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Um país que não aprende

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Eleito presidente da Bolívia em dezembro de 2005, Evo Morales anunciou a revisão dos contratos das petrolíferas, incluindo a Petrobras. Apesar das declarações, o governo brasileiro apoiou Morales. Seis meses depois, o governo boliviano ocupou refinarias da Petrobras e decretou a nacionalização dos campos de petróleo e gás. Ainda assim, o presidente Lula defendeu a atitude boliviana. Ao final, a Petrobras foi obrigada a entregar ao governo de Morales duas refinarias por 112 milhões de dólares — valor considerado baixo pelo mercado.
A tragédia evidenciou outra lição que o país insiste em não aprender -- a que diz que o desenvolvimento decorre de planejamento e trabalho duro.
O futuro precisa ser construído a cada dia, com metas precisas e definidas no tempo. "Estabelecer prioridades é meio caminho para melhorar a infra-estrutura e ajudar o cidadão.
Mas o poder público não dá a mínima para isso", afirma Renato Pavan, especialista em logística de transportes. "O crivo de onde pôr o dinheiro não pode ser político. Caso contrário, tudo vai para obras eleitoreiras."
A primeira tarefa de um bom gestor público deveria ser o mapeamento das necessidades em cada modalidade da infra-estrutura.
No setor de transportes, mesmo com os sinais de um iminente apagão nas principais vias de escoamento da produção, só no ano passado o governo Lula designou um grupo de trabalho para traçar um plano de desenvolvimento.
Não que os atuais governantes sejam, nesse aspecto, diferentes dos que os antecederam. Eles só insistem em perpetuar os erros do passado, seja por falta de vontade, seja por falta de competência.
Tome-se, uma vez mais, o exemplo do setor aéreo. "Não temos sequer um plano aeroviário no Brasil", afirma Adalberto Febeliano, vice-presidente da Associação Brasileira da Aviação Geral. "O governo investiu em terminais de passageiros modernos e até luxuosos, que dão visibilidade política, mas não construiu a ter-ceira pista do aeroporto de Guarulhos, que já deveria estar pronta." Nos últimos anos, os aeroportos das principais capitais tiveram seus terminais de passageiros ampliados e transformados em vistosos shopping centers. As reformas e as ampliações de pistas, quando consideradas, foram deixadas por último. E os equipa-mentos de controle ficaram relegados ao sucateamento.
A OPERAÇÃO DO AEROPORTO de Congonhas até o acidente é um exemplo acabado desses problemas.
Ainda não se sabe ao certo quanto a má qualidade da pista de Congonhas contribuiu para a tragédia. Mas nada justifica o fato de que o mais movimentado aeroporto da América do Sul combine tantas condições adversas: tem pistas curtas, recebe aeronaves de grande porte, opera acima da capacidade (recebeu no ano passado 18 milhões de passageiros, em vez dos 12 milhões que deveria), está localizado em uma área densamente povoada e, para completar, apresenta problemas de conservação das pistas.
"Juntas, essas condições praticamente acabam com a chance de corrigir uma eventual falha num pouso", afirma Cláudio Jorge Alves, professor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).

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