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Passada a crise, o emprego
volta?
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José Pastore* |
Essa pergunta me atormenta. Sei que é um pouco cedo para
tal, porque o fim da crise está longe. Ainda assim me
preocupo.
Será que as empresas que estão sem caixa, sem crédito,
sem demanda e sem perspectivas - mergulhadas num
verdadeiro tsunami - vão se animar a remontar o quadro
de pessoal que tinham quando a economia estava a todo
vapor?
Passo ao leitor algumas observações corriqueiras.
Perguntei a um motorista de táxi se a crise estava
afetando o seu negócio. Ele me disse: "Está, e muito. As
empresas com as quais eu tenho contrato permanente para
atender seus funcionários, agora, só permitem a
utilização do táxi mediante autorização do alto escalão.
Poucos usam. Perdi 70% da minha receita."
Passada a crise, será que essas empresas vão revogar
essa nova regra? Elas vão continuar com a liberalidade
que tinham para contratar taxistas, decoradores, eventos
sociais, treinamentos, etc.? Elas manterão os mesmos
quadros de pessoal, que geram despesas de monta tanto
para contratar como para despedir?
Suspeito que parte dos trabalhadores despedidos não será
recontratada. Os altos custos de contratação (103% do
salário) farão as empresas pensarem duas vezes, e as
elevadas despesas de demissão, três vezes.
Vejam o caso hipotético de um funcionário que ganha R$ 1
mil por mês e tem cinco anos de trabalho na mesma
empresa. Se a sua dispensa for feita longe da data-base
e com o gozo do aviso prévio em tempo, só com o FGTS a
empresa terá uma despesa de R$ 8.388,89 - oito salários.
Se for perto da data-base e com o aviso prévio pago em
dinheiro, serão R$ 10.669,96 - mais de dez salários!
Demitir é caro, e não só por conta do FGTS. A empresa
gasta muito na capacitação dos seus colaboradores.
Formar uma equipe competente, harmoniosa e conhecedora
da cultura da organização leva anos e investimentos
continuados no capital humano. Ou seja, despedir envolve
perdas de grande vulto.
Com uma crise tão profunda, muitas empresas serão
tentadas a reformular a sua política de emprego. A
retomada do crescimento será feita com menos empregos
fixos (e internos) na empresa, mais trabalho eventual
(externo) e com muita automação.
As atividades estratégicas devem continuar entregues a
um pessoal fixo, leal e competente - é claro. Outras
atividades, porém, serão realizadas com base em
contratos de empreita ou de prestação de serviços - que
têm começo, meio e fim (regidos pelo Código Civil, e não
pela CLT) -, ou por meio de trabalho temporário (Lei nº
6.019), por prazo determinado (Lei nº 9.601), por
cooperativas (Lei nº 5.764), ou ainda por meio de
terceirização decente, se for regulamentada a tempo.
Isso já vem ocorrendo. A crise intensificará essa
tendência.
A se confirmar essa especulação, só me resta dizer que,
infelizmente, uma parte do desemprego atual veio para
ficar. Será mais um passo no processo de reestruturação
das empresas, com profundas implicações aos
trabalhadores. Para entrar no quadro fixo, a
concorrência será brutal. O rigor no recrutamento
aumentará muito. Os candidatos precisarão estar muito
bem preparados na sua profissão e nos conhecimentos
gerais que hoje se exigem das pessoas mais qualificadas.
O rigor aumentará também para os que forem contratados
externamente, pois as empresas procurarão monitorar
melhor os contratos que fizerem, para com isso terem
mais segurança jurídica.
E para os que não forem contratados como fixos nem como
prestadores de serviços restará o trabalho por conta
própria, que também enfrentará desafios da concorrência.
O desemprego atual não é meramente friccional. No caso
deste, quando a tormenta passa, o presente continua
parecido com o passado e quase todos voltam ao trabalho.
Quando há reestruturação tecnológica ou administrativa o
mundo é outro: o presente fica bem diferente do passado,
criando novas formas (cada vez mais austeras) de
produzir e trabalhar.
Para ter chance neste novo mundo, recomendo aos jovens
investirem pesadamente na sua preparação. Não parem de
estudar durante a crise. Ao contrário, acelerem. Estudem
além da sua profissão. Busquem a formação ampla, sem
descuidar da especialidade. Se aparecer um estágio,
aproveite, mesmo que não seja o dos seus sonhos. Na
crise temos de pegar o que existe, que nem sempre é o
que queremos.
*José Pastore é professor de relações
do trabalho da Universidade de São Paulo Site:
www.josepastore.com.br |
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