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Valorize o saber, segure seu
petróleo |
Estudo da OCDE
mostra que países com menos recursos naturais investem
mais no ensino e valorizam capacidades e conhecimentos
do povo |
THOMAS, FRIEDMAN do The New York
Times , é colunista e escritor - O Estado de S.Paulo
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Frequentemente alguém me pergunta:
"Que país você admira, além do seu?" Minha resposta é
sempre a mesma: Taiwan. "Taiwan? Por que Taiwan?", as
pessoas perguntam.
É muito simples: porque Taiwan é uma rocha nua em
um mar repleto de tufões sem recursos naturais que lhe
permitam sobreviver - ela precisa importar até areia e
cascalho da China para construção -, mas tem a quarta
maior reserva financeira do mundo. Porque em vez de
escavar a terra e minerar o que quer que encontre em
baixo dela, Taiwan cultiva seus 23 milhões de
habitantes, seu talento, energia e inteligência - homens
e mulheres indistintamente. Sempre digo a meus amigos em
Taiwan: "Vocês são as pessoas mais privilegiadas do
mundo. Como foi que conseguiram ter tanta sorte? Vocês
não têm petróleo, não têm minério de ferro, florestas,
diamantes, ouro, apenas alguns pequenos depósitos de
carvão e gás natural - e por causa disso desenvolveram
hábitos e uma cultura que lhes permitiram aprimorar os
talentos do seu povo, e os converteram no recurso mais
valioso e mais autenticamente renovável do mundo hoje.
Como foi que conseguiram tanta sorte assim?" Pelo menos,
era o que eu achava instintivamente. Agora, aí estão
as provas.
Uma equipe da Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE) acaba de apresentar um
pequeno, mas fascinante, estudo que estabelece a
correlação entre o desempenho no exame do Programa de
Avaliação Internacional de Alunos (o Pisa), que a cada
dois anos aplica testes de matemática, ciências e
compreensão de leitura para alunos de 15 anos de 65
países, e os ganhos totais obtidos com seus recursos
naturais como porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB)
de cada país participante. Em resumo, como se saem os
alunos do ensino médio dos EUA em matemática em
comparação com a quantidade de petróleo que bombeamos ou
de diamantes que exploramos? Os resultados indicaram uma
"significativa relação negativa entre o dinheiro que os
países obtêm dos recursos naturais e o conhecimento e a
capacidade de sua população de ensino médio", disse
Andreas Schleicher, que supervisiona os exames do Pisa
para a OCDE. "Trata-se de uma avaliação global de 65
países que participaram do mais recente exame do Pisa".
Petról
eo e Pisa não se misturam. (Ver o mapa de dados
no site:
http://www.ocde.org/dataocde/43/9/49881940.pdf)
Como diz a Bíblia, acrescentou Schleicher:
"Durante 40 anos, Moisés guiou os judeus em meio a
grandes dificuldades através do deserto rumo à terra
prometida no Oriente Médio, onde não havia petróleo.
Mas, no fim, Moisés conseguiu. Hoje, Israel é uma das
economias mais inovadoras e sua população tem um padrão
de vida que a maioria dos países ricos em petróleo da
região não tem condições de oferecer".
Recursos. Portanto, segure o petróleo e valorize
o conhecimento. Segundo Schleicher, nos resultados do
último Pisa estudantes de Cingapura, Finlândia, Coreia
do Sul, Hong Kong e Japão destacaram-se por suas notas
elevadas e seus escassos recursos naturais, enquanto
Catar e Casaquistão se destacaram por ter as rendas mais
elevadas em razão do petróleo e as notas mais baixas do
Pisa. (Arábia Saudita, Kuwait, Omã, Argélia, Bahrein,
Irã e Síria apresentaram os mesmos resultados num teste
semelhante de 2007 das Tendências do Estudo
Internacional de Matemática e Ciências, TIMSS na sigla
em inglês, enquanto, um fato interessante, estudantes do
Líbano, Jordânia e Turquia - países do Oriente Médio com
escassos recursos naturais - obtiveram resultados
melhores.) Mas estudantes de muitos países ricos em
recursos naturais da América Latina, como Brasil, México
e Argentina, obtiveram uma classificação ruim. A África
não foi testada. Canadá, Austrália e Noruega, países que
também dispõem de abundantes recursos naturais, co
ntinuam com boas notas no Pisa, em grande parte,
afirma Schleicher, pois os três países adotaram
políticas destinadas a economizar e investir a receita
proporcionada por tais recursos, em vez de consumi-los.
Somando tudo isso, os números mostrarão que, se
quisermos realmente saber qual será o desempenho de um
país no século 21, não deveremos contar seus recursos de
petróleo ou suas minas de ouro, mas seus professores
extremamente eficientes, pais zelosos e estudantes
aplicados. "Os resultados do aprendizado na escola,
hoje, permitem prever com bastante acerto os resultados
em termos sociais e da riqueza que os países colherão no
longo prazo", diz Schleicher.
Os economistas conhecem há muito tempo essa
"doença holandesa", que aparece quando um país se torna
tão dependente da exportação de recursos naturais que
sua moeda se valoriza enormemente e, como resultado, sua
indústria nacional fica esmagada sob montanhas de
produtos de importação baratos, enquanto suas
exportações encarecem demais. O que a equipe do Pisa
revelou é uma doença relacionada a essa situação: parece
que as sociedades que dependem fundamentalmente de seus
recursos naturais criam pais e jovens que perdem em
parte seus instintos, hábitos e incentivos para se
esforçarem e aperfeiçoarem seus talentos.
Por outro lado, diz Schleicher, "em países
dotados de escassos recursos naturais - como Finlândia,
Cingapura ou Japão - a educação apresenta grandes
resultados e confere uma situação social elevada, ao
menos em parte porque o público em geral compreendeu que
o país precisa sobreviver valorizando seus conhecimentos
e suas capacidades, e elas dependem da qualidade da
educação... Os pais e filhos destes países sabem que o
talento do seu filho decidirá as chances que ele terá na
vida e nada mais poderá salvá-los e, portanto, eles
criam toda uma cultura e um sistema educativo ao seu
redor". Ou, como afirma meu amigo indiano-americano,
K.R. Sridhar, fundador da empresa Bloom Energy de
células de combustível do Vale do Silício: "Quando você
não tem recursos materiais, passa a explorar o recurso
de sua engenhosidade".
É por isso que os países com o maior número de
companhias listadas no Nasdaq são Israel, China/Hong
Kong, Taiwan, Índia, Coreia do Sul e Cingapura - nenhum
dos quais dispõe de recursos naturais para explorar.
Mas no estudo há também uma importante mensagem
para o mundo industrializado. Nestes tempos difíceis
para a economia, nós nos sentimos tentados a respaldar
nosso padrão de vida atual incorrendo em
responsabilidades financeiras ainda maiores para o
futuro.
Evidentemente, numa recessão prolongada o
estímulo também influi, mas "a única maneira possível é
criarmos nossa solução proporcionando a um número maior
de pessoas o conhecimento e a capacidade de competir,
colaborar e conectar de modo a levar nosso país para
frente", afirma Schleicher.
Em suma, ele prossegue, "o conhecimento e a
capacidade tornaram-se a moeda global das economias do
século 21, embora sem um banco central que imprima esta
moeda. É claro que é sensacional ter petróleo, gás e
diamantes, que permitem comprar empregos. Mas, no longo
prazo, acabarão enfraquecendo a sociedade, a não ser que
exista o hábito de construir escolas e adotar uma
cultura de aprendizado para a vida toda. "O que nos
manterá caminhando para a frente", diz Schleicher, será
sempre "nossa contribuição pessoal".
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