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Como ganhar dinheiro no meio dessa ‘Guerra de Preços’ (Parte 7)
 

 

“Não palmilhe sempre o mesmo caminho, passando somente onde outros já passaram.
Ocasionalmente embrenhe-se na mata. Certamente, descobrirá coisas nunca vistas.
É claro que serão coisas insignificantes, mas não as ignore.
Prossiga. Explore tudo sobre elas. Cada descoberta levará a outra.
Antes do esperado existirá algo que mereça reflexão”.

Alexander Graham Bell

Na penúltima parte deste ensaio tratamos do tema diferenciação. Caso você não a tenha recebido poderá copiá-la diretamente do nosso site www.faccin.com.br  ou solicitá-la pelo e-mail professor@faccin.com.br

Como dissemos nela, para um custo agregado (diferencial) se transformar em valor agregado ele precisa satisfazer a uma necessidade relevante e complementar à necessidade básica do mercado, que ainda não esteja sendo satisfeita pela concorrência ou que esteja sendo mal satisfeita.

Nesta parte vamos abordar o tema ‘explorar as experiências dos parceiros’ como forma de:

     
1. Aprimorar os produtos e serviços já existentes, agregando-lhes diferenciais transformáveis em valores; e
     
2. Desenvolver novos e inéditos produtos e serviços.
Agora, existem, basicamente, duas maneiras de se fazer isso.
     
1. Explorando as experiências dos parceiros (a que vamos mostrar neste capítulo).
     
2. Observando criativamente o que está acontecendo, no Brasil e no Mundo, e que irá mudar o futuro imediato (vamos tratar na segunda metade desta última parte da série).

1. Explorando as experiências dos parceiros

1.1. Acompanhando a experiência dos clientes


Os experts em marketing chamam de ‘gestão da experiência do cliente’ a atividade de acompanhar as experiências dos clientes com os produtos e serviços da empresa.

O jargão de marketing, em si, é irrelevante. O relevante é que as experiências dos clientes com os produtos e serviços da empresa é uma fonte extraordinária de dados que nas mãos de um marqueteiro hábil e experiente pode se transformar em informações capazes de produzir insights valiosos.

A questão é que os clientes acabam usando os produtos e serviços da empresa de maneiras as mais inusitadas e em situações inimagináveis e impossíveis de serem previstas e reproduzidas pela empresa.

Isso dá a eles, clientes, uma vivência, experiência e visão da utilização do produto/serviço impossível de a empresa ter, por maior, melhor e mais equipados que sejam seus laboratórios de pesquisas e testes.

Sem dúvida, nenhum laboratório no mundo, por mais completo e sofisticado que seja, tem condições de reproduzir todas as experiências que os clientes realizam com os produtos e serviços da empresa nos mais diversos ambientes e nas mais severas e críticas situações.

Dessa forma, os clientes detectam benefícios, deficiências, dificuldades de uso, novas utilizações, necessidades insatisfeitas, etc. que as empresas não têm como perceber, por si só.

Assim, se a empresa abrir um canal de comunicação para ‘ouvir criativamente’ as experiências dos clientes com seus produtos e serviços, terá neles autênticos parceiros no aprimoramento dos
 
seus produtos e serviços atuais e até mesmo no desenvolvimento de novos e inéditos produtos e serviços. E o mais importante: gratuitamente...

Veja um exemplo de criação de um novo produto por sugestão gratuita de um cliente: a Dettecta, empresa de segurança sediada em São Paulo, era fabricante de portas giratórias para bancos e o seu proprietário, Fabrício de Araújo Sacchi, sempre mantinha um contato muito estreito com seus clientes. Almoçar com eles era uma prática corriqueira.

Num desses contatos, no início dos anos 90, um alto executivo da área de segurança de um importante banco lhe sugeriu fabricar um sistema composto de várias máquinas fotográficas atuando em série e simultaneamente que, ao ser acionado por qualquer tipo de sensor, rápida e automaticamente, tirasse as 36 fotos, de cada rolo de filme, dos bandidos em ação dentro das agências bancárias.

Ou seja, sugeriu que o Fabrício fabricasse um produto totalmente diferente da sua linha normal de fabricação e que nem de longe estava associado ao seu passado histórico.

Esse cliente havia constatado em seus cursos especiais de segurança feitos em Israel, Inglaterra e outros países, que a fotografia tradicional permitia uma excelente definição e nitidez de imagem; facilitava tirar cópias; permitia ampliação com qualidade; dispensava a utilização de equipamentos para visualização (complicado na época); junto com os negativos facilitava a produção de provas para eventual processo penal contra aqueles que fossem flagrados em ação criminosa de furto ou roubo; etc.

O Fabrício ficou matutando sobre essa idéia ‘maluca’ um bocado de tempo e por fim acabou criando o sistema Dettecta Phottos, que resultou num sucesso extraordinário de vendas mudando completamente a história econômica e industrial da sua empresa. Esse sistema foi instalado em centenas de agências de inúmeros Bancos em todo o Brasil.

A Delegacia de Roubos a Bancos, em trabalho conjugado com os Bancos, editou inúmeros álbuns e cartazes com fotos de meliantes em ação, solicitando informações a quem os conhecessem, dentre outras ações policiais desencadeadas a partir das fotos tiradas pelo Dettecta Phottos.

Obviamente, como ocorre com todos os produtos, a evolução da tecnologia trouxe vários recursos operacionais inovadores que esse produto, por suas características intrínsecas não tinha como incorporar, razão pela qual, hoje em dia, os Bancos passaram a optar pelo sistema de CFTV digital. Isso é assim mesmo com toda a tecnologia. Com o tempo é superada por novas.

Mas, veja que uma idéia oferecida gratuitamente por um cliente, rendeu muito lucro para a Dettecta e muitos benefícios para os bancos e seus usuários, já que esse produto foi responsável, junto com outras ações de segurança, pela redução dos assaltos nas agências bancárias (muitos bandidos foram identificados e presos).

A pergunta básica que se poderia fazer é: por quê esse cliente resolveu dar de graça essa dica tão valiosa para um determinador fornecedor e não para um outro fornecedor qualquer?

A resposta parece ser bastante óbvia: ele devia ter um relacionamento mais estreito, mais afável, mais empático e mais confiável com o cliente.

A gente gosta mais das pessoas que são simpáticas e cordiais, que são mais presentes em nossas vidas, que têm mais afinidades conosco, que têm mais semelhança, tendências combinatórias, coincidências de idéias, de interesses afins, etc. Também, gostamos mais das pessoas que são relevantes para a nossa vida pessoal ou profissional, que são empáticas (sentem o que nós sentimos) e que são autênticas.

Assim, para poder explorar as experiências dos clientes a empresa precisa se aproximar muito deles a ponto de torná-los seus melhores amigos.

Aliás, em minha opinião, os clientes são de fato os nossos melhores e talvez únicos amigos de verdade, já que eles são os únicos que pagam as nossas despesas no fim do mês...

 
Contudo, estreitar a amizade com os clientes é uma postura diametralmente oposta a da maioria dos vendedores que tiram o pedido e saem correndo. Às vezes o cliente precisa falar posteriormente com o vendedor e sequer sabe o seu nome.

Por seu turno, o normal é a empresa também se distanciar dos clientes, apenas mandando o boleto ou a fatura no fim do mês para ele pagar. Poucas tomam a iniciativa de contatá-los, ainda que seja uma única vez por ano.

O problema é que quando a empresa se afasta dos clientes, eles também acabam se afastando dela. Afinal, o que não é visto não é lembrado.

Infelizmente, a maioria dos contatos é feita por iniciativa dos clientes, devido a problemas, e por isso são normalmente tensos e altamente propensos a gerar insatisfações e cancelamentos de contratos.

Agora, para se aproximar amigavelmente dos clientes como corresponde, é preciso que os funcionários da linha de frente tenham muita habilidade no trato social.

Uma das competências mais valorizadas no mundo profissional, hoje em dia, é a inteligência social, já que ela possibilita uma maior interação e colaboração entre as pessoas, trabalho em equipe, etc.

Trabalhar em equipe significa não só saber ouvir criativa e interessadamente as idéias dos outros como também e principalmente estimulá-los a expor suas idéias.

É interessante que sempre que pedimos ajuda a alguém, se formos simpáticos e humildes, esse alguém procura nos ajudar com prazer porque, é da natureza humana querer ajudar as pessoas que nos são simpáticas e que nos pedem ajuda.

Agora, veja que interessante: normalmente, é a empresa quem procura solucionar os problemas dos clientes. Todavia, a proposta desse departamento de acompanhamento da experiência do cliente é também inverter esse processo, fazendo dos clientes a solução dos problemas da empresa.

Essa mudança de enfoque, apesar de óbvia não é tão simples assim de ser implementada, porque exige uma mudança de comportamento bastante significativa por parte da empresa.

Primeiro porque as empresas estão mais acostumadas a falar do que a ouvir e segundo porque, a soberba e não a humildade é a forma mais normal de a empresa se apresentar aos clientes (somos os melhores, os maiores, os líderes, temos a melhor tecnologia, sabemos tudo, etc...). Aliás, você já ouviu alguma empresa dizer que não é a melhor?

Agindo assim, cliente nenhum se atreveria a dar uma sugestão. Aliás, quem se atreveria a dizer a um sabichão o que é melhor para ele?

Esse departamento de acompanhamento da experiência do cliente exige uma inteligência social muito desenvolvida para poder aceder aos ‘pensamentos’ dos clientes, estimulá-los a falarem e a darem sugestões.

Por outro lado, é preciso considerar que não é tão comum assim os clientes entregarem de ‘mão tão beijada’ uma idéia pronta para a empresa como aquele executivo do banco entregou para o Fabrício. Na prática as idéias geralmente estão embutidas nas ‘reclamações’ dos clientes.

Ao estimular os clientes a falarem sobre as suas experiências com os produtos e serviços da empresa, o mais comum é ouvir eles destacarem principalmente os pontos negativos. Isso é normal. Então a empresa precisa estar preparada para ouvir as críticas que ela estimulou (cutucou a cobra, agora agüenta...).

Mas, são exatamente nessas críticas que estão ocultas as grandes oportunidades de aprimoramento dos produtos e serviços e também as grandes idéias para a criação de novos produtos e serviços, porque as melhores oportunidades, geralmente, se apresentam sob a forma de problemas ‘insolúveis’.

Uma idéia criativa freqüentemente resulta da operação de um único cérebro que liga dois conceitos, antes alheios, um ao outro.
 
 

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