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Análise crítica do indiciamento do SESVESP por suposta formação de Cartel


Agora, suponha que a loja vizinha faça uma liquidação e comece a vender a mesma camisa por R$ 80,00.
Veja no quadro a seguir que por esse preço, teríamos de vender 1.495 camisas para empatar.

 

 


Observe que uma redução de apenas 20% no preço de venda nos obrigaria a vender 331% mais camisas para poder pagar todos os custos e zerar. Todavia, se para nós fosse impossível vender as 1.495 camisas por mês, mas tivéssemos capacidade de vender 700, por exemplo, então o preço de venda passaria para R$ 86,85, conforme o quadro a seguir:
 

 

 



Observe que esse pequeno aumento no preço, passando de R$ 80,00 para R$ 86,55 nos permitiria reduzir as unidades a vender de 1.495 para 700 camisas.

Esses exemplos dão bem a idéia da sensibilidade da variação provocada nas unidades a vender por uma variação nos preços.

Novamente, eu não consigo imaginar como duas empresas possam vender o mesmo item pelo mesmo preço, já que a probabilidade delas venderem mensalmente as mesmas quantidades é matematicamente inexistente.

Mas, se por R$ 86,55 fosse impossível vender, devido ao preço de R$ 80,00 da loja vizinha. E se nós não tivéssemos capacidade para vender as 1.495 camisas, mas no máximo 700, então não teríamos alternativas a não ser a de reduzir os Custos Fixos mensais da Empresa de R$ 5.000,00 para R$ 2.340,80, conforme demonstrado no quadro abaixo.

 

 



Por esse exercício simples feito com as tabelas acima já se pode observar que o preço de venda é resultante de uma complexa combinação entre o CDV - Custo Direto Variável, o RCDF – Rateio do Custo Direto Fixo, o RCIF – Rateio do Custo Indireto Fixo, as TAVP - Taxas ad Valorem ao PV - Preço de Venda; TAVL - Taxas ad Valorem ao Lucro; e UV - Unidades a Vender.

Com esses elementos, poderíamos estruturar uma formulazinha simples mais ou menos assim: PV = (CDV + RCDF + RCIF) / (100% - TAV’s%).

Como se pode ver, o custo informado pelo SESVESP (CDV) é apenas parte desse composto e é exatamente a parte que é igual para todos os concorrentes e que em todos os segmentos é amplamente conhecido por todos os concorrentes (no exemplo acima é o custo da camisa por R$ 50,00).

Assim, como não existe nenhuma probabilidade matemática de duas empresas terem os mesmos Custos Fixos Diretos e Indiretos ou mesmo de venderem exatamente as mesmas quantidades mensalmente, não existe nenhuma possibilidade de duas empresas praticarem o mesmo preço. Como eu disse anteriormente, se for igual, tem algo errado...

Vale ressaltar que até as Taxas ad Valorem não são exatamente as mesmas para todos os concorrentes, seja devido ao sistema tributário aderido, como à comissão que pagam sobre vendas, etc.

Como se pode ver, entre conhecer o CDV - Custo Direto Variável, divulgado pelo SESVESP aos associados, e estabelecer o Preço de Vendas, vai uma diferença entre o dia e a noite.

E, o que é pior, embora esses dois fatores se relacionem, na prática, eles não se correlacionam.

Em geral, os preços de uma empresa estão muito mais atrelados aos preços da concorrência do que dos seus próprios custos.

Isso é assim porque ‘repassar os custos para os preços’ é bastante complicado devido a que existem:

  • Custos imprevisíveis;
  • Custos previsíveis, mas que por algum motivo não são previstos;
  • Custos gerados por equívocos na tecnologia de cálculo;
  • Custos não muito visíveis e por isso, de difícil identificação;
  • Custos de depreciação de bens que, na maioria das empresas não são considerados como corresponderia;
  • Custos que muitas vezes não são considerados porque o seu pagamento será no futuro (diferido);
  • Custos contratados equivocadamente;
  • Empresas que são pródigas na contratação de custos;
  • Pressão da concorrência;
  • Pressão dos clientes;
  • Falta de preparo da equipe de vendas para justificar o preço;
  • Falta de economia de escala – poucas unidades vendidas;
  • Desperdícios, etc.

Para falar a verdade, até hoje eu nunca conheci uma única empresa que soubesse calcular seus preços corretamente. Deve haver, mas eu ainda não tive o prazer de conhecer.

Eu me dedico com afinco a essa tarefa há quase duas décadas e há uns 13 anos atrás cheguei a criar uma planilha de cálculo automático e científico de preços com base nos custos, unidades vendidas, taxas ad valorem ao preço e ao lucro, e margem de contribuição, sendo que implantei esse sistema em várias empresas comerciais e industriais.

Mas, dei um tempo porque, por um lado, é difícil as empresas terem disponíveis dados confiáveis para um trabalho desse tipo. E por outro lado, com a exuberância do desenvolvimento econômico mundial e brasileiro dos últimos oito anos, ninguém estava seria-mente preocupado com custos.

E, na área da segurança, onde me especializei, devido ao aumento brutal da criminalidade, vender nunca foi problema para as empresas.

As empresas veem crescendo quase sem fazer força. Na prática, o maior mérito de muitos empresários do setor foi o de montar a empresa e deixar que ela fosse arrastada pela forte correnteza do crescimento desse setor de segurança.

Então, para que pensar em custos se as novas vendas iam resolvendo o problema?

No momento de glória, muitas vezes a incompetência fica camuflada, porque crescendo em alta velocidade, a empresa, geralmente, presta pouca atenção na parte de custos.

Oxalá, agora que a ‘água vai baixar’, e as empresas vão precisar, as coisas também possam mudar.

Para finalizar, de todo o comentado acima, tem-se a nítida a sensação de se estar diante do viés ideológico tipo ‘proteger os fracos da elite opressora’, já que, naquela reportagem, o texto atribuído à Diretora do DPDE nos leva a essa percepção:

O atual presidente do sindicato, José Adir Loiola, e o vice-presidente, José Jacobson Neto, também serão investigados. As empresas que, direta ou indiretamente, participaram da ação do sindicato também poderão ser investigadas e se comprovada a participação em cartel serão multadas. O valor da multa pode variar entre 1% a 30% do faturamento de 2007’.

Ou seja, aquelas empresas denunciadas pelo SESVESP, supostamente a parte fraca, não foram investigadas, já que o que foi feito, não se pode chamar de investigação.

Agora, as empresas do Presidente e do Vice, que não teem nada a ver com a história, vão ser investigadas e com certeza, com ‘lupa eletrônica’.

Ainda, se as palavras entre aspas escritas no referido artigo, de fato, forem as mesmas ditas pela Diretora do DPDE à reportagem, “Essa questão é algo que deve ser analisado com muito cuidado para não se cometer injustiças”, então temos aqui um caso típico de ‘dois pesos e duas medidas’.

Pois o mesmo zelo que o CADE teve para ‘não se cometer injustiças’, com as empresas denunciadas, não teve em relação ao SESVESP e à pessoa do seu Presidente e Vice.

Ao tornar pública, através veiculação da reportagem no jornal, sua suposição de formação de Cartel por parte do SESVESP, simplesmente expôs a imagem dessa instituição, de seus diretores e associados à execração e estigmatização pública.

Uma entidade de classe como o SESVESP, que vem há anos trabalhando duro para for-mar e informar as empresas do setor, através de seus inúmeros cursos técnicos, palestras, fóruns econômicos, etc. e lutando para organizar e disciplinar esse mercado para o bem comum, tanto dos fornecedores como dos tomadores desse tipo de serviço, de re-pente, pode se vir alvo de chacotas e de perda de credibilidade junto aos seus associados e junto ao mercado em geral, por uma delação pública como essa.

É extremamente lamentável que esse tipo de condenação pública de pessoas jurídicas e físicas, que tem sido feita sistematicamente por agentes do Governo, com base em simples suposição e antes mesmo de a parte suspeita ser notificada, como foi o caso em pauta e, portanto muito antes do trânsito em julgado da eventual ação, ainda ocorra no Brasil de hoje, apesar de tantas críticas feitas a ela pelo próprio Ministro do Supremo Tribunal Federal e pelo próprio Presidente da República.

Não se ‘defende a economia’ desconstruindo a imagem das entidades patronais e destruindo-as financeiramente com pesadas multas. Mas, ajudando a aprimorá-las.

Quem sabe, quando o Brasil deixar de ser um país emergente e ingressar na ‘elite’ dos países desenvolvidos a gente possa ver algo diferente.

Prof. Faccin
 

 

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