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Redução de jornada e geração de emprego
 

Por José Pastore
 
A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 231 visa à criação de mais empregos por meio de uma redução da jornada legal de trabalho de 44 para 40 horas semanais, sem redução dos salários e acompanhada de um aumento do valor da hora extra de 50% para 75%. O Dieese estima que o Brasil terá 2,3 milhões de empregos adicionais com a aprovação dessa medida. Uma análise de cerca de 20 pesquisas sobre a matéria, porém, mostra não haver um só caso de geração de empregos em decorrência da redução da jornada legal.

Isso ocorre porque as empresas, como estratégia de sobrevivência, buscam neutralizar todo aumento de custo por meio de medidas bastante conhecidas. Algumas fazem um uso mais intensivo dos atuais empregados. Outras substituem trabalhadores por máquinas. Quando nada disso funciona, elas diminuem a produção para se ajustar ao quadro de pessoal atual ou repassam o aumento de custo para os preços dos bens e serviços.

Em nenhum desses casos há geração de empregos. O mais comum é a ocorrência de severos prejuízos para os trabalhadores. O trabalho mais intensivo é estressante. A automação despede os empregados. A redução da produção conspira contra os novos empregos. O aumento dos preços reduz o poder de compra, em especial dos mais pobres.

Mas como explicar que as jornadas de trabalho se reduziram na maior parte dos países avançados sem nenhum desses prejuízos? Muito simples: porque a redução foi feita por meio da livre negociação, e não pela imposição de leis ilusórias.

No caso do Brasil, qual seria o problema da mudança da Constituição nesse campo?

O parque produtivo nacional é extremamente heterogêneo. A jornada que vale para os bancos não serve para a agricultura. A que serve para o setor de serviços não serve para o comércio. A que se ajusta às grandes empresas não se ajusta às pequenas. Mesmo entre as grandes, o que vale para uma empresa que trabalha das 8 às 17 horas não serve para a que trabalha 24 horas por dia em turno de revezamento.

As diferenças são enormes e as complicações são imensas. A jornada mais realista, portanto, é a que obedece às peculiaridades das empresas e dos empregados. Isso só pode ser feito caso a caso e pela via negocial. Não há como colocar uma camisa de força numa realidade tão heterogênea como a brasileira.

É dessa forma que a redução da jornada de trabalho avançou no mundo, inclusive no Brasil. Quando se analisa cada tipo de jornada em separado, verifica-se que a proposta pela PEC 231 (40 horas por semana) vem aumentando a cada ano. Segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), em 2002 havia cerca de 7 milhões de empregados formais trabalhando 40 horas por semana. Em 2008 eram quase 11 milhões. Houve um aumento colossal (57%), em grande parte puxado pelo setor de serviços.

Mas não é só esse setor. Na indústria, no mesmo período, o salto foi de 2 milhões para 3 milhões de empregados, um aumento de 50%. Desde 2002, essa é a jornada que, individualmente, congrega o maior número de empregados no setor.

A referida redução vem sendo realizada de forma natural pela via da negociação ou por opção das empresas, com bons resultados para todos os lados. No período de 2002 a 2008, a produção se expandiu, a inflação caiu e o emprego formal aumentou. Tudo isso sem mexer na jornada legal, que é estabelecida na Constituição federal.

Em suma, empregos não podem ser criados por lei. Seria bom se assim fosse. Não haveria desemprego no mundo!

A realidade é outra. A geração de empregos depende da conjugação de dezenas de fatores. Três deles são fundamentais: investimentos produtivos, educação de boa qualidade e legislação adaptável a mudanças. Nenhum deles será melhorado por uma mera redução da jornada legal. Ao contrário, toda vez que se tentou reduzir essa jornada de forma impositiva o emprego não cresceu, porque as empresas incorporaram mais máquinas, intensificaram o trabalho dos mesmos empregados, diminuíram os investimentos e reduziram a produção. Em nenhum desses casos houve aumento do emprego, repetindo-se entre nós o que está largamente documentado pela pesquisa internacional.

A decisão está com os senhores deputados. Em breve saberemos quem busca realmente a geração de empregos e quem usa essa proposta com o fim exclusivo de captar os votos de eleitores iludidos.

 
 
 

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