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Um país que não aprende

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As autoridades e também as empresas aéreas sabem disso há muito tempo. Desde a década de 70, discute-se o destino de Congonhas.
Em 1979, a Aeronáutica definiu que o aeroporto ficaria apenas com a operação da ponte aérea Rio­São Paulo e com vôos regionais, feitos por aeronaves de pequeno porte. Guarulhos operaria os vôos domésticos, e Viracopos, em Campinas, seria o grande aeroporto internacional de São Paulo. "Se o plano tivesse sido seguido, a aviação estaria em condições muito melhores hoje", diz Alves.
Há aeroportos em centros urbanos no mundo todo, mas em todos os lugares há também discussões para retirá-los.
O aeroporto La Guardia, em Nova York, tem muitas semelhanças com Congonhas -- também fica em uma área densamente habitada, recebe aeronaves de grande porte e possui uma pista com apenas 96 metros a mais que a principal de Congonhas.
Lá, pelo menos, houve reformas para reduzir riscos. Além de uma área de escape bem maior, o aeroporto americano recebeu uma espécie de guard-rail que ajuda a parar aeronaves.
Mesmo assim, moradores vizinhos ao La Guardia estão em pleno movimento pela retirada do aeroporto.
Outros países já fecharam aeroportos tradicionais. Em 1998, o aeroporto central de Hong Kong foi desativado em razão do alto risco de acidentes. Atenas inaugurou em 2001 um novo aeroporto, substituindo o antigo terminal que ficava no sul da cidade.
No segundo semestre de 2007, o governo português deve lançar a licitação do novo aeroporto de Lisboa, obra estimada em 3 bilhões de euros, que substituirá o atual terminal de Portela. No projeto, o governo português deverá entrar com 430 milhões de euros, e o restante dos recursos virá da iniciativa privada. "A maioria dos aeroportos na Europa já foi privatizada. Portugal é uma exceção", diz Rafael Rossi, diretor da Mota-Engil, empreiteira portuguesa integrante de um dos consórcios que irá disputar a licitação.
Essa é, porém, mais uma lição que o Brasil -- e particularmente o governo atual -- teima em ignorar. Nesse ponto, o país parece incapaz de aprender até com os próprios acertos. O setor da infra-estrutura em melhores condições foi justamente o que passou totalmente para as mãos de concessionárias privadas -- o de tele-comunicações.
Antes das privatizações, o Brasil contava com apenas 12 linhas de telefone fixo e três linhas de celulares para cada 100 habitantes. Atualmente, a média por centena de brasileiros é 27 telefones fixos e 57 celulares. No setor rodoviário, são incomparáveis a qualidade e as condições de segurança das estradas privatizadas com o quadro de precariedade da maior parte da rede federal.
O que impede que o investimento de empresas possa se impor nas demais áreas é um notório viés anti-setor privado -- a despeito da própria escassez de recursos públicos.
O governo Lula trouxe consigo um conflito ideológico que coloca o tema das privatizações como um tabu. "É uma esquizofrenia total", afirma o economista Raul Velloso, especialista em finanças públicas. "O governo não investe nem cria as condições para o setor privado investir." Uma prova desse conflito é a situação das agências reguladoras. As principais agências sofreram retenção de recursos nos últimos anos, o que enfraqueceu seu poder de fiscalização e criou uma dependência em relação ao caixa da União. "Elas têm de ser órgãos de Estado, não de governo, caso contrário só espantarão os investidores", afirma Virgínia Parente, professora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e especialista em regulação.
A despeito de todos os problemas decorrentes da falta de planejamento, da ausência de liderança e da má gestão, o Brasil tem se beneficiado do momento excepcional por que passa a economia mundial.
Mas o mundo já viveu fases de euforia -- e a lição da história é que elas, inevitavelmente, chegam ao fim. Cabe aos próprios países gerar as condições para a prosperidade. Aprender com seus próprios erros -- até para evitar que se repitam -- é característica comum a todas as nações que chegaram ao desenvolvimento. Fica a lição.

 

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