da GM sinaliza a morte
desse modelo. Companhias ainda fornecem benefícios de
proteção social para atrair e conservar trabalhadores
especializados. Mas esses abrigos contra a insegurança
estão se tornando mais frágeis. Empregos de carreira
permanecem, mas as garantias, formais ou informais, de
emprego vitalício desapareceram. No ano passado, cerca
de 50% dos trabalhadores masculinos com entre 50 e 54
anos de idade estavam com o mesmo empregador havia pelo
menos 10 anos. Em 1983, eram 63%.
Seguro Saúde e Pensões contam histórias
parecidas. Em 2007, o seguro oferecido pelo empregador
cobria 117 milhões de americanos, 59,3% da população; em
1999, a cobertura era de 63,9%. De 1980 para cá, as
empresas mudaram gradualmente de pensões com "benefício
definido" para pensões com "contribuição definida",
conhecidas como 401(k)s. Os planos de benefícios
definidos proporcionavam pagamentos mensais garantidos.
Os planos de contribuição definida - apenas colocar
dinheiro num pote - tornam os trabalhadores responsáveis
pela gestão de sua poupança para aposentadoria.
O que a maioria dos americanos identifica como
"bem-estar social" do governo são pagamentos a mães
solteiras, cupons de alimentação e (talvez) o Medicaid,
o programa de seguro-saúde para os pobres. Mas isso não
é nem a metade dele. Desde 1960, o governo mudou
radicalmente. Nessa época, 52% dos gastos federais iam
para defesa, 25% para "pagamentos a indivíduos" - o
bem-estar social. Em 2008, 61% consistiam de "pagamentos
para indivíduos", 21% para defesa.
A Previdência e o Medicare - programas para os
idosos - representavam a maior parte: US$ 1 trilhão em
2008. A maioria dos americanos não considera esses
programas de "bem-estar social", mas são. Os benefícios
são pagos principalmente pelos impostos atuais; há pouca
"poupança" para benefícios futuros; o Congresso pode
alterar os benefícios sempre que quiser. Se isso não é
bem-estar social, o que é? As pressões sobre os sistemas
de bem-estar privado e público não diminuirão. As
condições econômicas que encorajaram o bem-estar social
corporativo desapareceram. Em 1955, GM, Ford e Chrysler
detinham 85% das vendas americanas de veículos leves,
segundo relatório do economista Thomas Klier, do Chicago
Federal Reserve. Com o domínio do mercado e a liderança
tecnológica, as Três Grandes imaginaram que poderiam
repassar para os consumidores os custos de garantia de
emprego, salários altos e benefícios marginais.
Ansiosas para desarmar a luta de classes dos anos
1930 - e evitar a sindicalização -, muitas empresas
americanas imitaram o modelo. Elas também acreditavam
que a competição seria limitada e a mudança tecnológica
poderia ser controlada. Esses conceitos desapareceram
(em 2008, a fatia de mercado das Três Grandes era de 48%
e estava em queda).
Agora, as companhias estão ultra-sensíveis a
ameaças competitivas e econômicas. Uma pesquisa com 141
empresas feita pela consultoria Watson Wyatt revelou que
72% recentemente cortaram empregos, 21% reduziram
salários e 22% diminuíram a equiparação das
contribuições 401(k).
Em teoria, ampliar o sistema de bem-estar social
público poderia compensar a erosão do privado. A
proposta de assistência à saúde do presidente Barack
Obama reflete essa lógica. O problema é que o setor
público também enfrenta enormes pressões de custos,
impelido pelo envelhecimento da população e a elevação
dos custos da saúde. O Escritório de Orçamento do
Congresso projeta que a dívida federal chegará a 82% do
Produto Interno Bruto (PIB) até 2019.
Qualquer outro exame de números como esses sugere
que o sistema prometeu mais do que poderia entregar.
Estamos tomando emprestado não para financiar o
investimento no futuro, mas para pagar o sistema de
bem-estar social de hoje - o consumo. Pagar os
benefícios prometidos com impostos mais altos não é
desejável. Grandes aumentos da dívida ou de impostos
podem deprimir o crescimento econômico, dificultando
ainda mais o pagamento dos benefícios.
A coisa sensata a fazer é decidir que formas de
bem-estar público são necessárias para proteger os
vulneráveis e começar a cortar outras. Nossa inércia
coloca mais um paralelo tenebroso com a GM. Estava
evidente há 25 anos que a GM não poderia sustentar seu o
Estado de bem-estar social. Mas o sindicato não abriu
mão dos benefícios e a companhia aceitou. Agora, a conta
chegou. Esse ciclo, em escala nacional, seria mais
tétrico. |
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