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O fim dos jargões

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Consultores e empresas como a Gerdau Açominas combatem a linguagem enrolada dos executivos

Ana Paula Lacerda com a colaboração de Marianna Aragão

Toda corporação estuda a adoção de mudanças de paradigma voltadas para resultados a fim de transformar-se, no menor tempo possível, em um centro de excelência no oferecimento de soluções.

O parágrafo acima - talvez o mais chato do jornal de hoje - não é incomum nas apresentações e informativos da comunicação interna das empresas. 'Todos os executivos estão cansados de ler as mesmas palavras sempre, e ainda assim elas continuam a ser usadas em relatórios e apresentações', critica o consultor da Deloitte Consulting americana, Jon Warshawsky. 'O problema é que muitos executivos pensam que utilizar expressões como 'mudança de paradigma' valoriza suas frases. Na verdade, só as torna piores. Afinal, a teoria de Darwin foi uma mudança de paradigma, mas um novo serviço para folhas de pagamento certamente não é.'

Segundo Warshawsky, uma comunicação mais clara passa uma imagem melhor da empresa para os funcionários e - principalmente - para os consumidores. Ele cita, como exemplo de falta de objetividade, a carta enviada pela Enron a seus acionistas no fim de 2001, auge da crise. 'Era ilegível, tantos eram os jargões. Todos perceberam que havia algo errado por trás daquele blablablá.' No outro extremo, ele cita a Apple e seu CEO Steve Jobs. 'Ele é claro quando fala dos produtos, e ficou muito rico. Boa comunicação se reflete nas vendas.'

Uma pesquisa realizada pela Deloitte americana em 2003 apresentou a clientes de lanchonetes nos EUA dois textos corporativos, um com jargões e outro sem. Pesquisados sobre a impressão que tiveram das empresas, a que usava jargões foi qualificada como não-confiável. A outra, como amigável.

Com o objetivo de aproximar a gerência do 'chão de fábrica', a brasileira Gerdau Açominas mudou seu sistema de comunicação interna há sete anos. Segundo o vice-presidente, Luiz André Rico Vicente, uma das principais preocupações da companhia foi transmitir as informações numa linguagem clara, que atingisse todos os funcionários. 'Trabalhamos com oito mil pessoas, de diferentes níveis de escolaridade', explica Vicente. 'Por isso, todo o nosso material foi adaptado ao entendimento de todos, desde o porteiro até os altos gerentes.'

Segundo Vicente, a estratégia de comunicação interna colaborou para os resultados financeiros da empresa, positivos desde 1997. Ele acredita que a divulgação das metas estimula o empenho dos empregados no trabalho, aumentando eficiência e produtividade.

A Symnetics, consultoria que auxiliou a Gerdau Açominas em suas estratégias de gestão, defende que é importante manter toda a equipe informada com clareza. 'Isto torna muito mais fácil atingir as metas, pois todos sabem o que é pra fazer', explica Fanny Schwarz, presidente da Symnetics no Brasil. 'Além disso, um analista e fundos de investimentos estão mais interessados nas empresas que conseguem relatar claramente seus resultados, sem enrolação.'

ATRIBUTOS

A diretora do Career Center, Simone Lasagno, tem opinião semelhante. Especialista em transição de carreira, Simone afirma que a boa comunicação está ligada a dois outros atributos que auxiliam muito no desenvolvimento do executivo: criação de relacionamentos e persuasão. 'Dificilmente uma pessoa que se comunica bem tem dificuldades nestas áreas.'

Mas para aqueles que pronunciam 'transferência de capacitação' e 'reengenharia' a cada dez palavras, há solução. 'Existem treinamentos formais par uma melhor comunicação, testes de avaliação de competência, e claro, a iniciativa própria de mudar.'


PIORES JARGÕES

Em seu livro Por que as pessoas de negócios falam como idiotas?, Jon Warshawsky cita as piores expressões utilizadas na comunicação corporativa. Abaixo, alguns exemplos:

Mudança de paradigma: Se a novidade não for importante
como as descobertas de Copérnico sobre o sistema solar, não é uma verdadeira mudança de paradigma.

Voltado para resultados: Expressão inútil, por ser óbvia. Nenhuma empresa realiza projetos por puro prazer.

Classe mundial: Se algum produto precisa alardear que é
de classe mundial, provavelmente não o é.

Extensível: Dá ao projeto a impressão de que deve ser útil no futuro, mas não se sabe para quê.
 
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