Cada vez menores, mais
potentes e mais baratos, os chips de memória têm se
multiplicado nas companhias. Eles são a maneira mais
rápida de transportar arquivos de um computador para
outro. Ninguém precisa mais entender de conexões em
rede entre duas máquinas. Basta espetar um chaveirinho
e fazer o transporte físico das informações para
qualquer lugar — inclusive para fora da empresa. “A
possibilidade de copiar dados em pen drives não
seguros, iPods e computadores de mão, entre outros
aparelhos, tem representado um tormento para os
esforços de segurança”, diz Larry Ponemon, presidente
do Ponemon Institute, empresa americana que pesquisa
vazamentos de dados e segurança da informação. Os pen
drives já são o segundo meio mais utilizado para
transportar documentos e dados corporativos para fora
da companhia, segundo uma pesquisa da empresa de
segurança digital McAfee. Só perdem para os laptops.
Mas, ao contrário dos PCs portáteis, os chaveiros de
memória são virtualmente impossíveis de controlar e
são encarados de forma casual: raríssimas companhias
exigem que os dados por eles transportados sejam
protegidos. O vazamento
de informações corporativas causado por perda ou roubo
de pen drives tem se tornado cada vez mais freqüente
nas estatísticas, de forma proporcional ao crescimento
do uso desse tipo de memória portátil. Recentemente,
nos Estados Unidos, nomes, endereços, números de
identidade e registros médicos de 120 000 pacientes do
hospital Wilcox Memorial, no Havaí, foram expostos por
causa de um pen drive perdido. O mesmo aconteceu com 6
00 alunos da Universidade do Kentucky, que tiveram
suas informações expostas após o extravio do pen drive
de um professor. A gigante da aviação Boeing também
revelou, no ano passado, ter sido vítima do roubo de
320 000 arquivos de documentos confidenciais por um
funcionário que agiu por cerca de dois anos e utilizou
memórias portáteis como aliadas. O rombo? Entre 5
bilhões e 15 bilhões de dólares. No Brasil, a situação
não é diferente. A subsidiária local da Kroll,
consultoria de gerencia-mento de riscos, foi
contratada no ano passado por uma empresa do ramo
imobiliário em São Paulo para investigar um caso de
roubo de dados usando a memória portátil. Um suposto
técnico entrou na empresa com o pretexto de consertar
os computadores da secretária e do diretor-geral,
conectou o pen drive e em menos de 25 minutos já havia
copiado planilhas com dados bancários, informações
financeiras e documentos da empresa. Apenas no final
do dia, percebeu-se que não se tratava, de fato, de um
funcionário da empresa. “O impacto poderia ter sido
muito menor se existissem alguns controles
tecnológicos simples, entre eles o bloqueio de
gravação nesse tipo de memória portátil”, diz Paulo
Renato Silva, diretor da área de computação forense e
serviços de tecnologia da Kroll.
“A maioria das empresas
conhece os riscos, mas não compreende a gravidade ou
acredita que a solução para o problema é muito
complexa e cara”, afirma o americano Ponemon. Os
números justificam todo e qualquer cuidado. Segundo um
levantamento levantamento recente do próprio Ponemon
Institute com 893 entrevistados, 51% dessas pessoas
utilizam esse meio para copiar informações
confidenciais da empresa e a maioria (87%) sabe que a
prática viola as regras de segurança das companhias.
Para proteger seus dados, a Honda Brasil começou a
implantar, no mês passado, uma política de restrição
aos equipamentos particulares de seus funcionários,
sejam pen drives, MP3 players ou computadores de mão.
“Mesmo que um desses aparelhos seja plugado a um dos 4
200 computadores da empresa, nenhum dado pode ser
copiado”, diz Leandro Doreto, analista de segurança da
informação e um dos integrantes do projeto da
montadora japonesa. Para não abrir mão da comodidade
dos pen drives, a Honda comprou dispositivos
criptografados e distribuiu aos profissionais de
acordo com a função. Esse tipo de política preventiva,
porém, ainda é exceção no Brasil. Segundo Wanderson
Castilho, diretor da E-NetSecurity Solutions, de cada
dez empresas, menos de três têm essa preocupação de
monitoramento. “Nos Estados Unidos, essa proporção
chega a sete entre dez”, diz Castilho.
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