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Os russos merecem coisa
melhor que Putin
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Presidente russo tornou o país amigo
de tiranos e indigno da confiança de nações que procuram
construir um mundo mais seguro e pacífico
John Mccain* - O Estado de S.Paulo - 20 de
setembro de 2013
Quando o editor do Pravda.ru, Dmitri Sudakov,
propôs publicar meu comentário, ele me apresentou como
"um político participante que há muitos anos manifesta
posições anti-russas". Tenho a certeza de que não é a
primeira vez que os russos ouvem falar a meu respeito
como um antagonista.
Como o meu objetivo aqui é dissipar falsas noções
usadas pelos governantes russos para perpetuar o seu
poder e justificar sua corrupção, começarei por esta
inverdade. Não sou anti-russo. Sou mais favorável à
Rússia do que o regime que hoje governa o povo russo de
maneira inepta. Faço essa afirmação porque respeito sua
dignidade e seu direito à autodeterminação. Acredito que
vocês russos deveriam viver de acordo com os ditames de
sua consciência, e não com os do seu governo.
Acredito que vocês merecem a oportunidade de
melhorar sua maneira de viver com uma economia que possa
durar e beneficiar a maioria, e não apenas uma minoria
poderosa. Vocês deveriam viver num estado de direito
patente, implementado de maneira coerente, imparcial e
justa. Faço essa afirmação porque acredito que o povo
russo, assim como o americano, foi dotado pelo Criador
do direito inalienável à vida, à liberdade e à busca da
felicidade.
Um cidadão russo não poderia publicar um
depoimento como o que acabo de apresentar. O presidente
Putin e seus associados não acreditam nesses valores.
Eles não respeitam a dignidade do seu povo nem aceitam
que esse tenha autoridade sobre eles. Punem a dissensão
e aprisionam os adversários. Fraudam as eleições.
Controlam os meios de comunicação.
Atormentam, ameaçam e proíbem organizações que
defendem o seu direito à autonomia. Para perpetuar o seu
poder, eles promovem uma corrupção desenfreada em seus
tribunais e em sua economia. Aterrorizam e até mesmo
assassinam jornalistas que tentam revelar essa
corrupção.
Promulgam leis que codificam a intolerância em
relação a pessoas cuja orientação sexual condenam.
Atiram na cadeia as integrantes de uma banda de rock
punk pelo crime de terem uma atitude provocadora e
vulgar, e por terem a audácia de protestar contra o
governo de Putin.
Sergei Magnitsky não era um ativista dos direitos
humanos. Era um contador que trabalhava num escritório
de advocacia de Moscou. Era um cidadão russo comum que
fez algo extraordinário. Revelou um dos maiores
desfalques do patrimônio público da história russa. Ele
prezava a lei e acreditava que ninguém deveria
colocar-se acima dela. Mas por seus princípios e sua
coragem, foi conduzido ao cárcere de Butyrka sem
julgamento, onde foi espancado, adoeceu e morreu. Depois
de sua morte, foi realizado um processo fictício no
estilo dos processos da era estalinista e,
evidentemente, foi considerado culpado. Não foi apenas
um crime contra Sergei Magnitsky.
Foi um crime contra o povo russo e o seu direito
de ter um governo honesto - um governo digno de Sergei
Magnitsky e de vocês.
O presidente Putin declara seu propósito de
devolver à Rússia sua grandeza como pátria e entre as
nações do mundo. Mas em que termos ele devolveu essa
grandeza? Ele lhes entregou uma economia, com base quase
inteiramente em alguns recursos naturais, que se
expandirá e declinará de acordo com essas mercadorias.
Suas riquezas não durarão. E, enquanto durarem,
pertencerão quase exclusivamente a alguns corruptos e
poderosos. O capital externo foge da Rússia, que - pela
falta de um estado de direito e de uma economia
diversificada - é considerada uma aposta demasiado
arriscada para os investimentos e o empreendedorismo.
Ele lhes deu um sistema político sustentado pela
corrupção e pela repressão, que não é suficientemente
forte para tolerar a dissensão.
De que maneira ele reforçou a projeção
internacional da Rússia? Aliando-a a algumas das
tiranias mais agressivas e ameaçadoras do mundo.
Apoiando o regime sírio que assassina dezenas de
milhares de pessoas de seu próprio povo a fim de se
perpetuar no poder e impedindo pela obstrução que a ONU
condene suas atrocidades. Recusando-se a considerar o
massacre de inocentes, a terrível situação de milhões de
refugiados e a crescente perspectiva de uma conflagração
que envolva outras nações em suas chamas, um motivo
digno da atenção mundial. Ele não aprimora a reputação
global da Rússia, ele a destrói. Ele a tornou amiga de
tiranos e inimiga dos oprimidos, e indigna da confiança
de nações que procuram construir um mundo mais seguro,
mais pacífico e próspero.
O presidente Putin não acredita nesses valores
porque não acredita em seu povo. Ele não acredita que a
natureza humana de posse de sua liberdade possa superar
suas fraquezas e construir sociedades. Ou, pelo menos,
não acredita que os russos tenham essa capacidade.
Portanto, ele governa usando estas fraquezas, pela
corrupção, a repressão e a violência. Governa para si
mesmo, não para os russos.
Eu acredito nos russos. Acredito em sua
capacidade de autodeterminação, e em seu desejo de
justiça e oportunidades. Acredito na grandeza do povo
russo, que sofreu terrivelmente e combateu bravamente
contra terríveis adversidades para salvar a sua nação.
Acredito em seu direito de criar uma civilização digna
dos sonhos e dos sacrifícios de todos vocês. Quando
critico o governo, não o faço por ser anti-russo, mas
porque estou convencido de que o povo russo merece um
governo que confie nele e corresponda a seus anseios. E
desejo ardentemente que um dia os russos possam tê-lo.
*John Mccain é senador republicano dos EUA.
O artigo original foi publicado na quinta-feira
no site
http://www.pravda.ru/
TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
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