|
|
Prestamos Consultoria para todo o Brasil, Chile,
Argentina, México, Itália, Portugal e Espanha.
Entre em contato
011 4666-7845 e 9154-9354
contato@faccin.com.br
|
|
|
|
Tecnologia para ricos ou
pobres?
|
"Há pouco tempo, só rico tinha telefone. Hoje,
empregadas domésticas saem fagueiras das lojas com seus
celulares funcionando, prontos para lhes prestar
serviços inestimáveis"
|
Revolução Industrial pesou no lombo
do operariado. Marx e Dickens, com ânimos diferentes,
descreveram a miséria opressiva de Londres. Mas, a longo
prazo, os maiores ganhos foram para esse mesmo
proletariado. Para Schumpeter, o desenvolvimento
econômico não é mais meias de seda para os ricos – que
sempre as tiveram à vontade – mas meias para os pobres.
Nos países mais prósperos, um operário hoje tem um nível
de conforto que um rico da época de Marx não tinha. Nas
nossas paragens tupiniquins, os benefícios para os mais
pobres, trazidos pelo crescimento do século XX, foram
superiores aos de todos os quatro séculos anteriores.
Apenas para ilustrar, a esperança de vida passou de 30
anos para mais de 70. Obviamente, falta muito, não são
poucos os excluídos e não se trata de desculpar a
horrenda distribuição de renda. Mas, é interessante
registrar, os avanços tecnológicos têm sido muito
generosos para com os mais pobres. Não que tenham sido
pensados assim, mas é o que aconteceu.
A produção de motos (1,5 milhão por ano)
corresponde a mais da metade dos brasileiros atingindo
18 anos. Um jovem empregado, morando com seus pais,
consegue pagar a prestação de uma motocicleta simples,
desfrutando a indescritível sensação de liberdade
oferecida por ter seu próprio veículo. O telefone
celular é a redenção de quem trabalha por conta própria.
Enterro em vala comum para o precário sistema de recados
em telefones "de favor". De fato, só rico tinha
telefone. Hoje, empregadas domésticas saem fagueiras das
lojas com seus celulares funcionando, prontos para lhes
prestar serviços inestimáveis.
As fotos de família estavam a cargo dos
fotógrafos das praças públicas. Hoje, um celular
melhorzinho fotografa tudo, a custo zero. O computador
começa a chegar ao povão (em modestas prestações). Por
exemplo, o meu borracheiro tem. Quase um terço da
população tem algum acesso a ele. O crescimento das
vendas é espantoso. Para um universitário, um bom
computador usado custa menos do que os livros indicados
anualmente pelos professores.
Quantos municípios brasileiros não têm livrarias?
Ou, se têm, seu acervo é pífio. Mas, para que livrarias,
se há a Amazon.com e suas versões caboclas? Qualquer um
pode comprar quase 20 milhões de títulos pressionando
algumas teclas. Quem tem Google ri dos 32 volumes da
Britânica, ao custo de 1.000 dólares, pois a Wikipedia é
mais simpática e de graça. Pobre não tem dinheiro para
revistas ou jornais, mas agora está tudo na internet. E
pode ler, em português e gratuitamente, milhares de
livros de domínio público. O rico mandava o contínuo ou
o moleque de recados ao correio para postar uma carta.
Agora, o pobre passa um e-mail, igualzinho ao rico. E
nenhum dos dois paga o selo. E o preço absurdo dos CDs?
Hoje, qualquer música pode ser encontrada na web. E, com
um pouquinho de astúcia, sem gastar nada. E passam
fagueiros os garis, com seus fones ligados nos tocadores
de MP3. Como dito, longe deste ensaísta subestimar a
situação de pobreza de grande parte da nossa população.
Não obstante, a mensagem deste ensaio é
que os avanços presentes da tecnologia trazem
benefícios bem maiores para o povão.
Tais elucubrações nos levam de volta ao bando de
hippies da Califórnia que inventou os microcomputadores,
na década de 70. Era um grupo de contracultura que via
na tecnologia um antídoto para a opressão, por parte de
uma sociedade impessoal, comandada por grandes empresas
e por "big brothers" sinistros. Eles buscavam
alternativas tecnológicas libertadoras. Queriam
ferramentas que permitissem aos pequenos expressar-se em
múltiplas direções. Precisavam de soluções pouco
dispendiosas. Com o sucesso dos microcomputadores, quase
todos ficaram milionários. Não precisaram das soluções
baratas que criaram. Mas as ideias estavam na rua. Suas
aplicações foram herdadas por bilhões de pessoas.
Restam duas cogitações. Primeiro, o povo ficou
mais feliz com seus novos apetrechos? Ou aumentou sua
alienação e angústia? Segundo, ele saberá usar isso
tudo? Ou as lastimáveis deficiências em sua educação o
impedem de usar o melhor desse potencial criado pela
tecnologia para aumentar sua cultura e qualidade de
vida?
Claudio de Moura Castro para a Revista Veja
|
|
|
Outros Artigos |
|
|